quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Desafios para a indústria brasileira
Há um descolamento entre o espetacular avanço do consumo na economia brasileira, que vem crescendo ao ritmo de 8,4% ao ano, e o desempenho negativo em 2,7% da produção industrial.
A indústria tem sido afetada negativamente por fatores conjunturais e estruturais. Do ponto de vista conjuntural, influenciou a queda da demanda gerada pela crise internacional, especialmente para a Argentina.
Sob o ponto de vista estrutural, os fatores adversos de competitividade sistêmica foram determinantes para a perda de espaço da produção local relativamente às importações.
O nível da produção industrial atual é semelhante ao observado há quase cinco anos, em 2008, antes dos efeitos da crise.
Enquanto isso, o coeficiente de importações cresceu em praticamente todos os segmentos industriais, dos tradicionalmente deficitários na balança comercial, como química, eletroeletrônica e bens de capital, até bens de consumo duráveis e outros da indústria de transformação, inviabilizando elos importantes da cadeia produtiva e gerando consequências negativas sobre o emprego, a renda e tecnologia domésticas.
Os custos do trabalho na indústria geral, porém, têm crescido, em decorrência não só da conjuntura, mas de mudanças expressivas em aspectos como demografia e crescimento do setor de serviços.
Com isso temos uma disputa por profissionais qualificados, a chamada "guerra por talentos", inflacionando os custos. Segundo a CNI, em 2012, enquanto houve um crescimento de 2,4% no faturamento real, os rendimentos reais dos trabalhadores cresceram 5,1% no setor.
Trata-se, evidentemente, de uma situação insustentável no longo prazo, pois não será possível manter esse descompasso.
Mesmo que seja algo aparentemente favorável ao trabalhador, como estamos numa economia aberta, a tendência seria de substituição da produção local por importados, pela perda de competitividade.
No curto prazo é importante liberalizar, de forma controlada, a importação de mão de obra e intensificar programas de qualificação de trabalhadores para que haja maior equilíbrio de oferta e demanda no médio e no longo prazos.
Além disso, a saída para ampliar a capacidade competitiva da indústria estará em buscar ganhos de produtividade mediante a automatização da produção, a racionalização das linhas de produção, a informatização de processos.
Em muitos casos, isso requer investimentos em novas máquinas e equipamentos, mas também esforços inovativos.
No entanto, é claro, a tarefa não se restringe às medidas citadas. No âmbito macroeconômico, é preciso propiciar um ambiente favorável à produção local, de forma a lhe permitir concorrer em igualdade de condições com os importados e ganhar espaço nas exportações. Há ainda um papel relevante a ser exercido pela política industrial.
Muitas das medidas adotadas no País, embora válidas e no caminho certo, são tópicas e com prazo de validade determinado, como desoneração tributária e linhas de financiamento facilitadas para investimentos.
Permanece o desafio de uma política industrial perene e ousada, com objetivos estratégicos de longo prazo, a exemplo de vários países bem-sucedidos na área.
Vale destacar que várias mudanças de política macroeconômica como a redução expressiva da taxa básica de juros e a desvalorização cambial estão no caminho correto de melhorar nossas condições de competitividade sistêmica.
O mesmo vale para as medidas de desoneração tributária, redução de encargos sobre folha de pagamento e diminuição dos preços de energia para produtores e também consumidores.
Mas, embora as iniciativas tomadas representem um avanço em relação à situação passada, infelizmente ainda estão distantes da prática internacional, que é o que efetivamente está em jogo da competitividade na globalização, agravada com da crise em vários países.
Só nos resta, pois, avançar nas questões citadas, assim como incrementar os investimentos em infraestrutura para viabilizar a indústria do século 21 no Brasil.
* Antonio Corrêa de Lacerda é professor doutor do programa de estudos pós-graduados em Economia Política da PUC-SP, doutor pelo IE/Unicamp e foi presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Fonte: O Estado de São Paulo - SP
Por: Antonio Corrêa de Lacerda **
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