segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
"A crise do setor é um teste de resistência"
Presidente do Grupo VW defende seu salário milionário e garante que a empresa continua forte, apesar da Europa.
Com base nas regras de remuneração, a estimativa é de que seu salário foi de 20 milhões em 2012. O sr. acha razoável?
Se eu ganhasse de fato 20 milhões, seria difícil explicar isso às pessoas. Não importa o quão bem sucedida é a empresa, aumentos salariais não podem ser ilimitados. Por isso, acho que o correto é o conselho de administração mudar as regras de remuneração dos executivos.
Por que o Grupo VW adotou regras que tornam possíveis salários astronômicos como o seu?
Nossas bonificações não são pagas com base nos próximos resultados trimestrais, mas usando critérios de longo prazo: vendas e lucros, e também a satisfação do cliente e dos empregados. Existem metas ambiciosas para tudo. No entanto, na época, ninguém esperava que a empresa iria se desenvolver de maneira tão espetacular.
O sr. fala como se os 20 milhões fossem um acidente industrial. Se é o caso, poderia ter doado parte do salário, como fez o ex-CEO da Porsche.
Meus colegas membros da diretoria e eu doamos vários milhões de euros no passado. Mas não faço alarde disso, porque fazer doações não é a solução. O mais sensato é o conselho reexaminar a remuneração dos executivos.
Há muita coisa a fazer na Volks. As vendas do mais importante carro da empresa, o novo Golf, não andam bem e as revendedoras já oferecem grandes descontos por ele.
Um momento! O novo Golf teve um excelente início de vendas. Já temos encomendas de mais de 120 mil veículos. Tivemos de criar turnos extras de trabalho. E de acordo com um estudo do Morgan Stanley, a Volks oferece os menores descontos em comparação com outras montadoras europeias.
A crise do setor automobilístico europeu também chegou à VW. Na fábrica de Emden, onde o Passat é montado, a semana de trabalho tem sido de quatro dias. Quão ruins estão as coisas para a Volkswagen na Europa?
Não há semana de quatro dias em Emden. Paramos com a produção alguns dias aqui e lá. Mas você está certo. O mercado europeu está brutalmente fraco no momento. Muitos mercados individuais vêm registrando quedas históricas, como Itália, França e Espanha. E não há esperanças de uma rápida recuperação. Naturalmente, como montadora número um na Europa, fomos afetados. Mas continuamos a crescer, especialmente na China, EUA, América do Sul, Índia e Rússia.
Os descontos oferecidos diretamente pela VW mostram que vocês também estão sob pressão na Europa.
Naturalmente, como todos os nossos concorrentes, tentamos fortalecer nossa posição de mercado na Europa com ofertas especiais. A crise é um teste de resistência para todas as fabricantes. Mas não somos nós que estamos conduzindo os descontos.
O CEO da Fiat disse que a VW está tentando criar um "banho de sangue" com os descontos.
Não pretendemos encostar ninguém contra a parede. Mas também não nos envergonhamos do sucesso com nossos carros. Estamos nos beneficiando do fato de termos agora um sistema de chassis com o qual podemos produzir uma ampla série de modelos para nossas marcas com base num único suporte técnico. Esses carros são completamente diferentes. Mas os custos unitários devem cair 20% e o tempo de produção vai diminuir ainda mais. O que nos oferece liberdade para investir em inovação e novas tecnologias, como também lucrar com os modelos especiais.
Diante da crise na Europa o sr. conseguirá alcançar sua meta de tornar o Grupo VW a maior montadora do mundo em 2018?
Mantemos a meta. Sempre entendemos que o crescimento não vai se dar primariamente na Europa, mas na China, Rússia e Américas do Norte e Sul. Temos de lutar ainda mais nesses mercados também.
Os carros de baixo custo, que custam menos de 8 mil integram um segmento que cresce nesses mercados. Mas a VW não tem produtos nessa categoria. Quando o sr. vai mudar isso?
Uma decisão definitiva ainda não foi tomada. Mas pretendemos desenvolver um carro barato que custe entre 6 mil 7 mil. Só na China, mais de três milhões de carros podem ser vendidos por ano nesse segmento. Na Índia, um milhão.
Seu contrato expira em 2016, quando o sr. estará com 68 anos. Pretende continuar mais um pouco e se aposentar aos 70?
Meu trabalho é de fato exaustivo. Por exemplo, recentemente segui de avião para Detroit para participar de um salão do automóvel num domingo. Na manhã de segunda, parti para o México e no dia seguinte estava em Wolfsburg para a reunião da diretoria executiva. Na mesma noite voei para a Suécia, onde fomos testar modelos novos. Mas gosto imensamente do que faço. Com certeza continuarei algum tempo mais, enquanto me sentir em boa forma. O desenvolvimento da próxima geração do Golf...
Que deverá ser lançado em 2018...
...é algo de que eu gostaria de participar. / T.M
Fonte: O Estado de São Paulo - SP
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