A queda das commodities agrícolas e a demanda interna mais fraca devem reduzir o impacto da disparada do dólar na inflação, avaliam economistas, mas o câmbio é considerado um importante risco para a trajetória dos preços na reta final do ano. Analistas consultados pelo Valor mantiveram suas estimativas para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014, mas não descartam que a maior volatilidade devido às eleições leve a uma depreciação mais relevante do real. A moeda americana encerrou a semana cotada em R$ 2,46, com alta de 2,6% em relação à semana anterior. A Tendências elevou recentemente sua projeção para a cotação ao final de 2014, de R$ 2,18 para R$ 2,32, mas a previsão para o aumento do IPCA no ano ficou em 6,1%. O cenário principal da consultoria conta com vitória da oposição nas eleições presidenciais e, por isso, é esperado que o dólar não se mantenha nos altos patamares atuais, afirma a economista Adriana Molinari, em função de uma melhora das expectativas. Adriana pondera, no entanto, que o quadro eleitoral ainda pode trazer muita instabilidade à variação da taxa de câmbio, o que a torna o principal risco para a inflação em 2014. Do outro lado, as cotações de commodities devem continuar em patamar baixo até 2015. Além disso, a desaceleração da atividade doméstica não favorece repasses de preços, fatores que podem mitigar reajustes no IPCA. A safra de grãos nos EUA e os estoques no mercado externo contribuem para que os preços continuem em trajetória de queda até o fim do ano", afirmou. Nos cálculos da economista, uma depreciação cambial de 10% adiciona 0,5 ponto ao indicador oficial de inflação num horizonte de quatro trimestres. Tendo em vista o cenário atual da consultoria, o impacto estimado do dólar na inflação será de apenas 0,14 ponto percentual nos últimos três meses de 2014, já que o real deve se desvalorizar em 2,8% sobre a média do último trimestre de 2013. Na sexta-feira passada, a equipe econômica do Itaú Unibanco aumentou ligeiramente sua estimativa para o IPCA de 2014, de 6,3% para 6,4%, mas não em função do câmbio. A revisão foi feita após a surpresa com a alta de 0,39% da prévia da inflação de setembro, que ficou acima do previsto. Sobre o dólar, os economistas do banco apontam em relatório que o movimento recente, que veio na esteira do cenário internacional, confirmou a expectativa de depreciação do real neste e no próximo ano. O Itaú manteve suas estimativas para o dólar ao fim de 2014 e 2015 em R$ 2,40 e R$ 2,50, respectivamente. A trajetória do câmbio é uma fonte de incertezas maior para a inflação do próximo ano do que para o índice de 2014, diz Fabio Romão, da LCA Consultores, porque depende de quem vencerá as eleições e da reação do mercado ao resultado. A consultoria projeta há um bom tempo que a taxa de câmbio vai chegar a R$ 2,45 na média de dezembro de 2014, muito acima do patamar médio registrado em setembro, de R$ 2,33. Esse cenário já está incorporado na estimativa de 6,3% para o avanço do IPCA deste ano. Romão diz que não deve mudar sua projeção para a inflação deste ano, porque os preços do atacado seguem em nível bastante comportado, enquanto a desaceleração da renda pode mitigar reajustes em itens do IPCA como passagens aéreas, bens duráveis e semiduráveis. A LCA também trabalha com alta de 6,3% para o IPCA de 2015, com o dólar cotado em R$ 2,55 ao fim do ano. Neste caso, porém, a previsão é mais incerta.
Valor Econômico
06/10/2014
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