quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Alta do dólar eleva custos, mas estimula exportação de manufaturados


As empresas brasileiras vêm sofrendo com o dólar nas alturas — nesta quarta-feira a divisa chegou a atingir a máxima de R$ 3,657, retrocedendo para R$ 3,60 no fim dos negócios, com uma queda de 0,16%. Especialistas também afirmam que a valorização da moeda americana também joga mais lenha na fogueira de uma crise que tem fatores internos, como a política, e externos, como a queda nos preços das commodities e a desaceleração da economia chinesa. As exportações de manufaturados, no entanto, podem trazer algum alívio para a indústria. No primeiro semestre deste ano, as vendas do setor de transformação, de produtos farmacêuticos à aviação, já superaram o total exportado em 2014, segundo levantamento feito por Rodrigo Zeidan, professor de Economia da FDC. "Essa expansão (em exportação) não compensa a queda que a indústria enfrenta no Brasil. Mas colabora para que a estimativa de redução de 5% na produção industrial em 2015 não seja ainda pior, já que as exportações estão atenuando as perdas", avalia Zeidan. Trata-se de um pequeno alívio, considerando que a variação cambial é ruim para o país como um todo, afirmam especialistas ouvidos pelo GLOBO. Desde janeiro de 2014, o dólar comercial acumula valorização de 50,7% — na terça-feira, a divisa registrou a máxima do ano, R$ 3,607. Só em 2015, a alta acumulada é de 35,2%. Os preços dos insumos importados sobem acompanhando o dólar, elevando a inflação e, por consequência, prejudicando a economia do país. O impacto negativo da alta da moeda americana chega aos mais variados setores: combustíveis, transportes, eletroeletrônicos, alimentos, automóveis, saúde, química e telecomunicações. Para as empresas, o aumento do dólar se traduz em problemas de caixa, afetando decisões estratégicas e de investimento, além de elevar custos com proteção cambial (hedge). "Há um aumento dos custos com a importação de bens. Além disso, esses aumentos repercutem em toda a cadeia produtiva. No caso do setor automobilístico, por exemplo, os reflexos são sentidos nas fábricas, nas concessionárias, no setor de seguros e nos fornecedores de peças", diz Alex Agostini, economista da Austin Rating. Ele destaca que os setores que precisam comprar equipamentos e matérias-primas do exterior são mais afetados pela escalada do câmbio. A apreciação do dólar eleva o custo do hedge das companhias com dívidas na moeda americana, diz Agnaldo Pereira, professor dos MBAs da FGV. "Como o dólar vem aumentando, esse hedge está ficando cada vez mais caro, pois as empresas contratam uma proteção com os bancos até uma determinada cotação. E, conforme essa cotação aumenta, o preço sobe", diz Pereira, lembrando que até as empresas que não têm dívida em dólar acabam sofrendo com a alta nos custos. "Quando o dólar sobe, a inflação aumenta, e os juros também. Com isso, o custo para captar fica maior". É consenso entre os especialistas que a alta do dólar é mais um fator a alimentar a atual crise no país. O entrave político também tem papel determinante no freio a investimentos nacionais e internacionais. "Existe um risco real de o Brasil perder o grau de investimento aferido pelas agências de risco. Mas, na prática, informalmente, muitas empresas já se comportam como se isso já tivesse acontecido. Há muita insegurança. Os empréstimos para instituições financeiras, por exemplo, já estão mais caros e escassos", alerta Nelson de Sousa, professor de Finanças do Ibmec-RJ. — As decisões sobre o ajuste fiscal não evoluem adequadamente, e o que vemos é aumento da carga tributária, afetando empresas e contribuintes. Sem garantia sobre os rumos da economia, continua Sousa, as empresas seguram investimentos e reduzem operações: "O setor aéreo tem grande parte dos custos em dólar. A Gol, a exemplo do que fez a TAM, enxugou sua malha de voos. Isso pode significar menos concorrência e aumento de preços". Alguns setores, como papel e celulose e carnes, até se beneficiam com a alta do dólar. Mas esse impacto é reduzido, ressalta José Augusto de Castro, presidente da AEB: "O setor de papel e celulose é um caso de produto semielaborado, uma commodity com preço subindo no mercado internacional. No geral, a taxa de câmbio este ano tem impacto positivo localizado apenas em parte das exportações para os Estados Unidos". A questão, explica Castro, é que 60% das exportações do Brasil são de commodities, que enfrentam retração em demanda. Os outros 40% são de manufaturados. Metade desta fatia é vendida para países da América do Sul, que, também afetados pela crise, estão reduzindo importações. Do restante, ficam 10% para Ásia e Europa, duas rotas de retração em comércio exterior do Brasil. Sobram os 10% para os EUA. "Até julho, as exportações de manufaturados do Brasil para os EUA subiram 5,3%. Mas, no total das exportações para o país, houve queda", diz Castro. Nos últimos 12 meses, as companhias com maior alta na Bolsa de Valores de São Paulo foram Fibria, Suzano e Klabin — de papel e celulose —, seguidas de JBS e Lojas Renner. As que mais perderam nesse mesmo período foram Metalúrgica Gerdau, Oi, CSN, Gol e Usiminas.
O Globo
27/8/2015

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