Um
estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e
da Globalização Econômica (Sobeet) mostra que a qualidade dos aportes
estrangeiros diminuiu no Brasil. Pouco tem sido investido em projetos de
longo prazo de infraestrutura e de modernização dos setores produtivos
da economia. O presidente da organização, Luis Afonso Lima, explica que
os investidores estão mais cautelosos com o País por conta, em parte, da
perda de fôlego do mercado interno. Apesar de ocuparmos a quinta
posição entre os países que mais recebem investimentos estrangeiros
diretos (IED), dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD), mostram que a participação brasileira nos
fluxos globais de IED recuou para 4,4% em 2014, contra 4,9% no ano de
2012. Os aportes que chegaram no Brasil até setembro deste ano foram 20%
maiores do que no mesmo período de 2013. No entanto, as companhias têm
alterado o seu perfil de investimento no País, dando mais prioridade a
operações de curto prazo. A menor qualidade desses aportes tem sido
observada desde a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a
investimentos estrangeiros, estabelecida pelo governo em junho do ano
passado. A medida fez com que se elevassem os empréstimos entre
companhias estrangeiras e nacionais, em uma proporção superior à média
histórica do Brasil. Além disso, a Sobeet avaliou que as filias de
matrizes estrangeiras no Brasil estão segurando mais os investimentos,
adiando por um tempo mais longo as amortizações de empréstimos. A
instituição afirma que, sem esses efeitos, a entrada de aportes no
Brasil seria 26% inferior ao resultado divulgado pelo Banco Central no
período acumulado dos últimos doze meses. "Não está sendo investido em
projetos de modernização e de infraestrutura no Brasil. Além disso, está
ocorrendo uma redução dos projetos anunciados, mesmo com entrada alta
de aporte estrangeiro", afirma Lima. "Para atrair investimentos em
infraestrutura é preciso que o Brasil tenha estabilidade de regras nos
contratos e marcos regulatórios. Essa ausência de conformidade dificulta
muito", complementa Lima. De acordo com dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), até janeiro desse
ano, foram anunciados projetos de investimentos estrangeiros no valor
de US$ 26,2 bilhões. Em todo o ano de 2013, essa soma foi de US$ 62,6
bilhões. O Norte e Nordeste são as regiões onde os projetos de
investimento vêm caindo ao longo dos anos. Entre 2010 e 2012, o Norte
recebeu US$ 15,7 bilhões em investimentos, e entre 2013 e junho de 2014,
essa proporção se reduziu para o patamar de US$ 7 bilhões No mesmo
período, o nordeste passou de US$ 20,3 bilhões para US$ 10,4 bilhões em
projetos anunciados. Já no Sul e no Centro-Oeste, os investimentos
anunciados se elevaram, de US$ 5,7 bilhões para US$ 22,9 bilhões e de
US$ 3,8 bilhões para US$ 7,6 bilhões, respectivamente. Lima explica que a
queda nas regiões norte e nordeste ocorreram por conta da desaceleração
do consumo. "Os investimentos estrangeiros nessas regiões sempre foram
muito concentrados em consumo", diz Lima. "É preciso, portanto,
redirecionar esses investimentos para obras de saneamento básico,
energia e infraestrutura", completa ele. O documento da Sobeet
"Propostas de Políticas para os Investimentos Diretos Estrangeiros",
conclui também que o estoque de IED favorece a inserção dos países nas
cadeias globais de valor. Isso decorre da elevada participação das
exportações de transnacionais nas exportações mundiais. Apesar do valor
adicionado local das exportações brasileiras estar entre as mais
elevadas do mundo, em 87%, a nossa taxa de participação nas cadeias
globais de valor é a segunda mais baixa. Lima explica que isso acontece
porque as companhias estrangeiras estão mais voltadas ao mercado
interno. "É preciso trazer investimentos complementares aos setores que
queremos desenvolver", finaliza Lima.
DCI
31/10/2014
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