segunda-feira, 22 de julho de 2013
Alta do dólar afeta venda de pacotes de intercâmbio
Mesmo assistindo a uma queda de demanda, o segmento de intercâmbios está sofrendo menos que os demais com o impacto com a alta do dólar, que encareceu os custos das viagens para o exterior nos últimos meses. Um dos motivos que colocou o setor em vantagem frente aos pacotes de turismo de lazer, por exemplo, é a flexibilidade dos preços e formas de pagamento, que algumas operadoras e agências do ramo têm promovido nas negociações dos produtos para fora do País.
Alternativas como possibilitar parcelamento com o valor do câmbio “congelado” ou adequar a programação, reduzindo o número de dias, buscando companhias áreas, hospedagem e escolas com valores menores, são algumas das manobras utilizadas pelas empresas para ofertar produtos mais acessíveis e assim driblar a baixa na procura. De acordo com o proprietário da Abic Cursos e Intercâmbio no Exterior, Rafael Sortica de Menezes, a iniciativa reduz a margem de ganho, mas compensa, uma vez que, pelo menos, mantém as vendas. “É possível negociar o câmbio, para poder adquirir um programa”, garante o empresário.
Menezes admite que, como o valor de um pacote de intercâmbio é cobrado em moeda estrangeira, sempre haverá impacto quando ocorrer flutuação do dólar. “A passagem aérea internacional e a assistência médica no exterior, por exemplo, são dois produtos comercializados em dólar, independentemente do destino”, informa, destacando que estes dois itens pesam mais no bolso do consumidor. Mas o empresário pondera que, levando em consideração o objetivo de uma viagem deste gênero, a alta da moeda estrangeira tem assustado mais por conta “de especulação”, do que por alterar demais os valores dos produtos. “As pessoas muitas vezes desistem de uma viagem antes de fazer o cálculo. Quando mostramos isso aos nossos clientes, a maioria percebe que a diferença financeira não é tão grande.”
Para se ter uma ideia de o quanto encareceu uma viagem para fora do País, na Abic um pacote completo (que inclui alimentação, curso de idioma por um mês, assistência médica e passagem de ida e volta) para o Canadá, passou de R$ 5,8 mil para R$ 6,7 mil. Na avaliação de outros empresários do ramo – e de alguns clientes também, segundo agentes de intercâmbio –, “não é um aumento suficiente para deixar de realizar um sonho”.
A advogada Roberta Pinheiro Farinon (30 anos) concorda. Com viagem marcada para Edimburgo, na Escócia, ela vai pagar em torno de 3 mil libras a mais para mergulhar em estudo intensivo de idioma, entre fevereiro e maio de 2014. Ao todo, Roberta irá desembolsar R$ 32 mil, contando aluguel de apartamento, passagens aéreas e o valor do curso (que estava em promoção, com desconto de 15% até o final de junho), sem contar a alimentação. Roberta garante que o investimento é valido, e avalia que não poderia ser adiado. “Este é o momento. Tenho escritório próprio e posso me ausentar, além disso, sou solteira e preciso muito aperfeiçoar o inglês britânico – que é bem peculiar –, pois na área onde atuo (direito marítimo) meus clientes são, na sua maioria, empresários de Londres ou da Holanda.”
Em plena expansão da carreira, a advogada acredita que “não faz diferença no montante pagar R$ 1 mil ou R$ 1,5 mil a mais”, por se tratar de um período para aprimorar o conhecimento. “Se fosse viajar para fazer compras, aí, com certeza, eu adiaria. Mas é complicado esperar para estudar, isso é algo que vai me dar retorno”, compara.
Roteiros de lazer sofrem mais com a cotação da moeda
Ao contrário de quem sonha em ampliar o conhecimento e se qualificar no exterior, via intercâmbio cultural ou de idiomas, os consumidores de pacotes turísticos de lazer estão menos convencidos de que vale investir em uma viagem para o exterior em momento de oscilação do câmbio. Casos como o da operadora de turismo Ana Cláudia Remaccha (32 anos), que há duas semanas desistiu de voar para fora do País, têm sido corriqueiros desde maio. Com a experiência de ter conhecido lugares como Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Grécia, Alemanha, Israel, entre outros, Ana Cláudia não está ansiosa para viajar. “Tenho a passagem, e iria embarcar no dia 1 de agosto para passar 10 dias de férias em Miami. Mas decidi adiar para o final do ano”, comenta.
De acordo com a operadora, mais do que receio, a decisão foi embasada em experiência vivida em julho do ano passado. “Fui para a Espanha fazer um curso, bem na época em que o câmbio disparou, mas voltei de lá precisando fazer empréstimo para pagar os gastos extras (e altos) que tive por lá.” Ana Cláudia afirma que o acréscimo dos custos foi resultado de falta de planejamento. “O que encareceu foi que precisei me deslocar de trem. Além disso, a alimentação na Europa é muito cara”, explica a operadora de turismo.
O sócio-proprietário da agência Point da Neve, Sandro Saltz –, que trabalha com pacotes para destinos voltados à prática de esqui (com alta temporada em junho, julho, agosto e setembro) – afirma que a empresa “sentiu” a diminuição de procura de produtos do gênero. “Apesar de o esporte ser muito procurado por pessoas que têm um poder aquisitivo alto, também é foco da gurizada que quer esquiar com os amigos, e foi neste segundo grupo que ocorreram muitos cancelamentos. Posso dizer que o impacto foi grande.” Saltz pondera que, por outro lado, houve “migração” de clientes que inicialmente iriam optar pelos EUA e Europa, que são mais caros, e decidiram ir para Bariloche, por exemplo.
Programação com antecedência é alternativa para reduzir gastos
Geralmente, a procura por cursos em terras estrangeiras é ajustada a um determinado momento de vida da pessoa. “Pode ser a conclusão do Ensino Médio, incremento do idioma durante as férias universitárias ou mesmo a necessidade de impulsionar a vida profissional com uma experiência no exterior”, concorda o diretor da Student Travel Bureu (STB), Roberto Conte. Além disso, complementa o empresário, quem opta por intercâmbio, se programa com bastante antecedência. “Então, não faz diferença a alta da moeda, pois grande parte da viagem já está paga no caso de quem está embarcando nos próximos meses. Este fator influencia mais para quem vai viajar por curto espaço de tempo”, reforça.
Na opinião da empresária Daniela Ronchetti, diretora da empresa organizadora de feiras internacionais de intercâmbios na América Latina, Edu Expo, “vale tentar negociar” o preço dos pacotes. Segundo ela, a média dos preços para cursos de inglês em Londres (com hospedagem em casa de família por quatro semanas) passou de R$ 6,8 mil para R$ 7,7 mil por conta da variação do dólar. “Há pacotes mais baratos e mais caros que isso. O valor da passagem também pode variar de acordo com a data, a antecedência da compra e a possibilidade de parcelar”, resume.
Fonte: Jornal de Turismo
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