quinta-feira, 17 de março de 2011

Ministérios de sobra. E o Mincex?

Opinião Samir Keedi - 16/3/2011 - 21h28
Ministérios de sobra. E o Mincex?
Ninguém duvida da capacidade do comércio exterior em mudar a economia de um país. E o Brasil continua sem tradição na área. Vamos fazendo, sem saber porque e como fazer.
O governo está criando seu 38º ministério, o da pequena e média empresa. Somos o país dos impostos e, agora, também o dos ministérios. Criados a torto e direito. Há que se beneficiar os apaniguados, os derrotados e enxotados pelo povo nas eleições. Afinal, os camaradas também são "gente". Tem de ter seu direito – de abusar do povo –, devidamente preservado e respeitado.
Pegando o gancho num artigo do colunista Carlos Heitor Cony, da Folha, queremos expandir o conceito de bem estar dessa gente. Assim, vamos sugerir, como ele fez, a criação de mais alguns ministérios. Na área de transportes e logística ele bem colocou a criação do Ministério dos Trilhos e Dormentes e de Quilhas e Guindastes Portuários. E o de Viadutos e Pontes. Assim, podemos acabar com o desemprego que ainda assola o país. Pelo menos o daquelas pessoas menos capacitadas, que não têm espaço no mercado: as que o povo não quer e enxotou nas eleições.
Expandindo a excelente idéia do colunista, poderíamos sugerir outros, como o Ministério dos Presidentes Aposentados, com a finalidade de lhes dar bem estar, conforto, mais mordomias etc. Afinal, sempre concordamos em pagar gastos supérfluos. Ops, gastos governamentais.
Também um Ministério dos Candidatos à Presidência da República, para dar-lhes o apoio necessário, com doações do povo. Todos os brasileiros, sem exceção, se tornariam doadores – de todos, sem discriminação.
Podemos pensar num Ministério de Garagens e Veículos, usados pelos executivos do Planalto, inclusive dos ministros. Afinal, eles têm de se preocupar com seus afazeres e com o País, e não com estas coisas menores.
Com um pouco de criatividade, poderíamos sugerir mais ministérios inúteis, para facilitar e melhorar a vida dessas pessoas que, estranhamente, os eleitores renegaram nas urnas.
Enquanto isso, estamos há mais de uma década pedindo um Ministério do Comércio Exterior - Mincex. Ou um Ministério do Comércio Exterior e da Logística – Mincelog. Este parece mais nome de remédio, e quem sabe seria a fórmula para curar nossos males. Mas o governo jamais cogitou algo parecido.
No Brasil, segundo estudos já de alguns anos da Fundação Getúlio Vargas, temos mais de 300 órgãos lidando com comércio exterior, e cerca de uma dezena de ministérios com ingerência nele. Para um país que quer se desenvolver, essa não é a fórmula correta.
Como se sabe, uma das melhores formas de desenvolvimento do país é o comércio exterior. É só analisar vários países, como – para variar – a China. (É impossível deixar de falar nesse país: são tantos os motivos para isso, que começo a pensar que também somos Made in China. Estamos procurando a etiqueta e nos olhando no espelho para tentar achar algum vestígio). Enfim, basta ver o que aconteceu com eles de 1979 para cá e o que aconteceu conosco.
Ninguém tem dúvida sobre a capacidade do comércio exterior mudar a economia de um país. E o Brasil continua sem qualquer tradição na área. Nós apenas vamos fazendo, sem saber direito porque e como fazer. Vamos na onda, que no momento é desastrosa. A China precisa de commodities agrícolas e metálicas, e aí estamos nós para "ajudar". Com isso, de novo, a partir de 2009 (após sair disso em 1974), voltamos a ser exportadores de commodities. Que superaram os manufaturados.
Esse é um risco enorme às nossas pretensões de grande nação. Assim, continuamos apenas uma nação grande. É possível ver os movimentos da China para deixar de ser um importador de commodities, em especial de poucos países e do Brasil. Ela tem investido muito na África, que é bem mais perto. Um Mincex ou Mincelog, poderia dar uma contribuição muito positiva.
Brasil, acorde. Já dormimos demais. O País não precisa mais do que uns 20 ministérios. E adequados.
Não dá para levar a sério um conjunto de ministérios que tenha o que tem, e nele falte o Mincex.
Samir Keedi é economista, professor, autor de vários livros em comércio exterior e membro da CCI-Paris na revisão do Incoterms 2010.
samir@aduaneiras.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Galeria de Vídeos