terça-feira, 5 de março de 2013
A questão não é mais a demanda e sim a oferta
Do ponto de vista econômico, o ano começa sob o efeito das inúmeras intervenções ocorridas no ano passado. Uma das heranças é o patamar da taxa de câmbio, que subiu de R$ 1,70 para R$ 2,00, com as atuações do Banco Central (BC) e as inúmeras declarações do ministro da Fazenda Guido Mantega. Na área do consumo, houve a redução do Imposto sobre Produtos Industralizados (IPI) para automóveis a fim de aquecer a indústria e, por fim, o governo segurou forçadamente o ajuste do combustível, afetando as ações da Petrobras, que perdeu R$ 180 bilhões, nada menos que 50% do seu valor de mercado, em dois anos.
Apesar do empenho em criar medidas, a equipe econômica parece insistir em remédios que perderam efeito, e deixa de lado o que realmente deveria fazer. Desde a recessão sofrida pelo Brasil em 2009, a estratégia do governo se resume a estimular o consumo, seja pela redução de impostos ou pela expansão da oferta de crédito.
Medidas desse tipo foram bem-sucedidas para tirar a economia brasileira da recessão e fizeram a variação do Produto Interno Bruto (PIB) passar de uma retração em 2009 para um crescimento de 7,5% em 2010. No entanto, o combustível desse motor acabou. A população brasileira agora está mais endividada, não há mais espaço para redução do desemprego e não há perspectiva de crescimento futuro. Assim, o tão sonhado "Pibão" da presidente fica cada vez mais distante.
Além de termos um crescimento baixo, temos inflação alta, em outras palavras, o pior dos dois mundos
Os números não mentem: em 2012 amargamos, em berço não tão esplêndido, o pífio PIB de 0,9%, e a projeção de 2013 já está em 3%, um número baixíssimo para um país em desenvolvimento. Mas ainda há tempo de refletir e mudar o curso.
Enquanto o governo estimula o crédito e o consumo desenfreados, ele alimenta o velho e cada vez mais presente fantasma do custo Brasil. Com uma infraestrutura capenga, os puxadinhos criados dia após dia (como intervenção no câmbio e controle forçado de preço do combustível) perdem a eficácia e tentam tampar o sol com a peneira.
Para termos uma dimensão de quanto o Brasil deixa a desejar, basta fazermos uma comparação. De 2007 a 2012 o nosso país fica em último lugar em matéria de crescimento quando comparado com alguns vizinhos sul-americanos: Chile, Peru e Colômbia.
No período citado o Chile cresceu em média 4,2%; a Colômbia, 4,4%; o Peru, 7%; e o Brasil, apenas 3,7%. O crescimento maior não veio à toa. Enquanto os outros países investem no mínimo 27% do PIB, o Brasil investe míseros 19%.
Num país que sofre com problemas de infraestrutura, investimento é essencial para gerar crescimento sustentável e deveria ser o grande estímulo do crescimento no Brasil. No longo prazo todos sabemos que esse investimento expande a oferta e melhora a infraestrutura mas ele também estimula demanda por produtos e mão de obra no curto prazo.
No entanto, apesar da vontade da presidente Dilma em aumentar o nível de investimento, o governo claramente não consegue. Apesar de PAC I, PAC II e incentivos fiscais o governo esbarra na incompetência da máquina administrativa, na burocracia estatal e na desconfiança dos empresários e falha ao tentar estimular o investimento. Mesmo com tanta retórica, o investimento caiu seguidamente em quase todos os trimestres do atual governo.
As medidas econômicas paliativas nos deixam longe do nosso impávido colosso e em situação cada vez mais preocupante. De 2007 a 2012, o Peru cresceu 43%; o Chile, 23%; e a Colômbia, 22%. Enquanto isso, o Brasil cresceu apenas 20%. Para quem achar que vale uma comparação mais fiel com países emergentes, nos últimos dez anos, o PIB da China cresceu 170%; o da Índia, 115%; e o do Peru, 88%. No Brasil apenas 43%.
Não bastasse esse baixo crescimento, quando comparamos com os demais países temos uma inflação muito mais elevada. Enquanto no governo Lula o Banco Central se concentrava em controlar a inflação, o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, tenta fazer o que o governo não consegue: fazer o Brasil crescer. Para tal, ignora o seu principal objetivo, que é fazer a inflação convergir para meta de 4,5%, e se contenta em não vê-la ultrapassar o teto de 6,5%.
Como resultado temos um BC que também tenta estimular a demanda ao baixar os juros e deixa a inflação subir para níveis altos e persistentes, que começam a ficar preocupantes. Assim, além de termos um crescimento baixo, temos inflação alta, em outras palavras, o pior dos dois mundos. Aqui vale mais uma comparação com os nossos vizinhos que crescem mais do que a gente: o Brasil teve uma inflação média de 5,5% de 2007 a 2012, enquanto Colômbia teve de 4,2%, o Chile, de 3,9%; e o Peru, de apenas 3,4%.
Por que isso vem acontecendo? Porque estamos usando um modelo ultrapassado...
Desde a nova Constituição de 1988, o Brasil adotou um modelo de crescimento conhecido como os 3 C's: crédito, consumo e commodities cujo foco é o incentivo da demanda.
É um fato que esse modelo funcionou parte do tempo, como no caso do governo Lula, quando havia crédito disponível para oferecer grandes possibilidades de crescimento num momento em que o preço das commodities não parava de subir. Também havia um grande contingente de pessoas desempregadas que quando entraram no mercado de trabalho passaram a consumir mais e estimularam a economia. Agora, o desemprego está na mínima histórica e para gerar mais empregos precisamos aumentar a produtividade do trabalho e não aquecer a demanda.
No entanto, com a crise nos Estados Unidos e na Europa, esses modelos não são mais suficientes. Não por coincidência, essas medidas do governo de incentivo à demanda não têm gerado os resultados esperados.
Não há mais como crescer sem investir. Somente com uma infraestrutura melhor nossos produtos se tornarão mais baratos. Somente com impostos menores nossos empreendedores terão incentivos a investir. Em outras palavras, temos que pensar menos nas próximas eleições e mais nas próximas gerações. Só então não será mais necessário criar esses puxadinhos econômicos, pois a questão agora não é mais a demanda e sim a oferta.
Samy Dana é professor da escola de economia da FGV-SP
Leonardo de Siqueira Lima é economista pela EESP-FGV
Daniel de Lima é aluno da EESP-FGV
Fonte: Valor Econômico - SP - ***
Por: Samy Dana, Leonardo Lima e Daniel de Lima
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário