segunda-feira, 27 de maio de 2013

As mudanças no setor externo

A entrada de recursos estrangeiros melhorou significativamente nos primeiros meses, não confirmando na prática a visão de que há grande insatisfação dos investidores para com o Brasil.

O resultado da conta financeira, de quase US$ 40 bilhões entre janeiro e abril de 2013, foi 10% superior ao equivalente no mesmo período do ano anterior. Isto ocorre em um contexto em que uma nova orientação para o manejo do câmbio e da taxa juros por parte da política econômica deu fim aos elevados e quase garantidos ganhos que desfrutavam as aplicações no Brasil.

Dentre as modalidades de capitais, o investimento direto estrangeiro (IDE) caiu 6%, mas as compras de ações de empresas nacionais e os investimentos em títulos de renda fixa no país compensaram largamente, com aumentos de 49% e 274%.

Este quadro favorável pode mudar, é claro, diante de uma reviravolta sempre possível no contexto atual de alta indefinição da economia mundial. Mas, pelo menos por enquanto, a fonte maior de preocupação não reside no lado do financiamento, mas sim do lado das transações correntes.

No primeiro quadrimestre, o déficit de US$ 33 bilhões, foi 90% superior ao dos quatro primeiros meses de 2012 (US$ 17 bilhões). Em termos do PIB, correspondeu a 4,3%, o mesmo índice de 2001, este o ano que precedeu a última e uma das mais graves crises do balanço de pagamentos do país.

Hoje, a situação da economia brasileira é outra: as reservas de US$ 379 bilhões são incomparavelmente maiores, o país preserva boa atratividade para o investimento estrangeiro e suas empresas têm crédito (a colocação de títulos há poucos dias da Petrobrás é prova disso), o que minimiza o risco de uma crise de financiamento externo. Contudo, o nível do desequilíbrio com o exterior não é nada confortável.

Para o Banco Central as contas externas devem melhorar nos próximos meses, de modo a fechar o ano com déficit de 2,8% do PIB (2,4% do PIB em 2012), correspondente a US$ 67 bilhões (ou US$ 54 bilhões no ano anterior), mas para isso é necessária uma reversão digna de nota no comércio exterior: de saldo negativo de US$ 6 bilhões no primeiro quadrimestre para superávit de US$ 15 bilhões no ano como um todo. A balança comercial deve de fato passar a ser superavitária, seja pelo fim do efeito do registro atrasado de importações de petróleo, seja pela maior safra e consequente aumento das exportações agrícolas. Contudo, não devem ser deixados de lado dois problemas graves com potencial de restringir o ajuste de exportações e importações no corrente ano.

Primeiro, o fator preço internacional de commodities que pode continuar prejudicando as vendas externas de bens primários da mesma forma que prejudicou nos primeiros quatro meses. Segundo, a situação do comércio de produtos industriais cujo déficit não parou de aumentar mesmo com a estagnação da economia.

As importações seguem absorvendo todo ou quase todo aumento do mercado interno de bens da indústria e as exportações entraram em franco processo de declínio, dado o baixo crescimento do comércio mundial e os problemas com destacados parceiros comerciais (como a Argentina).

O Brasil demorou muito em se convencer que os bons tempos das commodities deveriam servir para diversificar nossa pauta exportadora e não para aprofundar ainda mais a dependência a esses produtos.

Júlio Gomes de Almeida é professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda


Fonte: FBrasil Econômico
Por: Júlio Gomes de Almeida **

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Galeria de Vídeos