quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Armadores, embarcadores e navios

Desde que iniciamos nossa luta e labuta na área de comércio exterior, há mais de quatro décadas, temos ouvido as mesmas reclamações dos embarcadores contra os fretes. Em especial sobre o marítimo, em que se reclama dos armadores, afirmando que os custos são sempre altos.

Em realidade, eles caíram muito ao longo dos últimos 30-40 anos em face do crescimento astronômico dos navios e suas economias de escala – cujos navios já chegaram neste mês de julho a 18.000 TEU - Twenty feet of equivalent unit (container de 20 pés, ou
6,09 metros). Os fretes da década de 70-80 eram de fato altíssimos, mas hoje são bem mais baixos.

Todos sabem que apenas reclamar de nada adianta. O que resolve é ação – o que não existe. Não  vemos esse pessoal unindo esforços para conseguir o que  quer. Os embarcadores nunca fizeram algo de concreto nesse caminho, ignorando solenemente que a união faz a força. A única coisa conjunta que costumamos ver é a reclamação,
mas feita isoladamente.

Não existe um clube de embarcadores no País. Não há um fórum permanente de debates entre eles. Nem isso ocorre dentro das Federações de Indústria e/ou de Comércio, o que seria normal .

No nosso entendimento, a situação do transporte marítimo internacional deveria ser debatida seriamente. Principalmente porque somos uma ilha, e nossa saída e entrada
de carga é a marítima, com 96% fisicamente. Um fórum de debates entre embarcadores e armadores deveria ser uma constante, mas poucas são as chances disso .

Anualmente temos a maravilhosa Intermodal South America, uma excelente oportunidade para debates. Na prática, porém, isso não ocorre. Temos alguns eventos durante a feira, mas nem de longe chegam onde entendemos que deveriam chegar: às "vias de fato", no bom sentido. Entendemos que isso ocorre por culpa dos embarcadores.

Também os clubes morrem, como por exemplo, o "Clube da Âncora" em São Paulo, que há muito perdeu os armadores. Estes não o frequentam mais, como no passado, quando  o Clube era deles e por eles criado. Tudo em nome de uma determinação europeia, segundo  consta – nem temos certeza se é fato e aguardamos que alguém nos diga a realidade. Diz-se que os armadores não podem se juntar em eventos sociais, se encontrarem fora de eventos profissionais.

O fato é que há anos não se vê uma viva alma marítima no Clube. Por sinal,  e o pior de tudo,  é que, de fato, também não adiantaria nada agora: uma união dos embarcadores hoje estaria atrasada pelo menos uns 30 anos. Neste tempo, cansamos de ver fatos que tornaram este fórum de discussão quase impossível, em nossa modesta opinião.

A realidade é que há fatos incontestáveis que inviabilizam qualquer poder dos embarcadores perante os armadores. Um deles é que o Brasil perdeu o bonde, ou o navio da história, ao perder sua frota marítima.

Até o início dos anos 80, pelo que nos  consta, a marinha mercante brasileira representava 30% do comércio exterior brasileiro. Marinha perdida, que foi desaparecendo ou vendida aos armadores estrangeiros. Hoje em dia, quando muito, representa 1% do nosso transporte marítimo.

A indústria naval – em que, segundo sabido, fomos o segundo maior construtor de navios do mundo naquela mesma época –  também morreu e tenta hoje ressuscitar. Pretendendo encarar países como a Coreia do Sul, China e outros construtores de navios de 18.000 TEU e 400.000 mil toneladas de carga. Infelizmente,  é um aparente sonho de uma noite insone de verão – em que não se farão mais coisas como aquelas que fazíamos.

Outro fato é que nesse período, em que perdemos nossa marinha e nossos  estaleiros, os armadores iniciaram um processo de união jamais visto, em que super- hiper- mega armadores foram criados. De tal forma que alguns deles, de containers, com apenas meia frota, podem movimentar todas as unidades que o Brasil movimenta em seus portos anualmente – seja na importação, exportação, cabotagem, cheios, vazios, transbordos etc.

Tivéssemos mantido nossa marinha mercante e nossos estaleiros, poderíamos ter participado dessa festa com alguma galhardia. Possivelmente teríamos também grandes armadores e, certamente, estaríamos construindo navios para esses armadores brasileiros e os armadores estrangeiros, como ocorre hoje, em especial, com a Coreia e a China.

Possivelmente não teríamos hoje a vexatória situação de termos que construir os nossos navios no exterior.

E nem a insólita situação de construirmos navios porta-containers ao preço  de cerca de
US$ 25,000.00 ou mais por slot (uma posição de container), contra o exterior, tendo preço de cerca de uns US$ 12.000,00 o slot. Ou até menos.


Fonte: Diário do Comércio, da ACSP
Por: Samir Keedi é  consultor e professor da Aduaneiras e de várias universidades, e autor de vários livros em comércio exterior.samir@multieditoras.com.br



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