quinta-feira, 25 de abril de 2013

Expectativas contaminadas

O Banco Central não teve mais como evitar e teve que elevar a meta da taxa básica de juros — Selic — na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Era um movimento previsível ante as pressões sobre o governo e a autoridade monetária em relação à temática da inflação. 

De fato, a inflação medida pelo IPCA acumulada em 12 meses tem permanecido sistematicamente acima dos 6%, ao longo do segundo semestre do ano passado e nos primeiros meses de 2013.

O governo apostou recorrentemente no cenário de que esse comportamento da inflação estava associado a pressões transitórias e que as mesmas se dissipariam em breve. Isso permitiria a convergência, ainda que lenta, da inflação para o centro da meta, de 4,5%.

A evolução dos fatos, no entanto, mostrou que esse cenário estava equivocado e a inflação não cedeu. Mesmo as tentativas pouco ortodoxas, como a desoneração de produtos da cesta básica, não tiveram sucesso em reverter esse quadro. Em face desses elementos, o Banco Central (BC) não teve outra alternativa a não ser iniciar um ciclo de aperto da política monetária.

As próximas reuniões do Copom nos brindarão com novas altas da meta da taxa Selic. O Banco Central, o governo (e o próprio mercado financeiro) apostam em uma alta moderada nos juros, situando-a no patamar de 8,50% aa no final deste ano. Essa perspectiva se forma em um contexto de que a inflação cederá nos próximos meses.

Essa, no entanto, pode ser uma perspectiva um tanto otimista em face do ambiente inflacionário atual. Sob essa perspectiva, o governo e o Banco Central apostaram durante muito tempo no cenário de convergência da inflação para a meta e permitiram que a questão da inflação deixasse de ficar restrita apenas a economistas e especialistas.

Essa demora fez que a discussão transbordasse para o resto da sociedade, permitindo que as expectativas dos agentes fossem contaminadas nesse processo. Tudo indica que o Banco Central iniciou o processo de aperto da política monetária atrasado.

A problemática relacionada a isso remete ao fato de que os agentes passam a tomar suas decisões econômicas com base nesse cenário de inflação. A percepção de leniência do governo e do Banco Central em relação à inflação permeia boa parte da sociedade.

Em grande medida, isso torna o trabalho do Banco Central mais duro. Reconquistar a credibilidade em termo de combate à inflação é um trabalho duro. Aparentemente, o próprio BC não tem ciência da importância dessa função e, ao invés de priorizar o combate à inflação no seu discurso, continua a apontar que o aperto monetário será pequeno.

Outras partes do governo também não contribuem, ao dizer que o aperto monetário não prejudicará o crescimento econômico.

Esse conjunto de elementos sugere que existe a possibilidade de que a alta da taxa de juros será maior que a considerada neste momento caso, de fato, o Banco Central queira controlar a inflação.

A contaminação das expectativas associada à inércia inflacionaria ainda existente no Brasil podem tornar o trabalho do BC mais duro do que se imagina e o crescimento econômico, caso queira controlar a inflação de fato, terá que ser menor.

Rogério Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)


Fonte: Brasil Econômico - Rogério Mori **

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