quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Espanto

O aumento do PIB de 1,5% no segundo trimestre sobre o primeiro trimestre de 2013 foi consideravelmente maior do que o de seu homólogo em 2012 (0,1%), uma boa notícia, e não só porque foi superior a todas as previsões do mercado.

O espanto que produziu sugere uma dissonância entre o enorme pessimismo que o mercado tem manifestado e a realidade que estamos vivendo. Sem dúvida houve uma deterioração da taxa anual de crescimento da economia quando medida no exercício que se encerra no primeiro semestre: 3,8% em 2011, 0,6% em 2012 e 2,6% em 2013.

É visível, por outro lado, que a taxa de crescimento entre cada trimestre sobre seu homólogo do ano anterior vem se acelerando, como se vê na tabela ao lado.

Um fato importante é que, quando analisamos o aumento da taxa entre o segundo trimestre de 2012 e o de 2013, pelo lado da oferta, a recuperação da indústria, de menos 2,4% para mais 2,8% explica quase metade do diferencial, parecido com o efeito da agropecuária. E, quando olhamos pelo lado da demanda, vemos uma acomodação do consumo (privado e público).

O fundamental foi o aumento de formação bruta de capital fixo, de menos 2,7% para mais 9%, e do comércio exterior. Houve um crescimento da componente exportação e uma diminuição da importação.

Esses fatores poderão continuar a jogar um papel importante na continuidade da aceleração do crescimento desde que: 1) prossiga o esforço para melhorar a relação de confiança entre os setores público e privado; 2) as políticas fiscal e monetária atendam aos objetivos anunciados; 3) a política cambial, combinada com tarifas efetivas mais ajustadas, estimule as exportações no médio prazo e reduza as importações no curto; 4) a economia mundial acelere o seu crescimento, estímulo coadjuvante importante para nossas exportações.

No curto prazo, a situação é mais complicada. Tendo crescido 2,6% no primeiro semestre de 2013 sobre o de 2012, as condições para um crescimento robusto no ano são duvidosas. O que pode mudar essa perspectiva é um enorme sucesso nos leilões de infraestrutura e energia e um comportamento amigável de governo, que coopte o “espírito animal” dos empresários com uma política pró-mercado, e não com subsídios.

Com um crescimento de 2% no segundo semestre, o que hoje ainda parece difícil, o crescimento do PIB em 2013 será parecido com 3%.

Economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura


Jornal do Comércio - RS
Delfim Netto **


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