quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cerca de 30% dos recursos são mal gastos



Desorganização das linhas e viagens deve ser resolvida com a licitação e o controle tecnológico

Escher vê gasto irracional de R$ 1 bilhão na região metropolitana
Resolver o problema do emaranhado de linhas de ônibus que percorrem diariamente a Região Metropolitana em direção à Capital é o que pretende, entre outras coisas, a licitação do transporte público metropolitano, que pode acontecer no próximo ano. O novo modelo deve contar com um consórcio, formado pelas empresas e pelo Poder Público, que fará a gestão do bilhete único - integração dos sete cartões utilizados atualmente, incluindo o da Capital. A Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) e a Secretaria de Obras Públicas, Irrigação e Desenvolvimento Urbano (SOP) sabem que a tarefa não é fácil, pois a desorganização do sistema vem de décadas e envolve interesses e, principalmente, lucro.

“Todos os dias, 33 mil viagens chegam ao Centro da Capital, muitas delas se sobrepondo, com ônibus transitando vazios ou cheios. É uma operação burra e queremos torná-la mais eficiente”, explicou o titular da SOP, Luiz Carlos Busato, em entrevista coletiva no intervalo da oficina Sistema Integrado de Transporte, realizada ontem na Capital. Segundo o diretor-superintendente da Metroplan, Oscar Escher, fazendo uma estimativa superficial, a desorganização do sistema faz com que 30% dos recursos sejam gastos de forma irracional. “Se existe uma nuvem de recursos de R$ 3 bilhões, quase R$ 1 bilhão é mal administrado”, explica. Uma logística mais eficiente de viagens pode levar, até mesmo, à redução das tarifas.

Outra revisão será feita nas isenções. De acordo com Escher, o passageiro não pode arcar com as gratuidades, é preciso encontrar outra fonte, até nesta “nuvem” de lucro. Além disso, ele ressalta que a licitação do transporte público urbano da Capital deve ser feita de maneira conjunta, pois 50% dos 500 mil passageiros diários do transporte são da cidade. “O transporte urbano e o metropolitano terão editais distintos, mas devem ter a mesma padronagem”, explica. O modelo incluirá o transporte hidroviário e o ferroviário.

A licitação para um sistema de transporte integrado já vinha sendo discutida há anos, porém, o diretor e o secretário dizem que não houve efetivação principalmente por falta de competência administrativa. Busato afirma que atualmente aconteceu o “alinhamento dos planetas” para a efetivação, referindo-se ao grande investimento em obras, com o orçamento do PAC, a possibilidade de instalação do metrô e o domínio da tecnologia necessária.  Recentemente, foi implantada uma plataforma eletrônica, com custo de R$ 1,2 milhão, que cruza todas as informações das viagens, passageiros e rotas. Isso possibilita um controle maior das operações. “Algumas empresas recebem uma grande parcela de dinheiro que não é informada. Não há como sustentar um sistema em que o operador manda. O gestor precisa ser o Estado”, afirma. Hoje, 24 empresas operam o sistema em 32 cidades, utilizando 2,1 mil ônibus em 225 linhas. Existem ainda 16 companhias que exploram 137 linhas nos aglomerados urbanos Norte e Sul e no Litoral Norte.

Uma das obras que auxiliarão o sistema será a construção de uma faixa, de 50 quilômetros, exclusiva para ônibus, que passará por Novo Hamburgo, Alvorada, Viamão e Porto Alegre, e será monitorada eletronicamente pela Metroplan. Atualmente, a fundação trabalha com 12 fiscais, mas serão contratados, emergencialmente, mais 30. Para 2014, está previsto um concurso com 150 vagas.

Sobre a possibilidade de a licitação acontecer em 2014, Busato diz que ainda é preciso um diálogo com os operadores e as prefeituras, além da criação do consórcio metropolitano. “Não sei se terminaremos esse processo no ano que vem, pois isso é um trabalho de muitas mãos. É possível que comece pela área que envolve Novo Hamburgo, São Leopoldo, Esteio, Sapucaia, Canoas e Porto Alegre.”

Multas a empresas aumentaram 149% neste ano

Conforme a Metroplan, em 2012 foram aplicadas 145 autuações a empresas da Grande Porto Alegre, enquanto em 2013 já foram 285 multas - um aumento de 149% nas ocorrências. A maior incidência das reclamações dos usuários, conforme o Serviço de Atendimento ao Usuário da estatal, trata dos atrasos nos horários executados pelas empresas. Neste ano, 1.105 ocorrências, segmentadas entre informações, reclamações, sugestões e elogios, foram registradas. As infrações às empresas são segmentadas e variam entre R$ 144,42, para recusa de embarcações e conversas desnecessárias do motorista, até R$ 577,71, para atrasos. Uma das atribuições ao aumento refere-se à maior rigidez na fiscalização.


 Jornal do Comércio - RS
Jessica Gustafson

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