O Japão está reavaliando a importância da América Latina e quer reforçar o comércio e principalmente os investimentos na região. Esta é a mensagem do premiê japonês, Shinzo Abe, na sua visita ao Brasil. Ele disse esperar propostas do setor privado para uma eventual negociação de um acordo de livre comércio com o Mercosul. Abe encerrou sábado, em São Paulo, sua visita de uma semana a cinco países da América Latina, que incluiu México, Chile, Colômbia e Trinidad e Tobago. Por coincidência, a viagem ocorre duas semanas depois de o presidente chinês, Xi Jinping, também ter visitado a América Latina. A China tem sido muito ativa na promoção de comércio, investimentos com a região e na realização de parcerias para garantir o suprimento de recursos naturais para a economia chinesa. Mesmo sem citar diretamente a China, Abe deixou claro que o Japão ficou para trás nesses aspectos em relação ao rival asiático. Com sua viagem, o líder japonês busca recuperar terreno. "Esta é a primeira visita de um premiê do Japão à América Latina em dez anos", disse Abe em entrevista coletiva no sábado. "Precisamos redefinir a importância da América Latina" para o Japão. "Chegamos a um acordo para criar uma parceria estratégica e global" entre Japão e Brasil, disse Abe sobre sua reunião com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, na sexta-feira. O premiê destacou que Japão e América Latina compartilham valores como democracia, respeito aos direitos humanos e liberdade. Novamente sem citar a China, ele sugere claramente com isso que o Japão é um parceiro mais próximo. "O japonês é confiável", afirmou, referindo-se à presença histórica de empresas e imigrantes japoneses na região. "Gostaria de ampliar mais essa relação, de crescer juntos, de contribuir juntos e de inspirar juntos", disse Abe, usando o lema da parceria que ele propõe à região. Indiretamente, isso também remete à China. Abe parece querer dizer que o Japão quer cooperar pelo desenvolvimento comum, enquanto a China priorizaria o seu próprio desenvolvimento. O Japão tem uma presença antiga no Brasil, onde grandes empresas japonesas já atuam há muitas décadas. Agora Abe trouxe em sua comitiva também pequenas e médias empresas japonesas. Seu governo acha que as PMEs do país estão atrasadas no processo de internacionalização e vem buscando estimular isso. No Brasil, foi assinado um convênio com o BNDES nesse sentido. Questionado pelo Valor sobre a possibilidade de um acordo de livre comércio entre Mercosul e Japão, Abe desconversou. Disse que os setores privados dos dois países estão discutindo esse tema e que ele espera receber propostas concretas. Assessores do premiê dizem que o país tem interesse em negociar um acordo comercial, mas veem uma grande dificuldade em convencer Argentina e Venezuela. Na América Latina, o Japão já tem acordos livre comércio com México, Peru e Chile, e está negociando com a Colômbia.
Valor Econômico
04/08/2014
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