Vários fatores vêm pressionando os custos logísticos e elevando-os a patamares nunca antes vistos. Esse fenômeno é mundial, e afetará todos os segmentos da indústria, atacado e varejo, influenciando em alguns casos, o nível de competitividade das empresas e a relação de poder e influência no mercado.
Abaixo relaciono os principais fatores que colaborarão para o aumento dos custos nos próximos anos, e que deverá ser alvo de profunda análise em cada empresa, para o desenvolvimento de medidas preventivas.
Mobilidade urbana e a dificuldade de entrega nas grandes cidades
O problema da difícil mobilidade nos grandes centros urbanos afeta a todos diretamente ou indiretamente. Em grandes cidades como SP e RJ, a velocidade média no período de pico é inferior a 15 km/h; outras cidades como BH, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Manaus, Salvador e Recife também apresentam problemas e em breve enfrentarão as mesmas dificuldades das grandes metrópoles. As restrições impostas aos caminhões pesados e semi-pesados obrigam a utilização de veículos leves e semi-leves, de menor capacidade e de custo operacional muito mais alto. Resumindo, necessita-se de muito mais veículos para a realização da operação, onerando de forma significativa os custos das entregas.
A resposta do poder público ao problema é lenta e ineficaz, e os municípios têm adotado cada vez mais medidas restritivas na tentativa de amenizar o problema. Essas medidas são paliativas, e não resolverão o problema da dificuldade de locomoção nas grandes cidades.
Em 2.010 foram comercializados mais de 3,5 milhões de veículos 0 km, 11,9% a mais quando comparado com 2.009; isso representa mais de 9.500 novos veículos por dia circulando nas ruas brasileiras. Ainda foram vendidas mais de 1,8 milhões de motocicletas.
Enquanto isso, o PAC 2 destinará apenas R$ 18 bilhões para incrementar a infra-estrutura do transporte público coletivo nas 24 maiores cidades do País.
O que pode ser feito para reduzir as desastrosas conseqüências da baixa mobilidade urbana? Quase nada, infelizmente. É um problema extremamente complexo, que apenas será resolvido com pesados investimentos do setor público em transporte coletivo (de qualidade) e em novas obras viárias.
Gargalos na infra-estrutura de transportes
Estamos à beira de um novo apagão logístico!
Os problemas relacionados à falta de investimentos em infra-estrutura de transp são visíveis por toda parte. Mais de 60% de nossas cargas utilizam exclusivamente o modal rodoviário e o poder público tem investido 5 a 6 vezes menos do que o necessário na recuperação, manutenção e ampliação da estrutura viária. Enquanto que o PAC previu investir até R$ 33,4 bilhões, a CNT sinalizava a necessidade de uma verba ao redor de R$ 125 bilhões. Na prática, nem alcançamos a cifra estimada no PAC.
Na prática, também há muito pouco a ser feito. Tanto Embarcadores como Transportadoras e Operadores Logísticos, assistirão de forma passiva e resignada aos efeitos de uma má gestão dos recursos públicos.
Escassez de motoristas
Além dos problemas relacionados à mobilidade urbana e infra-estrutura de transportes, outro problema, igualmente relevante, preocupa o setor logístico: a escassez de motoristas. O déficit atual já é de mais de 130 mil motoristas e deverá aumentar ao redor de 10% ao ano nos próximos anos. Infelizmente não há uma solução simples de curto prazo. Com isso, o mercado não conseguirá atender de forma elástica à demanda do mercado, afetando diretamente os preços dos fretes.
A falta de motoristas é um problema de todas as partes envolvidas na gestão e operação da cadeia logística. A tarefa mais complexa caberá às Transportadoras, responsáveis pela captação de recursos no mercado, desenvolvimento e retenção.
Recuperação de defasagens nas tarifas de fretes
As Transportadoras acumulam grandes defasagens em suas tarifas desde 1.995. Nos últimos quinze anos, o combustível, principal custo operacional e que representa 30% a 35% do custo total, variou cerca de 500% nesse período.
Outros custos relacionados ao próprio veículo (depreciação e remuneração do capital), pneus e peças para a manutenção também pressionam a rentabilidade do setor, afetando a saúde financeira das empresas e a sua capacidade de investimento, que é contínua, em função da renovação da frota, ampliação de terminais de carga e formação e retenção de mão-de-obra qualificada.
Transportadoras e Embarcadores precisarão atuar de forma colaborativa e identificar ações de rápida implantação quer permitam reduzir os impactos da defasagem de custos existentes.
Aumento da logística reversa
De coadjuvante a protagonista, a logística reversa está se tornando um dos principais motivos para as “dores de cabeça” dos profissionais da área de logística.
Extremamente custosa, o volume movimentado na logística reversa aumenta ano após ano, impactando diretamente na produtividade e nos custos dos Centros de Distribuição, além de gerar despesas administrativas em função dos controles necessários.
O fluxo reverso parte da coleta do material, envolve o recebimento, inspeção, triagem e classificação. Dependendo do estado do material, ele poderá ser descartado ou reaproveitado, podendo existir a necessidade de reparo. Em paralelo, existe um complexo controle documental, que envolvem questões fiscais, lançamentos contábeis, laudos técnicos e atualizações nos sistemas operacionais
De imediato, é preciso criar indicadores específicos para o monitoramento do fluxo reverso e examinar detalhadamente cada ocorrência, para identificarmos possíveis oportunidades de melhorias.
No médio prazo será preciso rever a infra-estrutura existente e o modelo operacional, além de definir políticas claras para a gestão do fluxo reverso.
Encarecimento da mão-de-obra
Faltam recursos qualificados, e em todos os níveis. Faltam auxiliares operacionais, conferentes, operadores de empilhadeira, líderes operacionais, supervisores, analistas, especialistas e até gerentes!
Devido à intensificação da competição pelos melhores talentos no mercado e à lenta reposição devido às escassas fontes de suprimento, os salários dos profissionais da área de logística deverão subir bem acima da inflação, e como um dos principais componentes do custo logístico, tanto em transportes como nas operações de movimentação e armazenagem, colaborarão diretamente para o aumento dos custos.
O que fazer? Você até poderá desenvolver sofisticados mecanismos de retenção de talentos, mas não estará livre do assédio e promessas de outras empresas.
No fundo, todos nos transformaremos em concorrentes, não na disputa dos mesmos mercados, mas na luta pelos melhores recursos humanos.
Escrito por Marco Antonio O. Neves, diretor da Tigerlog Consultoria
03/03/2011
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