quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Eclipse parcial dos Brics


Principais estrelas da economia mundial desde o começo da crise, os emergentes perderam impulso e vários deles devem avançar mais lentamente nos próximos anos.

Nesse quadro há pelo menos uma notícia positiva para o Brasil. A economia brasileira deve crescer em média 3,5% nos cinco anos à frente, bem mais que no período 1998-2013, quando a expansão anual ficou em 2,9%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Terão desempenho pior - mas só em termos relativos - a China, a Índia e a Rússia, se as projeções se confirmarem. A aparente vantagem brasileira termina aí. A expansão chinesa passará de 9,6% ao ano para 7%. A indiana, de 6,9% para 6,7%. A russa, de 4,4% para 3,5%. Para a África do Sul, a perspectiva é de aumento de 3,2% para 3,5%. O Brasil continuará na rabeira e a aceleração estimada dependerá de ajustes e reformas.

A mudança de perspectiva para os emergentes, e especialmente para os Brics, foi um dos temas centrais de entrevista do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. Os novos problemas dos Brics foram examinados num tópico especial do novo relatório do Fundo sobre o panorama global. Conclusão do estudo: a desaceleração é, ao mesmo tempo, cíclica e estrutural e é preciso atacar os dois lados do problema.

A recessão global, a perda de vigor do comércio e a acomodação dos preços das commodities, depois de anos de alta, compõem o lado cíclico. Com a mudança do cenário, diminuiu o potencial de crescimento dos países do grupo, mas isso se explica também por problemas estruturais. As mesmas palavras aplicam-se às economias chinesa e brasileira, mas com implicações muito diferentes para a agenda econômica.

No caso da China, encolheram as possibilidades de expansão baseada no comércio exterior e numa taxa muito alta de investimento - de mais de 40% do PIB. A solução, nesse caso, envolve uma ampla alteração do estilo de crescimento, com maior ênfase no consumo e na disciplina financeira, com maior controle dos créditos não bancários. No caso do Brasil, investir mais é o principal desafio. Além disso, é preciso arrumar a casa, em termos macroeconômicos, e isso envolve maior cuidado com as contas públicas e um ataque mais firme à alta de preços. Economistas do FMI têm chamado a atenção para o estreito espaço de manobra dos países com inflação continuamente acima da meta oficial - como o Brasil.

Reduções do crescimento ocorreram várias vezes nos Brics e essa experiência é bem conhecida no Brasil. Mas desta vez a mudança atraiu a atenção por sua severidade. A desaceleração dos Brics era esperada, especialmente por causa de sua vigorosa recuperação em 2010, mas a perda de impulso foi surpreendente, segundo os autores do relatório do FMI.

O conceito de crescimento potencial é útil para a compreensão de fenômenos e a formulação de políticas. A inflação tende a subir, quando a economia cresce além de seu potencial, e a diminuir, quando ocorre o contrário. Portanto, se o crescimento se reduz, mas a inflação se mantém, ou aumenta, o potencial de expansão econômica deve ter diminuído. Esse é o caso do Brasil, onde se combinaram, nos últimos anos, crescimento baixo e em queda e inflação muito acima da meta e, ocasionalmente, além do limite de tolerância.

Segundo o relatório, o crescimento potencial do Brasil foi de 3,2% em 2011 e deve ter caído para 2,8% em 2013. A evolução efetiva da economia foi atribuída em parte a fatores cíclicos e a componentes estruturais. O potencial estimado para China e Índia foi muito maior que o brasileiro. O PIB brasileiro tem crescido pouco acima ou pouco abaixo do potencial e deverá, nos próximos anos, continuar limitado por um teto muito baixo. Além da inflação sempre elevada, a piora das contas externas é importante sintoma de despreparo da economia brasileira para uma expansão mais acelerada. Ao mencionar os problemas estruturais do País, economistas do FMI têm mencionado as limitações do lado da oferta - um lado até há pouco menosprezado ou ignorado pela presidente Dilma Rousseff e pelos demais formuladores da política econômica.


O Estado de São Paulo - SP

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