domingo, 12 de outubro de 2014

Produção industrial cresce pelo 2º mês seguido


Depois de um primeiro semestre em baixa, a produção industrial voltou a crescer em agosto. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve aumento de 0,7% ante julho, na série com ajuste sazonal, depois de o setor já haver registrado expansão de também 0,7% em julho. Em junho, com feriados extras e uma suspensão de compras e produção por conta da Copa, a produção industrial havia caído 1,6% após sequência de retrações desde março. O resultado ficou acima da média de 0,1% prevista por 19 instituições financeiras e analistas consultados pelo Valor Data. Segundo os economistas consultados pelo Valor, a profusão de indicadores difusos em agosto pode ter sido uma das bases para a diferença entre as projeções: o fluxo de veículos pesados nas rodovias, por exemplo, dado que serve de termômetro para o movimento de mercadorias e da atividade, teve queda no mês, enquanto outros, como expedição de embalagens e consumo de energia na indústria, que também dão indicações do nível de atividade, registraram alta. Apesar da surpresa positiva, os especialistas concordam que a alta é um fato isolado e com pouca força para ser considerada uma recuperação. A fraca base de comparação e o fato de o crescimento em agosto ter sido concentrado principalmente em alguns setores ligados à atividade extrativa são elementos que limitam o otimismo. "Houve melhora em relação a um passado recente, mas isso não reverte as perdas, a comparação é com uma base bem baixa. Esses resultados não suplantam sequer a perda isolada de junho", avalia o gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo. "Há uma lenta demanda doméstica, devido ao encarecimento dos produtos e à restrição do crédito. O cenário para exportação é adverso e, ao mesmo tempo, há maior presença de importados. Além disso, a variável estoques afeta grande parte do setor industrial. Esses fatores, que afetam a indústria há algum tempo, não foram dissipados", diz Macedo. Rodrigo Nishida, analista da LCA Consultores, destaca o fato de que boa parte do crescimento está ancorada nas indústrias de extração e de petróleo e gás. De julho para agosto, a alta da indústria de extração foi de 2,4%, enquanto a indústria de transformação cresceu apenas 0,2%. Na comparação sobre agosto do ano passado, a discrepância é ainda maior: a indústria extrativa cresceu 7,6%, enquanto na indústria de transformação há queda de 6,8%. Dos 5 segmentos que a compõem, o de coque e derivados do petróleo foi um dos únicos três a registrar (5,3%). No total, a indústria caiu 5,4% nessa base de comparação. "São a indústria extrativa e o refino de petróleo que vêm segurando o resultado. Os dois tiveram quedas fortes no ano passado e agora estão se recuperando, além de dependerem menos da demanda do que os outros setores", explica Nishida. Ele cita a entrada em operação de novas plataformas de petróleo da Petrobras do fim do ano passado para cá". Na previsão da LCA, os resultados dos próximos meses podem oscilar, mas o ano deve terminar com queda de 2,5% a 3% sobre 2013. Rafael Bacciotti, responsável pela análise do setor industrial da Tendências Consultoria, também relativiza os resultados positivos dos últimos dois meses. "Não há sinais tão claros de reversão", diz. "Os próximos meses devem ser de altas, mas de forma mais moderada do que se imaginava que pudesse acontecer com o fim da Copa. Os indicadores disponíveis para setembro ainda não sinalizam uma retomada consistente." Bacciotti cita o indicador de confiança da FGV e o PMI industrial brasileiro, índice de atividade do banco HSBC, ambos com queda em setembro. Além disso, mesmo o resultado de alta em agosto indicou alguma piora em relação a julho: naquele mês, o crescimento de 0,7% havia sido sustentada por 83,3% dos segmentos verificados, enquanto em agosto o percentual caiu para 58,3%. "Ainda temos a maioria crescendo, o que é positivo, mas esse crescimento ficou mais concentrado", diz Bacciotti. A previsão da Tendências é que a produção industrial encerre 2014 com queda de 2% ante 2013, o que já pressupõe alguma recuperação principalmente no último trimestre - no acumulado do ano até agosto, a queda é de 3,1%. Em 12 meses, a produção industrial é atualmente 1,8% menor que nos 12 meses encerrados em agosto do ano passado.
Valor Econômico
03/10/2014

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