sexta-feira, 10 de julho de 2015

Exportações têm de depender menos da China

O mercado acionário chinês acabou dando um susto em todo o mundo pelo receio de alguma crise estar se formando por lá. Estouros de "bolhas especulativas" em mercados financeiros desencadearam crises recentes em várias economias. No caso da China, a torcida é para que o queacontececom a Bolsa de Valores tenha pouca possibilidade de contaminar os setores produtivos. Após um crescimento espantoso por anos consecutivos, a economia chinesa vem reduzindo o ritmo. Chega a surpreender que isso tenha demorado a ocorrer, contrariando muitas previsões baseadas nos ciclos econômicos. A China é o país que mais importa do Brasil. Ainda que essas compras se concentrem em poucos produtos básicos (soja, minério de ferro e petróleo), tais exportações é que proporcionam um saldo com os chineses. Assim, tudo que acontece na economia da China hoje é de especial interesse para o Brasil. As exportações cumpriram papel relevante na retomada da economia brasileira após o ano 2000, pois saíram deumpatamar de US$ 65 bilhões e chegaram a alcançar a casa de US$ 250 bilhões, recuando no ano passado para a faixa de US$225 bilhões. O salto nas vendas externas teve a ver com a mudança do regime de câmbio, que passou a flutuar em 1999, e a outros fatores: ganhos de eficiência decorrentes das reformas feitas após o lançamento do real e das privatizações, expansão demercadosem paísesdaAmérica do Sul, e o "boom" nas cotações de commodities ocasionado pela forte demanda da China por matérias-primas e produtos básicos. O aumento das exportações contribuiu para uma considerável melhora nas contas externas do país e para a economia brasileira obter o grau de investimento no conceito das agências internacionais classificadoras de risco. No entanto, essa melhora fez com que o real se valorizasse muito. Por um lado, a apreciação favoreceu o combate à inflação, mas, por outro, tirou competitividade das exportações de manufaturados e impulsionou as importações dessas mercadorias. O encolhimento que se verificou na indústria de transformação é em parte atribuído à valorização ocorrida no câmbio. Mas o cenário mudou. O real voltou a se depreciar e já se espera para 2015 umsaldo acima de US$ 10 bilhõesnabalança comercial(em 2014, o país registrou seu primeiro déficit no comércio desde o ano 2000). Já não há um "boom" de commodities, pois o ritmo da China continuará desacelerando. Do Mercosul não se deve esperar muito, em face dos problemas na Argentina e da situação crítica na Venezuela. Porém, não émomentode desistir.O governo lançou um programa para estimular as exportações, com o propósito de identificar oportunidades e remover obstáculos à venda de produtos no exterior. Enfim, uma estratégia, que estava fazendo falta.Não se pode continuar a depender basicamente de desvalorizações cambiais para sustentar o comércio exterior. País volta a registrar saldo na balança comercial com ajuda do câmbio depreciado, mas deve é pôr em prática uma estratégia para aumentar as vendas ao exterior.
O Globo
10/07/2015

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