terça-feira, 19 de março de 2013

Gestoras buscam ações de empresas de infraestrutura

A ênfase que o governo federal dará este ano aos investimentos em infraestrutura, evidenciada pelas novas concessões e mudanças de regras em setores como portos, rodovias e ferrovias, levou gestores de recursos a ficarem mais atentos a ações ligadas a estes segmentos, tendo em vista o potencial retorno de longo prazo. A dificuldade enfrentada, no entanto, é a escassez na bolsa de papéis de companhias com negócios ligados à infraestrutura . Por isso, o movimento está inserido na já conhecida estratégia de olhar oportunidades em companhias que se beneficiam do aquecimento da demanda doméstica. Estão sob análise empresas como a Santos Brasil (portos), Arteris (rodovias) e CCR (rodovias, mobilidade urbana e serviços). O que motiva as gestoras de recursos são as megalicitações que serão conduzidas pelo governo federal nos próximos meses, incluindo leilões de 10 mil quilômetros de ferrovias, 7,5 mil quilômetros de rodovias e o trem de alta velocidade entre Rio, São Paulo e Campinas. Também haverá licitações de dezenas de áreas arrendadas nos portos públicos e autorização de novos portos privados, que ocorrerão após a tramitação da Medida Provisória 595, a MP dos Portos. "O governo já deixou claro que vai focar mais este ano nos investimentos em infraestrutura, tendo como beneficiários as indústrias de bens de capital, construção civil, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos", diz Otávio Vieira, sócio da Fides Asset Management. "Nossa estratégia leva em conta esses fatores." As concessões do governo federal que têm como objetivo mitigar gargalos logísticos poderão representar oportunidades para algumas empresas listadas na bolsa. A aposta de Eduardo Roche, analista da Modal Asset Management, é a Santos Brasil, operadora de contêineres que detém concessões de importantes terminais no Porto de Santos (SP) e em cidades como Guarujá (SP) e Imbituba (SC), entre outras. Como a companhia é líder de mercado, a expectativa é que tenha vantagens sobre os concorrentes ao participar de novas licitações. "A MP vai aumentar a concorrência, mas isso não deve afetar a empresa, que é referência no setor", diz Roche. O analista vê como positiva a iniciativa do governo de incentivar investimentos e modernização nos portos. Ainda sob discussão, a MP é alvo de crítica de sindicatos de trabalhadores avulsos (sem vínculo empregatício) e de empresários. Apesar do otimismo de alguns, há gestores hesitantes a comprar ações que podem ser impactadas pela MP, já que ainda há "muito que se resolver" sobre o tema. "Precisa haver mais clareza sobre qual será o marco regulatório", afirma Bernardo Dantas, sócio da Edge Investimentos. A previsão do gestor é que a aprovação da medida ocorra em maio. "Até lá, vamos ficar amarrados", acredita. "Mas estamos analisando [as ações] com afinco". Para André Querne, estrategista da Rio Gestão, a Santos Brasil pode se beneficiar da logística a ser criada nos portos nos próximos anos. "O papel foi um pouco esquecido nos últimos meses", afirma. As ações da concessionária Arteris Brasil (ex-OHL) também estão no radar das gestoras. Para a Modal, trata-se de posições mais táticas de curto prazo. "É um setor defensivo, protegido pela inflação", diz Roche. O analista lembra que é necessário esperar alguns meses para saber se a base de retorno oferecida pelo governo nas novas licitações rodoviárias será interessante e, com isso, aumentar posições na Arteris. "O governo tem sinalizado condições mais favoráveis para os leilões de ferrovias." A Edge é outra que está em análise avançada para adquirir papéis da Arteris, apesar de ressalvar que ainda falta "a convicção necessária" para realizar o investimento. Hoje, menos de 1% da carteira de R$ 64 milhões da gestora está aplicado neste papel. Segundo Dantas, o programa de investimentos futuro da Arteris é expressivo. Procurada, a Arteris afirmou que sua prioridade no momento é a integração das concessões no Brasil, após ter seu controle adquirido pela espanhola Albertis. A empresa ressalva que tem "obrigação e vocação" de analisar qualquer projeto interessante no setor de rodovias concedidas. "A impressão que temos ao olhar as concessões rodoviárias que estão por vir é de que, naturalmente, é solo fértil para as empresas que querem crescer", afirma Dantas. "Mas, por outro lado, a notícia negativa é que o retorno indicado pelo governo não compensava o risco. Por isso, houve mudanças para atrair capital privado. Tem esse desafio de ser rentável." Para Antenor Gomes Fernando, gestor da STK, a aposta está nos papéis da CCR. Trata-se de um negócio previsível, que gera caixa, protegido da inflação e que será beneficiado com as licitações bilionárias, diz ele. "A empresa só faz projetos que tenham taxa mínima de retorno aceitável." Apesar de ser uma companhia conhecida por sua atuação em rodovias, a CCR, controlada por Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Soares Penido, também tem planos de entrar em novos negócios. A empresa anunciou recentemente a possibilidade de participar de projetos do metrô paulistano e de concessões federais de aeroportos e ferrovias. "É uma companhia com disciplina financeira e foco em retorno sobre o capital para o acionista", diz Gomes. "Prevemos crescimento grande, na medida em que o Brasil entra nessa fase de aumento dos investimentos em infraestrutura", afirma. Procuradas, CCR e Santos Brasil disseram que não iriam se manifestar sobre as perspectivas das empresas com os novos leilões. A percepção em relação aos papéis da CCR, no entanto, não é homogênea. Na opinião de Roche, da Modal, os papéis da empresa já estão caros demais. "Os ganhos da CCR já foram precificados." Dantas, da Edge, é da mesma opinião. Ele tem gerido os recursos de forma "mais conservadora do que nunca". "Estamos com a exposição bastante pulverizada. São poucas as apostas concentradas, nenhuma ultrapassa 10% do patrimônio." "Não dá para ter uma estratégia voltada só para infraestrutura, porque são poucos os papéis negociados em bolsa", diz Roche, do Modal. A estratégia global da gestora continua ligada à exposição maior em consumo doméstico, mais do que em empresas de commodities. Percepção comum entre os gestores é a de que está mais difícil encontrar ações baratas. "Todo mundo adotou esse plano de olhar para empresas privadas com boa gestão, vinculadas ao mercado doméstico. Mas já está muito caro. E agora?", questiona Querne, da Rio Gestão. Para ele, a solução é um mix entre empresas de commodities e outras "middle" e "small caps" - de média e baixa capitalização. "O ano está só começando." Fonte: Valor Econômico - SP Por: Luciana Bruno

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