Por conta da combinação entre o dólar alto e a crise econômica, o rombo das contas externas brasileira caiu 20,6% no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. O déficit de todas as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo ficou em US$ 36,7 bilhões nos seis primeiros meses do ano, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central. É o melhor desempenho desde 2012. No entanto, o investimento recebido pelo país também desacelerou. No primeiro semestre, o Brasil foi destino de US$ 30,9 bilhões de recursos do exterior que chegam para aumentar a capacidade de produção das fábricas daqui. No mesmo período do ano passado, ingressaram no país US$ 45,9 bilhões. A queda foi de nada menos que 32,7%. Para o governo, quando o investimento é maior que o rombo das contas externas, isso mostra que o déficit tem o melhor tipo de financiamento, ou seja, que o país não depende de dólares que entram por aplicações mais voláteis. Não é o caso atual. O dólar caro favorece as exportações, que melhoraram o resultado da balança comercial, também inibe gastos. De acordo com o BC, a remessa de lucros e dividendos no semestre caiu nada menos que 36,7% no primeiro semestre. Na avaliação dos empresários é mais vantajoso mandar lucros para a matriz quando o Real compra mais dólares e não quando a moeda americana está mais elevada. Além disso, há um outro motivo para essa queda: "Numa atividade que vai mais devagar, você tem menores lucros tanto para reinvestir quanto para remeter. E quando há um aumento do dólar, há interferência no fluxo", explicou o chefe adjunto do departamento econômico do Banco Central, Fernando Rocha. Outro gasto que é afetado pela alta da moeda americana é o feito pelos turistas brasileiros. Com o dólar caro, cai a procura por viagens para fora. As despesas dos viajantes daqui caíram 20% nos seis primeiros meses do ano. De janeiro até o mês passado, os brasileiros gastaram US$ 9,9 bilhões com turismo. No mesmo período de 2014, os gastos foram recordes em US$ 12,4 bilhões. "A tendência para viagens internacionais de redução do déficit permanece. A atividade econômica está fraca e a taxa de câmbio se valorizando", frisou Rocha. Apesar da alta do dólar, um gasto continua a crescer: o de aluguel de equipamentos. Isso, na avaliação do governo, é um bom sinal: o setor de extração mineral continua ativo, já que é o maior demandante desse tipo de serviço. Essa despesa cresceu 8% e foi de 8,3% e chegou a US$ 11,2 bilhões. Segundo o BC, em junho, o superávit comercial veio acima das expectativas. E o déficit nas contas externas veio bem mais baixo do que previa a autoridade monetária. A projeção para o mês era de um déficit de US$ 3,5 bilhões. Os dados mostram que o resultado foi negativo em apenas US$ 2,5 bilhões: a metade do rombo no mesmo mês do ano passado. "A grande surpresa aí foi o desempenho da balança comercial", revelou Fernando Rocha.
O Globo
22/7/2015
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