Com um excedente de
capacidade instalada de 280 milhões de toneladas, equivalente à metade do
excedente de 570 milhões de toneladas registrado no mundo em 2013, a China é
considerada o principal inimigo do setor siderúrgico do Brasil. O quadro se
agrava, segundo expôs hoje (26), no Rio de Janeiro, o presidente do Conselho
Diretor do Instituto Aço Brasil (IABr), Benjamin Mário Baptista Filho, diante da
perspectiva de aumento de capacidade adicional de aço em torno de 170 milhões de
toneladas, referente a usinas que estão em construção e entrarão em operação nos
próximos anos.
A expansão prevista
da capacidade excedente tem também prevalência da China, com 69 milhões de
toneladas, além dos países do Oriente Médio e da Índia. A capacidade atual
global está em 2,168 bilhões de toneladas, para um consumo de 1,598 bilhão de
toneladas.
Segundo dados do
Instituto Aço Brasil, o consumo de aço não cresceu no Brasil entre 2010 e 2014,
o que resultou em um excedente da capacidade instalada no país de 73%, ou o
equivalente a 20,7 milhões de toneladas. Isso significa que se o consumo
aparente crescer à taxa de 7% ao ano, "que seria o paraíso", o país teria
capacidade de produção para os próximos dez anos, indicou Baptista Filho. Por
outro lado, em termos de utilização da capacidade instalada, o Brasil está
operando abaixo da média mundial (78%), com média de 69,7%.
Baptista Filho
disse, por outro lado, que as importações, tanto de produtos acabados, como do
chamado aço indireto, contido em mercadorias como máquinas e equipamentos, vêm
subindo sem cessar no Brasil desde 2007. O total importado de aço deve alcançar
quase 5 milhões de toneladas em 2014, totalizando 9,045 milhões de toneladas ,
desde 2007. "Nós estamos importando hoje no Brasil uma Usiminas", lamentou.
Em 2000, a
importação brasileira de aço tinha como maior fonte a Europa (48%) e a América
Latina (33,1%), enquanto a China representava fatia de 1,4%. No ano passado, o
cenário mudou, com a China aumentando a participação para 37,8%. Em 13 anos, a
participação da China nas importações brasileiras cresceu 36,4 pontos
percentuais. A perspectiva para 2014 é aumento desses números. O presidente do
conselho do IABr destacou, contudo, que esse fenômeno não é só brasileiro. Ele é
percebido também nas Américas do Sul e do Norte. Acrescentou que a produção
anual de aço no Brasil equivale a 18 dias de produção na China, que totaliza
atualmente em torno de 1 bilhão de toneladas.
Baptista Filho
avaliou que mantido o ritmo dos últimos cinco anos das importações diretas e
indiretas de aço do Brasil, as projeções para 2023 são que 53,2% do consumo de
aço no país virão por meio de importações. "Se não fizermos nada, o país vai se
transformar, preponderantemente, em um importador de aço, com todos os reflexos
negativos para a indústria local, em termos de empregos, de impostos". Observou
que cada emprego gerado pelo setor siderúrgico no Brasil cria outros 23 empregos
na cadeia industrial. "Com as importações, nós estamos mandando esses empregos
lá para fora, basicamente para a China", disse.
Benjamin Baptista
Filho informou que a questão do excesso da capacidade mundial está sendo
discutido somente no âmbito da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), no qual o Brasil tem representação. Apontou, porém, que o
problema não é algo que possa ser resolvido em um horizonte previsível de tempo,
porque a região geográfica onde está o maior excesso de produção é a China, que
não faz parte da OCDE. Disse que de acordo com relato de fontes chinesas que
participaram do último congresso da Associação Latino-americana do Aço
(Alacero), no início deste mês, no México, o excesso de capacidade é oriundo de
empresas controladas por governos provinciais e municipais da China, sobre as
quais o governo central não tem ingerência, por se tratarem de empresas sociais,
criadas para a geração de empregos.
Fonte: Agência Brasil
27/11/2014
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