Reportagem do Estado de ontem mostrou o aperto financeiro que afeta um contingente maior de consumidores, obrigados a tomar empréstimos novos para quitar os antigos, às vezes, mais caros; a reduzir as compras financiadas; e a utilizar com mais parcimônia o cartão de crédito, pagando sem parcelamento, numa única vez.
Nas novas operações de empréstimo, a modalidade mais demandada é o crédito consignado, cujos custos são menores, segundo pesquisa da financeira Cetelem, do Grupo BNP Paribas.
Inflação elevada, queda do poder de compra da moeda, oferta menor de emprego e crescimento mais lento da renda pessoal explicam a retração dos consumidores. Os dados do Ministério do Trabalho, sexta-feira passada, indicaram que a criação de empregos formais, em maio, foi a menor dos últimos 21 anos.
O temor dos consumidores já afeta alguns indicadores, como as operações de aquisição de veículos, que diminuíram 5,9% na comparação entre os últimos 12 meses, até abril, e os 12 meses anteriores.
Na mesma base de comparação, as operações de crédito consignado aumentaram 20,8%, acima do crescimento médio dos empréstimos (16,4%) e da expectativa de alta em 2013.
Essa é de 15,5%, segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). No primeiro trimestre, o saldo da carteira de consignados do Bradesco cresceu 22% em relação ao mesmo período de 2012 e no Itaú também liderou os créditos.
O aspecto mais preocupante é que os tomadores procuram empréstimos para "fazer caixa", segundo a associação das financeiras (Acrefi). O endividamento, a rigor, já é um problema: até maio, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), quase 2/3 das famílias com renda inferior a 10 salários mínimos tinham dívidas demais. Se os recursos tomados no banco forem usados para completar as despesas regulares das famílias(alimentação, educação, aluguel, etc.), os riscos de inadimplência serão altos.
Por ora, os bancos estão mais rigorosos nas concessões de crédito, temendo um crescimento da inadimplência. Mas em maio, segundo a Serasa Experian, a inadimplência tendia à estabilização, embora 7,5% superior à de maio de 2012.
Há, de fato, um paradoxo econômico: do ponto de vista do consumidor, quitar as dívidas e recuperar o equilíbrio do orçamento é o melhor a fazer. Mas, no curto prazo, se o consumo cair, será difícil preservar o ritmo da atividade e emprego.
Fonte: O Estado de São Paulo - SP
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