Na terceira e última parte vamos abordar questões operacionais, educacionais e os problemas e soluções para esse perigoso mercado.
Primeiramente, é necessário repensar a atividade hoje dos motoristas de transportes de cargas em geral: Apesar de termos ainda muitos caminhoneiros sobrevivendo com o suor do rosto, lutando para pagar seus financiamentos e dar uma boa condição de vida às suas famílias, o mercado mudou bastante na última década.
Podemos nos unir àqueles que se indignam com o tratamento dado à classe, sim!
Mas, uma parcela considerável desses “profissionais” – que vem aumentando bastante – movimenta uma parte escura desse mercado com desvios de produtos, consumo de drogas e fomentação da prostituição infantil.
Muitas pessoas não têm noção da gravidade, dos absurdos nas estradas. Aqueles motoristas que não se utilizam disso nas estradas sabem do que estou falando.
Muitas empresas buscando custos menores, e outras pequenas que nascem todos os dias, recrutam pessoas que buscam encaixe em qualquer meio para sobreviverem e vão se deixando levar por essa parte podre do mercado.
Elas precisam de pessoas que aceitem condições extremas e, para isso, diminuem as exigências de qualificação e prestação de bons serviços.
Os motoristas por sua vez pagam por consertos nos equipamentos, furos e estouros de pneus e por qualquer dano que o cliente venha reclamar.
Dessa forma, não se cria uma relação sólida de compromisso e de honestidade e eles procuram compensar isso acentuando seus desvios de conduta e, nem de longe, estão preocupados em buscar conhecimentos, tampouco com aqueles que cruzam seus caminhos por essas estradas.
Saiba que na área do transporte de produtos perigosos essa situação é potencialmente preocupante. Estatísticas apontam que 95% dos acidentes são ocasionados por falha humana e, conhecidamente, circulam no mercado três tipos de MOPP (Movimentação e Operação de Produtos Perigosos): legítimo, comprado ou falsificado.
E como se não bastasse, o legítimo está, didaticamente, bem longe da real necessidade que cerca uma condição operacional segura. Sem contar ainda que sua validade, de cinco anos, é tempo suficiente para deixar as atualizações da área a cargo do “boca-boca”, das próprias empresas que nem sempre possuem uma área especializada para tal, e das estações de carregamento que, quase sempre, instruem os motoristas apenas no que diz respeito ao comportamento seguro dentro destas unidades.
São cursos com validade de um ou dois anos e reuniões que ocorrem após um acidente entendidas, na maioria das vezes, como algo prejudicial ao andamento diário das operações.
Você deve estar se perguntando se isso é um retrato da realidade em todas as empresas. Felizmente não! Mas, acontece numa parcela muito grande, pois a preocupação com a segurança é menor do que a do rendimento da frota.
E uma empresa com frota própria nem sempre significa uma união harmoniosa entre segurança e resultados. Muitos desses casos acabam num relaxamento com um acentuado desvio de foco, transformando regras em exceções.
O conhecimento é a maior e melhor ferramenta de melhoria para os mercados, e para esse não poderia ser diferente. Contudo, o efeito do conhecimento nesse mercado está ligado diretamente à vida, ao meio ambiente.
Como dito anteriormente, é inadmissível o descumprimento das leis que protegem as pessoas levando-as a perdas expressivas da proteção em troca de tão pouco se comparados com o valor de uma vida.
É inadmissível que “profissionais” da área não conheçam, sequer, a sinalização e procedimentos daquilo que transportam.
Uma grande parte ainda acredita que toda ocorrência se resolve com água, sendo que na própria sinalização há orientações sobre os produtos que reagem com a água e, por não a distinguirem de forma correta, colocam em risco suas vidas e de terceiros.
O conhecimento ainda é a maior solução para o transporte de produtos perigosos. Mas, é só o primeiro passo de muitos para reverter essa situação de extremo perigo a que estamos submetidos.
Outros importantes como assegurar o direito dos trabalhadores, combater a corrupção presente nas fiscalizações, a manutenção das estradas e implantações de outras que possibilitem alternativas seguramente econômicas para desonerar operações que viabilizem mais investimentos em instrução e segurança são cruciais para mudar esse quadro.
A Lei da Jornada (nº 12.619) vem como um grande auxílio na redução de ocorrências. Porém, mais de um ano após sua sanção, devido grande deficiência na infraestrutura do Brasil e no poder de fiscalização, a Lei não deixou de ser só uma intenção.
E com a população longe do interesse e do conhecimento do real perigo a que está sujeita, as expectativas são – sem trocadilhos – corrosivas ou explosivas.
Fonte: Logística Descomplicada
Por: Marcos Aurélio da Costa
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