quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ponto Final - Onde isso vai parar?

Em meados da década de 70, quando comandava a economia brasileira, Mario Henrique Simonsen trazia uma resposta pronta sempre que lhe pediam uma previsão sobre a taxa de câmbio: “Ministro da Fazenda não dá palpite sobre a cotação do dólar. Isso é tarefa de gente do mercado”.

Há cerca de quatro anos, em meio à crise internacional, Henrique Meirelles, então à frente do Banco Central, também evitava prognósticos sobre o câmbio. Diante de sugestões para evitar as oscilações da moeda, chegou a afirmar que "uma política monetária, nessa direção, se tornaria errática, atuaria como uma biruta ao sabor do vento, e não como âncora da estabilidade". Tanto Simonsen quanto Meirelles acreditavam que deviam agir com prudência em momentos de alta volatilidade cambial.

Os atuais responsáveis pela política econômica pensam bem diferente. O ministro Guido Mantega e o presidente do BC, Alexandre Tombini, têm falado quase diariamente sobre a desvalorização do real. Em nota oficial, Tombini garantiu que "nesse contexto, o BC não deixará de ofertar proteção aos agentes econômicos e, se necessário, liquidez aos diversos segmentos do mercado".

Ontem, graças a novos leilões, venceu momentaneamente a queda de braço. Mantega, por sua vez, mostra-se inseguro diante da alta do dólar: "Nós não sabemos onde isso vai parar. Pode parar para menos ou para mais. Alguma influência na inflação deverá ter, mas ainda não teve", disse. Se é para aumentar a incerteza, melhor faria o ministro se seguisse o exemplo de Simonsen. Ministro da Fazenda não deve revelar surpresa com as oscilações do câmbio.

O ataque à moeda não está acontecendo apenas no Brasil. Ameaça as economias emergentes em geral. Na Índia e na Indonésia, as rúpias também sofrem forte desvalorização. Em Nova Déli, com o fracasso das medidas oficiais, a oposição já pede eleições antecipadas. Diante das incertezas, o banco Morgan Stanley recomendou aos clientes que apostem contra a moeda de cinco países frágeis: a saber, Brasil, Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul.

Afirma a instituição financeira que esses países têm em comum elevado déficit em conta corrente e nível alto de inflação ao consumidor. Vale lembrar, porém, que o Morgan Stanley é o menor dos seis maiores bancos norte-americanos e foi rebaixado em 2011 pelas principais agência de classificação de risco, o que põe sua credibilidade em xeque.

A economia brasileira, de fato, não exibe saúde de ferro. Passou em branco em 2011 e não evolui este ano no ritmo que Guido Mantega desejava. As previsões de crescimento caíram para algo em torno de 2%, com a inflação próxima do teto da meta. Mas não houve agravamento do quadro nos últimos meses. Ao contrário, os preços se estabilizaram e o governo aposta todas as fichas no programa de concessão de rodovias e aeroportos.

Empresários do setor de infraestrutura também garantem que os leilões marcados para outubro serão um sucesso. Preveem que as concessões do Galeão-Tom Jobim, no Rio, e de Confins, em BH, alcançarão preços elevados, o que, no limite, vai exigir desembolso extra da Infraero, parceira compulsória na modernização dos dois aeroportos. A expectativa também é otimista para as licitações de rodovias. Quem viver verá. Mas, de cabeça fria, vale confiar no Brasil contra o pessimismo do Morgan Stanley.

Brasil Econômico
Octávio Costa é Chefe de Redação do Brasil Econômico

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