segunda-feira, 3 de junho de 2013
Nas mãos da iniciativa privada, Metrôs e aeroportos atraem franquias e grifes
Aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília irão criar cerca de 150 pontos comerciais
Para o consumidor, as lojas de aeroportos são sinônimo de preços altos. Para as empresas, também, mas o faturamento, que chega a ser até dez vezes maior do que o de uma loja nos shoppings do Brasil, compensa. Isso porque houve um aumento do número de passageiros nos últimos anos. Como consequência, o consumo também cresceu.
Novo terminal do Aeroporto de Viracopos: receitas adicionais para compensar investimentos
Diante deste cenário, aproveitando a forte expansão das redes de franquias e em busca de 'turbinar' receitas para fazer frente a exigências de pesados investimentos, os consórcios que ganharam as licitações do Aeroporto Internacional de Brasília (o JK), o Aeroporto Internacional de Guarulhos e o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, ambos em São Paulo, querem transformar os locais em novos shoppings centers. Para isso, darão atenção ao mix de produtos, ao padrão das lojas e a quantidades de pontos.
Somente nos três aeroportos entregues à consórcios, serão mais 150 novos pontos, a maioria do segmento de alimentação, mas há espaço para produtos e serviços. Após seis meses do início da concessão do Aeroporto de Guarulhos, o maior do País, já foram inauguradas 12 lojas,;11 delas são recém-chegadas.
O metrô, que nas palavras de Marcos Hirai, sócio da consultoria imobiliária BG&H, tem potencial para se tornar um "templo de conveniência", acompanha a tendência. A Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo, administrada pela Via Quatro, do grupo CCR, já oferece aos consumidores máquinas da Cacau Show, e quiosques da Havaianas e da Cup Noodles, marca da Nissin.
Em comum, os pontos reúnem potencial de consumo e permitem às redes de franquias e marcas expandirem em um momento de consumo aquecido no País. As vendas no varejo aumentaram cerca de 8% no ano passado no País, bem acima do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Para Hirai, as privatizações e a mudança do modelo de licitações facilita a criação de novos pontos nos modais. "Eles eram um entrave para quem queria entrar neste ambiente porque muitas vezes a lista de exigências era tão complexa que desestimulava, especialmente as fiscais. Grandes empresas não podia ter nenhum tipo de débito".
De uma lógica imobiliária, passou a existir uma lógica de shopping center. "Agora, não basta pagar mais. É preciso ter uma boa operação e produto de qualidade, o que já é praticado há bastante tempo em outros países. Senão, troca-se o lojista".
Diante da obrigatoriedade de realizarem altos investimentos nos próximos anos, os consórcios vencedores de leilões de aeroportos já divulgaram o plano para ampliarem pontos comerciais em suas instalações e, desta forma, aumentarem as receitas adicionais com a criação de mais pontos comerciais, que devem acompanhar a ampliação dos aeroportos.
O Aeroporto Internacional de Brasília (JK), administrado pelo consórcio Inframerica, divulgou que irá inaugurar, até a Copa do Mundo, no ano que vem, por volta de 50 opções de lojas, restaurantes, cafés, fast food, entre outros. A oferta de serviços bancários também será ampliada.
No novo terminal do Aeroporto Viracopos, controlado pela Aeroportos Brasil, serão mais 65 pontos comerciais. O número de empresas e comerciantes interessados atingiu 250, segundo informações divulgadas pelo consórcio administrador do aeroporto.
Fernando Sellos, diretor comercial do Aeroporto Internacional de Guarulhos, administrado pelo consórcio Invepar, afirma que o objetivo é aumentar a concorrência e espera, com isso, diminuir preços praticados, que são alvo de uma ação da Infraero nos aeroportos públicos .
"Hoje atendemos desde a classe A até a C. Em 2012, 13% dos passageiros no País voaram pela primeira vez. Precisamos oferecer opções acessíveis para eles". Para atender o novo viajante, o consórcio busca marcas como Bob´s e Empada Brasil. "Elas são conhecidas por preços mais competitivos", diz Sellos.
Em setembro, o aeroporto irá inaugurar uma nova praça de alimentação, com dez novas marcas. Além da diversidade de preços, o aeroporto quer variedade de produtos. "Serão operações novas, que ainda não são oferecidas nas instalações".
Questionados sobre se os altos custos com aluguéis na área devem se manter, Sellos aponta que são frutos da lei da 'oferta e procura. "O aeroporto recebe 100 mil passageiros por dia. O número de pessoas que circulam pelos terminais atinge 200 mil, sendo que 35 mil trabalham no aeroporto. É um fluxo maior do que qualquer centro comercial do País", diz. "Mesmo assim, não conseguimos atender todas as redes que nos procuram".
Além disso, ele cita a área, maior do que a de shoppings, além de gastos a mais com segurança. Sellos aponta que o custo dos aluguéis cobrados são, em média, 15% maiores do que os registrados nos shoppings do País. Há um aluguel mínimo e um variável, cobrado sobre o faturamento total da loja.
Ricardo Bertucci, gerente de expansão da Casa Pão de Queijo, conta que as dez lojas que mais faturam na rede estão localizadas em aeroportos. "Elas chegam a faturar três vezes mais do que o restante". Mesmo assim, ele critica o modelo de licitações, que, na sua visão, provocaram "distorções nos preços".
"Nos últimos cinco anos, desde que a demanda potencial dos eventos esportivos foi anunciada no País, o custo subiu. Esperamos que com as privatizações se mantenham dentro de uma normalidade. Hoje, em média, gastamos R$ 100 mil por mês com lojas em aeroportos".
Hoje, a rede já tem 50 lojas em aeroportos e rodoviárias. O número dobrou desde 2010, e deve continuar crescendo. Com a ampliação dos aeroportos, acredita que possa ter até quatro em um mesmo empreendimento. "Até 2016, deve dobrar novamente. Além de ampliar a presença em grandes aeroportos, também miramos os modais menores, regionais", afirma Bertucci.
Para Hirai, quem entra agora no jogo deve buscar ganhar em volume. "As empresas têm consciência disso. O consumidor não está disposto a pagar um ágio pelo produto. Isso pode interferir na imagem da rede".
Por isso, aponta, o ambiente não é para qualquer rede, nem para todos os segmentos. "Precisam ser marcas nem muito baratas, nem muito caras". Uma maior concorrência, aponta o consultor, será saudável. Para driblar custos, a tendência é que as redes optem por lojas mais compactas, a exemplo das existentes nos shoppings centers.
No ano que vem, com a inauguração de um terceiro terminal, o objetivo da administração do Aeroporto de Guarulhos é balancear os perfis de voos. Um terminal irá concentrar voos domésticos, outro será híbrido, com voos domésticos e internacionais de curta distância, e o novo terminal será exclusivo para voos internacionais de longa distância.
"Desta forma, iremos adequar alimentação e consumo aos perfis de passageiros em cada ambiente", diz Sellos. O movimento promete potencializar ganhos e atrair mais marcas, que poderão "selecionar" seu público alvo.
Mesmo os aeroportos públicos planejam ampliar seu comércio para atender a demanda das redes. O Aeroporto Internacional de Salvador irá passar por reforma, e deve aumentar o número de unidades de 153 para 170. Entre as marcas que entraram recentemente, estão Viena e Jin Jin.
No Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, já estão sendo finalizadas as tratativas para abertura de uma praça de alimentação, cuja metragem média das concessões gira em torno de 70 metros quadrados.
Mudanças de hábito no Metrô
Com a vida cada vez mais agitada nas grandes capitais, as estações de Metrô tendem a se valorizar como locais de conveniência e atrair pontos comerciais. "Hoje as pessoas se programam para resolverem suas vidas nestes locais. As marcas vêm olhando para elas com bons olhos, pois o potencial é incrível".
No Metrô Rio, nas mãos da iniciativa privada há 15 anos, os pontos comerciais aumentaram 12% nos últimos dois anos. Dentre as principais marcas estão Bob’s, O Boticário e Casa da Empada.
Em nota, o Metrô aponta que o custo dos pontos varia de acordo com o tamanho do espaço, do tipo de negócio, da natureza do negócio e infraestrutura necessária para funcionamento, e diz não ter restrições relacionadas a quantidade de empresas e/ou marcas. O modal recebe 700 mil pessoas diariamente em dias úteis.
Por outro lado, o Metrô de São Paulo, administrado por uma empresa de capital misto controlada pelo Governo do Estado, tenta 'repaginar' seu comércio e atrair mais empresas. Desde 2010, o número de usuários no modal cresceu cerca de 20%. "São cerca de 1 milhão a mais", diz Aluizio Gibson, gerente de negócios do Metrô
Porém, vem encontrando dificuldades para atingir o objetivo. Deve lançar mais uma vez um edital para revitalizar o comércio na estação São Bento, localizada no coração da capital. A área tem 17 mil metros quadrados, e abriga 68 lojas, algumas de 300 metros quadrados. "Todas as empresas que apresentaram propostas tinham problemas documentais", conta o gerente.
O Metrô afirma ter facilitado o acesso para franquias. A primeira conquista, anuncia, foi um quiosque da marca Havaianas. "Hoje já temos 64% dos passageiros pertencentes à classe média, que teve aumento de renda. Esse fluxo acontece em um ambiente seguro".
Por trás da estratégia de ter marcas reconhecidas, além de atender consumidores mais exigentes e com maior poder de consumo, está evitar o comerciante à margem da lei. "O que não queremos é uma filial do camelô de rua que vende bombom. Vai ter que fazer produto de qualidade, com nota fiscal", conclui.
Rodoviárias: paradas no tempo
No caso das rodoviárias, o potencial é controverso. Há quem cite que o modal perdeu passageiros para os aeroportos, o que acabou por desvalorizar o local para empresas. Outros mencionam um ambiente pouco aberto à concorrência.
Para Hirai, o lojista encontra hoje dificuldade maior para entrar em lojas dentro de rodoviárias. "Os processos não se modernizaram, e fogem do tradicional. os contratos são mais longos. É necessário renovação neste ambiente, que hoje é dominado por administradoras como a Socicam".
Para Bertucci, da Casa do Pão de Queijo, as rodoviárias perderam passageiros para os aeroportos. "Foi um modal que nos surpreendeu positivamente quando começamos e ainda hoje cresce, mas já não é tão atrativo. Os contratos têm prazos de dez anos, e elas não estão sendo ampliadas". Como consequência, aponta, estes contratos tiveram reajustes menores, pouco acima da inflação.
A rede tem três lojas no Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo, administrado pela Socicam. "Tínhamos parcerias com a GRSA, que administra a área de alimentação da rodoviária, em outros locais", diz Bertucci. "A GRSA é contratada pela Socicam para cuidar da área, mas a administradora exige que o espaço tenha um mix de produtos".
Já o diretor de marketing da rede Giraffas, Ricardo Guerra, reclama da falta de acesso na rodoviária. Hoje o Giraffas tem lojas nos aeroportos de Salvador, Curitiba e Brasília, além de um quiosque no aeroporto de Navegantes (SC). Em rodoviárias, tem somente um ponto no Rio de Janeiro. "Iremos seguir as privatizações. E, mesmo diante de preços altos, queremos estar nestes pontos", diz.
A última revitalização do Terminal Rodoviário do Tietê aconteceu em 2002, quando "uma nova área comercial com a implantação de marcas conhecidas e apreciadas pelos consumidores", diz a rodoviária, em nota. O terminal recebe hoje 60 mil passageiros por dia.
O Terminal Novo Rio, também administrado pela Socicam, inaugurou recentemente uma agência bancária da Caixa Econômica e uma agência de câmbio. O terminal afirma, em nota, "buscar sempre a diversificação do mix de produtos em linha com as demandas de público, turistas que utilizam o terminal e a população que circula pelo local".
Fonte: ig.com.br
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