segunda-feira, 1 de abril de 2013

Estratégia de comércio?

É importante chamar a atenção para as mudanças nas características do comércio global com ênfase crescente nos acordos preferenciais de comércio, que se proliferam numa velocidade cada vez maior, em detrimento dos acordos multilaterais. Nesse contexto, é preocupante a passividade com que o Brasil aguarda a evolução das rodadas de negociações multilaterais, principalmente levando-se em conta os acordos extremamente vantajosos que vêm sendo costurados por diversos países e regiões, cujos exemplos mais recentes são o anúncio do avanço nas negociações entre EUA e União Europeia e a evolução da Parceria do Transpacífico. Além disso, apenas para citar alguns, México, Peru, Chile e Japão têm sido muito mais agressivos em suas políticas comerciais. O México, comparativo mais em voga ultimamente para a economia brasileira, tem acordos comerciais com mais de 40 países, tendo firmado 13 acordos nos últimos 20 anos, contra apenas três do Brasil. O Brasil tem optado por uma postura de eficácia duvidosa, mantendo o foco no avanço da rodada de Doha, iniciada há mais de dez anos, parecendo satisfeito em chefiar o Mercosul e se fechando, também com medidas protecionistas, cada vez mais para o comércio global, numa antítese do que fazem nossos principais competidores. Esses países buscam a inserção nas cadeias produtivas e a expansão das redes de produção de forma a garantir e ganhar espaço na cadeia produtiva global. Não reconhecer isso pode custar caro. No mínimo pelo fato de que, caso decida se integrar futuramente a parcerias já firmadas, terá seus termos de barganha diminuídos, com menor margem para negociar uma configuração que lhe seja mais vantajosa. Além disso, a pouca integração às cadeias produtivas globais atrapalha o avanço da cadeia produtiva doméstica e a agregação de valor à produção. No caso do Mercosul, por mais relevante que seja a Argentina como parceiro comercial, é importante a reflexão sobre o custo/benefício para a economia brasileira do foco excessivo no Mercosul, principalmente quando aquele país impõe de maneira recorrente restrições comerciais aos produtos brasileiros, prejudicando de maneira substancial nossas exportações, principalmente de manufaturados. Aliás, o ministro da economia do Uruguai, cansado dos entraves impostos por aquele país, disse recentemente aos empresários nacionais que "esquecessem" a Argentina como destino de suas exportações. Embora, do ponto de vista teórico, argumente-se que os acordos multilaterais sejam aqueles capazes de proporcionar os maiores ganhos comerciais e que os acordos preferenciais de comércio podem acabar resultando em perda de bem-estar para os países, em termos práticos, o que se vê é uma proliferação substancial destes últimos. Assim, a questão é menos sobre o que seria ideal e mais sobre o que seria melhor, dadas as ações de nossos concorrentes e a dinâmica tomada pelo comércio mundial. Patrícia Stefani é economista da Ideias Consultoria Fonte: Brasil Econômico Por: Patrícia Stefani **

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