terça-feira, 24 de setembro de 2013

Economia ganha projeção mais otimista nos próximos meses

Pela terceira semana consecutiva, o Boletim Focus do Banco Central aponta melhora nas expectativas para este ano.

Pela terceira semana consecutiva, o Boletim Focus do Banco Central aponta melhora nas expectativas para este ano. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Inflação declinante, atividade crescente e real não tão desvalorizado levam o mercado a prever números mais promissores para 2013

As projeções para a economia neste fim de 2013 mostram que, na linha do clamor do governo, economistas e analistas do mercado financeiro começam a ver o "copo mais cheio" do que nos últimos meses. Pela terceira semana consecutiva, o Boletim Focus do Banco Central, que reúne estimativas das 100 principais instituições financeiras brasileiras, aponta melhora nas expectativas para este ano.

Embora o cenário permaneça nebuloso para 2014, especialistas classificam setembro como um mês particularmente mais promissor do que o indicado no início de semestre, marcado pelas manifestações nas ruas e incertezas políticas.

O relatório divulgado ontem mostra que foram reduzidas as projeções de inflação e de desvalorização do real em comparação ao dólar para o fechamento deste ano, comparado à semana anterior - quando já havia melhorado a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB).

Apesar das projeções de taxas serem mais elevadas do que as de um mês atrás, o Focus da última semana traz o princípio de uma desaceleração da inflação e melhora do câmbio, além de uma perspectiva mais elevada de crescimento da atividade.

"Estamos vendo o fim de uma onda de pessimismo que foi inaugurada no início do ano por uma série de fatores, como o PIB ruim do primeiro trimestre, o aumento da taxa de juros, a mudança de perspectiva de risco pela Standard & Poors, a inflação acima da meta e as mais fortes manifestações de rua já vistas neste país", avalia o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

É consenso que a virada começou com a divulgação do PIB do segundo trimestre, no dia 30 de agosto, que surpreendeu o mercado ao apontar um crescimento de 1,5%, ante expectativa na casa de 1%. E teve seu ápice na semana passada, com a decisão do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de manutenção dos estímulos à economia, contendo o fluxo de saída de dólares.

"A inflação, que estava muito puxada por alimentos, deu um alívio. E o câmbio teve um repique, mas parece ter se estabilizado em um patamar que é considerado bom para muitos", comenta o professor do Instituto de Economia da UFRJ João Sabóia.

Os preços dos alimentos subiram menos do que o esperado, ressalta Rafael Coutinho Costa Lima, economista da Faculdade de Economia da USP e coordenador do IPC-Fipe, indicador de inflação na capital paulista. A perspectiva de que os alimentos continuariam a corroer a capacidade de compra da população não se concretizou, diz ele. Porém, ainda há riscos de influência nos preços vindo da carne bovina e do trigo, cuja produção na Argentina foi prejudicada pelo clima. "Ao mesmo tempo, no fim do ano passado, houve uma forte pressão dos alimentos. Ninguém acredita que irá subir tanto neste ano. Isso deve levar a uma descompressão da taxa anualizada nos próximos meses", ressalta.

Já o real, que, pela projeção do mercado, iria desvalorizar cerca de 20%, caiu, em média, 10%, destaca o economista, que enxerga, no entanto, influências futuras do câmbio sobre preços ao consumidor de alguns produtos, como de eletroeletrônicos. "Há ainda a perspectiva de reajuste de preços administrados, como o da gasolina", afirma o economista da Opus Gestão de Recursos e professor da Faculdade de Economia da PUC-Rio, José Márcio Camargo.

O Itaú BBA vê o câmbio como um fator positivo para a economia neste momento, sobretudo, para a balança comercial. A expectativa é de alta do dólar, para R$ 2,45 no fechamento do ano. "O câmbio abaixo de R$ 2 não era equilibrado", afirma a economista do banco Gabriela Fernandes. Mas, a sua avaliação, é que as notícias recentes vindas dos Estados Unidos geram flutuações de curtíssimo prazo, sem efeitos duradouros. Por isso, mantém a previsão de novas desvalorizações do real nos próximos meses, com o câmbio alcançando o patamar de R$ 2,45 no fechamento do ano.

Para o economista da Unicamp Fernando Nogueira Costa, projeções, como a do Focus, são pouco representativas da economia. "Não acredito em uma opinião média. Tendo mais a analisar comportamentos divergentes", diz. Em sua opinião, os fundamentos macroeconômicos permanecem sólidos e indicam o crescimento da atividade. "Se o mercado não está percebendo é porque está equivocado", complementa.

1) O pessimismo do mercado chegou ao fim?
Não diria que houve uma reversão da confiança, mas um ajuste. Antes de sair o PIB do segundo trimestre, o pessoal estava com um número de crescimento da economia muito preocupante. Alguns falavam em taxa inferior a 2%. O resultado surpreendeu e alguns analistas voltaram para a projeção de 2,4%.

2) O que esperar para o segundo semestre?
Alguns indicadores já demonstram deterioração da economia. É o caso do IBC-Br (prévia do PIB, do Banco Central) e das sondagens com consumidores e indústria. Além disso, a política monetária, de alta de juros, tende a ter mais efeito sobre o investimento nesse período.

3) A realização de reuniões da equipe do Ministério da Fazenda com analistas influenciou as projeções?
Certamente, cria um ambiente menos nebuloso. É um fator condicionante, mas não determinante. Ainda acredito que, em algum momento, o mercado voltará a rever suas projeções.

4) Por que as previsões para 2014 são piores do que as para 2013?
A agenda política deve prevalecer em 2014. Não se vê o governo olhando para o investimento como antes. E os Estados Unidos, em algum momento, concluirão a política protecionista e devem roubar investimentos.

5) A política monetária também pesará no ano que vem?
Com certeza, a política contracionista tende a ter mais efeito daqui para frente.

1) Mudou o humor dos analistas de mercado?
A situação está mais ou menos parada. A grande mudança diz respeito ao PIB, por causa da surpresa do resultado do segundo trimestre. Se nada mais acontecer, está garantido crescimento de 2,3%, 2,4% no ano. Mas não é nada maravilhoso.

2) A revisão da projeção do PIB chega a configurar o fim do que o governo classificou como pessimismo exagerado?
A taxa prevista não aponta para uma atividade crescendo muito. Não chamaria de otimismo. É um crescimento moderado.

3) Há de fato um pessimismo?
Não concordo com essa tese. Se compararmos as projeções om os dados reais, diria que os analistas são otimistas. O que ocorre é que, ao poucos, a realidade vai forçando as revisões. O próprio governo começa com projeções bastante otimistas para, em seguida, alterar os seus números para baixo.

4) Melhorou a comunicação do governo com o mercado?
As reuniões da equipe econômica com os analistas servem para que entenda as dificuldades de projeção dos rumos da economia. Servem mais para que o governo compreenda as angústias em relação a determinados temas. E, do outro lado, contribui para que os analistas tenham uma ideia mais clara das políticas de governo.

5) A comunicação da equipe econômica é falha?
Em larga medida, o governo se comunica por canais próprios, disseminados na imprensa. Já sabemos como vê a atividade.



Brasil Econômico  
Fernanda Nunes e Nicola Pamplona


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