Em ano pré-eleitoral, com a oposição dando os primeiros passos na corrida sucessória, o Palácio do Planalto foi extremamente comedido no contingenciamento do orçamento.
A tesoura funcionou pouco e o corte não passou de R$ 28 bilhões, quase a metade dos R$ 55 bilhões do ano passado. A equipe econômica preservou os programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, e não impôs sacrifícios à Educação e ao Desenvolvimento Social. Manteve R$ 7 bilhões dos R$ 22 bilhões em emendas parlamentares, deixando a diferença para negociação futura.
Só foi impiedosa com o Ministério das Cidades, cuja dotação encolheu R$ 5 bilhões. Mas devem ser atingidas obras de saneamento e de infraestrutura urbana, ou seja obras por baixo da terra que não dão votos, como dizem os prefeitos. De resto, ficou tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Se alguém ainda tem dúvida sobre a eficácia dos cortes, basta conferir as prioridades da política econômica anunciadas pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior. São elas: "retomada do crescimento, geração de empregos, ampliação dos investimentos, consolidação fiscal, contenção dos gastos de custeio, e redução dos custos financeiro, tributário, de energia e de infraestrutura". A agenda, portanto, é desenvolvimentista.
Não é hora de arrocho. A ordem do rei (melhor, da presente Dilma) é manter a tocada anticíclica e fazer com que o país cresça na contramão do que está acontecendo no exterior. O Brasil não é uma ilha, mas se move pela força de seu imenso mercado interno.
Da agenda oficial, não consta o combate a inflação. No máximo, é citada a contenção dos gastos de custeio, mas mesmo assim sem muita convicção. Conter a inflação é responsabilidade do Banco Central.
Uma tarefa, por sinal, bastante complexa quando a Fazenda e o Planejamento estão empenhados em garantir para este ano um crescimento do PIB de no mínimo 3%. Nesse ambiente de incentivo à produção industrial e à geração de renda e emprego. o que pode fazer o BC?
Com seus colegas de equipe econômica com o pé no acelerador, a margem de ação de Alexandre Tombini parece mesmo muito limitada. É uma missão quase impossível.
Mas o dedicado Tombini não entrega os pontos. Garante que o BC, se necessário, vai agir para combater a alta dos preços. E vai fazê-lo de forma "tempestiva", ou seja no momento oportuno.
Depois de aumentar a Selic para 7,50% na reunião do Copom de abril, o presidente do BC voltou a usar a expressão da qual tanto gosta. O Banco Central não perderá tempo, agirá "tempestivamente".
Para os oráculos do mercado financeiro, isso significa que os juros na reunião do Copom, na semana que vem, devem subir para 7,75% ou 8%, na dosagem maior. Só assim, dizem eles, será possível jogar a inflação para bem longe do teto da meta.
Falta, porém, Tombini combinar sua tática com os demais colegas da equipe econômica. De que adianta o BC aumentar os juros básicos, se, na outra ponta, o governo continua a apostar todas as fichas na expansão dos gastos públicos para aquecer a economia?
No momento, as prioridades do Planalto são outras. E a alta da taxa de juros, no limite, pode se mostrar intempestiva e inoportuna diante do calendário eleitoral.
Fonte: intelog.com.br
Por: Octávio Costa - Chefe de redação do Brasil Econômico
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