O novo chefe da delegação da União Européia no Brasil, embaixador João Gomes Cravinho, afirmou ontem considerar um "erro histórico" se Mercosul e UE não concluírem as negociações para um acordo de livre comércio. Há a expectativa de que as partes troquem ofertas em novembro, encontro que será precedido por uma reunião vista por ele como "importante", no fim de setembro, no Paraguai, entre negociadores técnicos. "Este é um momento para ter ambição, um momento em que importa ser ousado, porque é isso que pode criar uma dinâmica positiva. Ofertas pouco ambiciosas serão ofertas desencorajantes", afirmou ele em sua primeira entrevista a jornalistas no novo posto. Para ele, isso não significa que uma parte deva ceder 100% em umdeterminado segmento para a outra dar 100% de outra área. "Um acordo tem que ser equilibrado." Ele disse ver uma maior disposição do setor industrial brasileiro de engajar-se nas chamadas cadeias globais de valor, acrescentando queclaramente um acordo daria mais abertura no mercado europeu à agroindústria brasileira - cuja potencial concorrência sofre resistências entre alguns países europeus. Para o embaixador, as sociedades e economias como um todo têm muito a ganhar com umacordo equilibrado, o que inclui mecanismos de transição para determinados setores. "Não podemos ficar reféns de um ou outro setor. Isso vale para os dois lados." Cravinho disse que o acordo com a União Européia "pode fazer toda a diferença" para o Mercosul, pois como conjunto de países a UE é o principal parceiro comercial do bloco. "Para nós também é importante. Mas, para o Mercosul, devido ao fato de a Europa ser o primeiro parceiro comercial, creio que o impacto pode ser grande. Do lado da UE, o Brasil é o nono parceiro comercial e, no fim das contas, olhando para todo o Mercosul, talvez seja o sétimo", ponderou. "Portanto, o impacto pode ser grande e algo que, no meu entender, seria um erro histórico não conseguirmos fazer nesta altura." O diplomata lembrou ainda que, em seu conjunto, a UE é um parceiro comercial do Brasil maior que a China e importa produtos brasileiros de maior valor agregado do que os chineses, além de ser grande fonte de investimento estrangeiro direto. "Agentes econômicos europeus acreditam no Brasil. Creio ser importante sublinhar num momento de alguma turbulência política aqui. Nossa perspectiva é de médio e longo prazos", destacou, complementando que a situação doméstica deve melhorar em poucos anos. Para ele, não são "plenamente justificáveis" nem o "desenfreado otimismo" observado há alguns anos em relação à economia brasileira nem o atual "terrível pessimismo". Perguntado sobre a situação na China e seu potencial efeitoem relação àcapacidadedeo paísasiático manter projetos e uma trajetória de crescente presença na região, Cravinho disse acreditar que a China continuará mantendo uma taxa de crescimento significativa. "É muito desejável dar as boas-vindas ao investimento chinês, desde que esse investimento funcione deacordo com as regrasqueimperam em relação a todos os outros", destacou. "Ao mesmo tempo temos a convicção de que é importante que o investimento seja apenas para efeitos econômicos e não tenha propósitos além dos efeitos econômicos. Compete a cada país identificar aquilo que é desejável."
Valor Econômico
28/8/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário