quarta-feira, 2 de março de 2011

De novo, juros são a "solução"

Samir Keedi - 1/3/2011 - 20h29

Elá vamos nós!, como dizia a bruxa de um desenho animado do Pica-Pau, dos velhos tempos de criança. A insistência com que este País anda na contramão é estarrecedor. Novamente, porque a economia começou a dar mostras de recuperação, foi ressuscitada a política de aumento da taxa de juros. Que começou desde a primeira reunião do novo governo.
E, com certeza, continuará em ascensão ao longo do ano.
Tudo por medo da inflação. Parece que nunca vamos aprender que a economia tem infinitos instrumentos para seu combate, além da taxa de juros. Que, aliás, é um dos piores instrumentos para isso. E sem considerar que a economia não é só inflação. Há muito mais.
Ao manter a taxa alta, além do necessário, prejudicamos o investimento e encarecemos as compras a prazo – provocando, justamente, inflação.
A inflação brasileira nunca foi, ao menos nas últimas décadas, de demanda, mas de custos. Já passou da hora de termos verdadeiros economistas pilotando a economia e não aventureiros ou desconhecedores desta importante matéria.
Nas reuniões do Copom, recomeçamos a beber num "copão" mais um pouco da extensa sabedoria do nosso Banco Central. O que pode ir longe, até embebedar-nos, já que continuará aumentando a taxa Selic, como se esta não fosse astronomicamente alta.
Na mais recente reunião da "Banca dos Juros" (sic), a Selic foi elevada para mais de 11,0%, já beijando, na boca, os 12%. Mesmo sendo alta, todos sabem que não comanda a economia no seu nível, já que ela é apenas a taxa básica, que determina o nível dos empréstimos do BC. As demais taxas da economia, variantes da Selic, são indecentes e vergonhosas, variando de 30% a mais de 200% ao ano.
Menos na opinião dos bancos, que agem de forma mais vergonhosa que a própria taxa de juros, muitos pensando que a economia é um brinquedinho de seu bel-prazer.
Como a meta da inflação para 2011 é de 4,5%, mas deve ficar em cerca de 6,,0%, todos percebem logo que, embora se diga que é das mais baixas em todos os tempos, a Selic é estratosférica. E sempre a mais alta do mundo.
Ela representa 150% da inflação projetada. Portanto, em pontos percentuais, seu excesso é bem mais do que a própria inflação esperada. No restante do mundo está bem abaixo. Em muitos países, a taxa de juros é negativa, como nos EUA e Japão. Vai ver que esses estes países não devem contar, pois nunca tiveram tantos economistas Prêmio Nobel como nós. Nem criaram história e compêndios de economia, como nós já fizemos e que servem de guia ao mundo. Isso mostra que estamos sempre tentando reinventar a roda.
Este é um momento importante de recuperação da economia, iniciado em 2010, após o tombo mundial de 2008/2009. É a hora em que as condições econômicas devem ser adequadas à retomada do desenvolvimento.
A economia brasileira, por exemplo, precisa crescer no mínimo 7% ao ano – e não é o que se projeta – para que possamos criar os empregos necessários. Não estes "de papel", que o governo anuncia periodicamente e que já denunciamos firmemente. Em que o governo chama as reposições ou registros em carteira de geração de emprego. Mas continuamos, com baixíssimos cerca de 35 milhões de carteiras assinadas. E sem explicação oficial.
Os economistas e a imprensa continuam hibernando.
Um crescimento de 7% depende de um investimento bastante alto e este depende da taxa de juros, obviamente. Com dinheiro caro, não há como investir adequadamente. Resultado disso é que o Brasil, desde 1995, tem taxa média de investimento de 17% do PIB. Qualquer economista sabe que com esta taxa, abaixo do mínimo de reposição, não é possível crescer seguidamente, ou, pelo menos, crescer o necessário.
O resultado é bem conhecido: desde 1980 o País não consegue acelerar o carro. sempre andando em primeira e segunda marchas. Algumas vezes, utilizando a ré. Em alguns anos conseguimos chegar ou passar da terceira marcha, mas a média geral das três décadas, isoladas ou em conjunto, é um desastre total.
A média geral das três décadas é de cerca de 3% ao ano, muito abaixo das nossas necessidades. Assim, o que temos recebido em troca é bem conhecido, dispensando argumentações. Está tudo registrado e pode ser verificado pelos interessados por várias formas.
O que o país precisa é de uma redução drástica da taxa de juros. Precisa acompanhar o mundo, cuja média, antes da crise, era no máximo de 2 pontos percentuais acima da inflação.
Com isso, fica claro que nenhuma taxa acima de 6% a 7% é aceitável. E, no nosso caso, como precisamos crescer, o ideal é que ela seja negativa. E nem precisamos chegar a tanto.
O controle da inflação pode ser feito de várias formas, como com uma política para o depósito compulsório. ou prazos de financiamentos de bens. Mexendo-se com os meios de pagamentos, com o dinheiro em circulação, pode-se obter o mesmo resultado de controle.
Com a vantagem de permitir que a economia invista.

Samir Keedi é economista, professor universitário e da Aduaneiras, consultor, escritor e autor de vários livros em comércio exterior, e membro da CCI-Paris na revisão do "Incoterms 2011".
samir@aduaneiras.com.br

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