terça-feira, 27 de agosto de 2013
BRASIL INVESTE POUCO EM ACORDOS COMERCIAIS
Empresários e especialistas em mercado internacional fizeram críticas nesta terça-feira (27), durante o 5º Encontro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras, à política externa brasileira e à pouca exploração de acordos de livre comércio pelo país. O encontro ocorreu no hotel Renaissance, na capital paulista, e reuniu tradings, representantes do governo e lideranças empresariais e de comércio exterior. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola, afirmou que há uma carência da participação do Brasil em mercados mais evoluídos e disse que o país tem hoje apenas cinco acordos, com mercados "restritos", dos quais três não estão em vigor.
O Brasil, em função da sua participação do Mercosul, bloco que inclui também Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela, não pode firmar acordos de preferências tarifárias ou livre comércio sozinho, mas com o grupo. E o Mercosul tem poucos acordos, atualmente apenas com Índia, Israel, Palestina, Egito e com a União Aduaneira da África Austral (SACU). De acordo com Laviola, apenas os acordos com Índia e Israel já estão vigentes. Ao mesmo tempo, disse ele, o Mercosul passa por um momento difícil e ainda não evoluiu para um livre comércio. O bloco tem se mostrado mais um instrumento político do que comercial, segundo Laviola.
O coordenador de Estudos em Relações Econômicas Internacionais da Diretoria de Estudos em Relações Econômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ivan Tiago Machado Oliveira, falou que o mundo passa atualmente por um questionamento sobre onde serão criadas as regras de comércio. "A OMC está parada do ponto de vista de criação de regras", disse Oliveira, sobre a Organização Mundial do Comércio. Ele lembrou a falta de um entendimento na Rodada Doha, acordo de comércio entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que começou a ser discutido em 2000 e ainda não chegou a um consenso.
"Onde serão criadas as regras: no sistema de multilateralismo, que está travado, mas tem um histórico na resolução de conflitos, ou nos acordos preferenciais?", afirmou o executivo do Ipea. Ele disse que o Brasil segue três trilhos no comércio internacional, o da preferência pelo multilateralismo, a integração da América do Sul e os acordos comerciais como os feitos com Índia e Israel. "A política externa não leva em conta a criação de comércio", afirmou. O Mercosul chegou a começar tratativas de um acordo com a União Europeia, mas ele também não foi concluído. "Sou cético de que se chegará a um acordo com a EU", disse Oliveira.
O coordenador disse que o setor privado do Brasil também não é pró-abertura como às vezes coloca ser. "A gente marginaliza a nossa agenda de negociação comercial", afirmou Oliveira. Ele afirmou, no entanto, que esse talvez seja um bom momento para o Brasil se voltar ao comércio internacional, já que o modelo de crescimento econômico baseado no crédito, consumo e exportação de commodities está "chegando ao fim". "Talvez o contexto de relativa crise nos seja positivo para repensar o comércio internacional", afirmou.
Na palestra de abertura do encontro, que tratou de acordos internacionais, também falaram Adoni Hernandez Bengoa, advogado da Cuatrecasas, Gonçalo Pereira, e o gerente de Internacionalização da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex), Juarez Leal. Aos empresários das tradings, Leal mostrou um trabalho que a Apex fez para indicar mercados estratégicos para internacionalização das empresas. No levantamento, a Apex indica a estratégia adequada para inserção de produtos brasileiros em cada caso. Há os mercados para os quais a Apex indica monitoramento, que são aqueles nos quais o Brasil já tem uma presença representativa, como Argentina, Venezuela e França. Há os em consolidação, que já são conhecidos pelas empresas brasileiras, mas há potencial de avanço nos próximos anos. Nesse perfil se encaixam Estados Unidos, Peru, Colômbia e Chile, entre outros.
A Apex indica como mercados em desenvolvimento países como Rússia, China, Arábia Saudita e África, nos quais já há algum conhecimento e é possível crescer no longo prazo. Mercados para prospecção são os poucos conhecidos, mas com potencial para o comércio e neste perfil o organismo enquadra Egito, Turquia, Índia, Moçambique e Nigéria, entre outros. Há ainda mercados desconhecidos, mas que são bons compradores, com Irã e Romênia.
O encontro foi promovido pelo Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (Ceciex), com apoio de outras entidades como Apex e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP). As duas vêm trabalhando junto com o Ceciex para a promoção dos produtos de micro, pequenas e médias empresas brasileiras no mercado internacional, por meio das tradings. De acordo com o presidente do Ceciex, Roberto Ticoulat, hoje existem ao redor de 30 mil empresas comerciais importadoras e exportadoras no País.
Além de discussão sobre o comércio exterior, o encontro teve um espaço para entidades mostrarem seus serviços às tradings. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira participou, oferecendo informações para as comerciais importadoras e exportadoras sobre o mercado árabe.
Fonte: Agência Anba
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