quarta-feira, 10 de abril de 2013
BRICS PRECISAM TER ABERTURA ECONÔMICA, SUGEREM ANALISTAS
Especialistas apontam que o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) ainda não tem potencial para criar uma multipolaridade econômica exigida após a crise nos Estados Unidos e na União Europeia. A solução seria ter uma economia mais aberta entre os integrantes do grupo e definir quais são os temas de interesse em comum. E de acordo com o coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Oliver Stuenkel, o governo brasileiro terá seis meses para criar essa agenda, até o próximo encontro dos representantes dos países que acontecerá no País.
Um exemplo dessa necessidade de intensificar as relações comerciais é que, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo comercial entre o Brasil e os demais países dos BRICS fechou o ano passado com queda de 17,82%, para US$ 8,780 bilhões, na comparação com o acumulado de 2011, quando atingiu US$ 10,684 bilhões. Da mesma forma, a corrente de comércio entre esses países encerrou 2012 com retração de 1,56%, para U$ 94,641 bilhões.
A divulgação mais recente do MDIC mostra que em fevereiro o saldo comercial do Brasil com Rússia, Índia e China (sem dados sobre a África do Sul), apesar de ter melhorado com relação a janeiro (negativo em US$ 1,901 bilhão), ainda está deficitário em US$ 568 milhões. Com isto, a corrente de comércio recuou de US$ 6,002 bilhões para US$ 5,994 bilhões, do primeiro mês de 2013 para o período seguinte.
Na opinião da professora da Escola de Economia da FGV-SP, Vera Thorstensen, eliminar as barreiras técnicas que hoje imperam o comércio exterior, seria um meio de que os BRICS assumam seu papel na comunidade internacional. "Os BRICS devem ser um agrupamento para balançar as estruturas internacionais. O bloco deveria alterar as regras do Banco Mundial e do FMI [Fundo Monetário Internacional], além de atualizar a agenda da OMC [Organização Mundial do Comércio]. Mas os interesses econômicos diferentes complicam isso", afirmou a professora durante debate sobre os BRICS realizada ontem pela FGV-SP.
Outro problema apontado por ela, é que o diálogo para traçar prioridades e agendas é tratada pelos representantes públicos de cada integrante do grupo, mas "quem manda mesmo" são as empresas transnacionais. "E a lógica delas é buscar a concorrência, tecnologia, impondo barreiras técnicas e, agora, ambientais [o que prejudicam alianças]", analisa Vera.
Por outro lado, o diretor executivo do Greenpeace no Brasil, Marcelo de Camargo Furtado, também presente no debate, afirmou que a questão ambiental não deveria ser tratada como uma barreira e, sim, como uma visão. Mas ele concorda que as diferenças geopolíticas, econômicas, sociais e até monetárias (fixação cambial na China e controle no Brasil, por exemplo) prejudicam a convergência de interesses para os BRICS assumirem uma posição de destaque no mundo. "A falta de visão do bloco me deixa confuso quanto a sua eficiência", disse. "O grupo poderia funcionar como uma aliança inovadora, mas minha expectativa é que a próxima reunião dos BRICS servirá para as eleições [presidenciais no País]. Os BRICS não estão preparados para uma discussão mais ampla porque as diferenças entre eles ainda são muito vigentes", acrescentou.
África do Sul
Os especialistas também comentaram sobre a posição da África do Sul no BRICS, sendo o mais novo integrante do bloco. Para a professora Vera, o mercado africano é um dos que mais cresce entre os emergentes, e a China tem um papel importante nisso para "lapidá-la". Ou seja, utiliza dos recursos do país e investe para melhorar a infraestrutura do lugar.
"A África do Sul é uma disputa comercial não só dentro dos BRICS, mas de outros países, por ser um celeiro do mundo [possuir recursos naturais]. O problema é que ainda não há capital humano para que tenha mais potencial", entende o diretor executivo do Greenpeace no Brasil.
De qualquer forma, Oliver Stuenkel elogiou a atuação da China na África do Sul. "O país se beneficia da presença chinesa. O Ocidente critica essa relação, mas não temos exemplos positivos de que recursos vindos dos países do norte ajudaram, como é o caso da Etiópia. Além disso, é a primeira vez que a África faz parte de um bloco, o que a torna uma integrante da elite global. Como aconteceu com o Brasil, o bloco dá mais visibilidade internacional ao país", conclui.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
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