quinta-feira, 9 de maio de 2013

Inflação ao gosto do freguês



A taxa de inflação medida pelo IPCA subiu 0,55% no mês de abril, contra 0,47% de março. O resultado ficou acima da expectativa do mercado, que previa 0,48%. Nos últimos doze meses, a alta foi de 6,49%, ficando abaixo do teto da meta.

A partir dessa informação do IBGE, os observadores da cena econômica fizeram leituras distintas. Os mais pessimistas concluíram que a vaca foi para o brejo. Ou seja, ao contrário do que pensa o governo, a inflação continua fora de controle.

Analistas imparciais mostraram surpresa, mas atribuíram a variação aos alimentos e ao preço dos remédios, o que não deve se repetir. Pelo ângulo mais otimista, a ênfase vai para a volta do índice aos limites oficiais.

Como se vê, os intérpretes da inflação têm opinião para todos os gostos. Há, sem dúvida, os que torcem contra e apostam no desastre, como costuma dizer a presidente Dilma. Mas também existem os áulicos, aqueles que se comportam como Poliana e dão nó em fumaça para não desagradar as autoridades.

O melhor a fazer nessa hora é ouvir as vozes equilibradas, que fazem uma análise técnica e desapaixonada dos dados. Por aí, conclui-se que o grupo alimentos e bebidas, de fato, não respondeu como esperavam o mercado financeiro e o ministério da Fazenda.

Entre março e abril, a alta desse grupo pulou de 0,96% para 1,14%, quando os oráculos contavam com desaceleração, entre outros motivos pela desoneração da cesta básica. Não teve jeito: alimentos e bebidas contribuíram com mais de 40% da alta de abril.

Outro grande vilão do mês foram os preços de produtos farmacêuticos, com alta de 2,99%, refletindo reajuste autorizado pelo governo. O núcleo saúde e cuidados pessoais subiu 1,28%, contra apenas 0,32% em abril. Essas variações, certamente, desapontaram o ministro Mantega, que já respirava aliviado em relação ao comportamento dos preços.

Se o choque de oferta dos alimentos no Brasil e no exterior explicou boa parte da inflação em 2012, tudo indica que hoje pesam mais os fatores domésticos. Uma das explicações é a tentativa de repor as perdas, que tantos problema já trouxe à economia brasileira. É a tal da expectativa inflacionária. Não por acaso existe um corrente sindical que defende a volta do gatilho salarial.

De qualquer forma, o índice de abril é página virada. Quem sabe faz a hora e a hora é de olhar para frente. Octávio de Barros, do departamento econômico do Bradesco, vê viés de alta em suas projeções e aponta uma inflação anual de 5,4%. Destaca,porém, que a inflação acumulada em doze meses está cedendo. A variação anual média do IPCA caiu e o temido índice de difusão (o número de itens em alta) recuou de 69,04% para 65,75%. Os preços de serviços também continuaram em baixa, de 8,37% para 8,12%, sem falar na deflação nos preços agrícolas no atacado.

Os críticos de Mantega encontraram razão para elevar o tom de seus ataques. Mas o ministro também pode ressaltar a volta da inflação ao interior da meta. Quem está fora do embate não joga gasolina na fogueira e espera que os preços se acomodem até junho. Com a inflação no limite, o que mais preocupa hoje é o desequilíbrio da balança comercial, com importações bem à frente das exportações. Como dizia Simonsen, a inflação esfola, mas a crise cambial mata.



Fonte: Brasil Econômico (RJ)
Por: Octávio Costa

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