Na campanha do 2º turno das eleições presidenciais no Brasil, neste ano de 2006, o candidato da situação, e atual presidente, tentou, e conseguiu, destruir o candidato da oposição, utilizando-se do jogo da privatização. Colar no candidato que empresas estatais sofreriam processo de privatização foi um jogo estranho, já que este jamais disse algo sobre isso. Ao contrário, erroneamente, passou a negar sistematicamente o fato.
Dizemos erroneamente, pois, quem conhece um mínimo de economia, e acompanhou as privatizações realizadas no Brasil nos últimos anos, pode ver, com clareza, o acerto da política de privatização.
Veja-se, por exemplo, a privatização das siderúrgicas brasileiras, entre elas a CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, que era uma empresa inviável e que apresentava sistemáticos prejuízos. Obrigava o governo a colocar numa empresa ruim, dinheiro bom do contribuinte. Além do conhecido “cabide de emprego” que essa empresa representava.
Todas as estatais, salvo raras exceções, como nos casos da Petrobrás e da Vale do Rio Doce, apresentavam essa situação melancólica e vergonhosa ao país. Uma vez privatizada, a CSN transformou-se numa empresa que gera lucro, emprego decente, etc. O governo, ao invés de colocar dinheiro nela, passou, obviamente, a receber impostos sobre seus lucros.
Uma pequena diferença que só não vê quem não quer. Em especial aqueles que vivem dizendo que a empresa estatal é do povo. Que povo? Alguém já viu o povo entrar nela, tirar algo para si, poder usar, receber dinheiro dela, determinar as diretrizes, etc.? Obviamente que essa conversa é para boi dormir, não existe empresa do povo. A menos que o povo compre suas ações, se estiverem em bolsa e, ai sim, serão seus donos e receberão por isso. O que existe é empresa do governo, em geral incompetentes, e sabemos que no Brasil, infelizmente, o governo não costuma representar o povo. E ainda dizem que vivemos numa democracia. Para quem?
Vide o caso da Vale do Rio Doce, que, uma vez privatizada, em nada lembra a Vale estatal, e já é internacional. Vide as estradas brasileiras privatizadas, em que se consegue andar, com chances de chegar e voltar vivo, além de economizar o seu carro, com manutenção diferenciada em relação às estradas não-privatizadas.
Vide a situação dos portos brasileiros e das ferrovias, em que as suas operações foram privatizadas. Portos incompetentes, com operações de 5/8 containers por hora ao custo de US$ 500.00/600,00 cada, foram substituídos por operações médias de 50 unidades/hora ao custo variável de cerca de 60/70% menor. As ferrovias saíram do prejuízo, e de vergonhosos 20% de participação na nossa matriz de transporte, para cerca de 26%, por enquanto. Além disso, estão dando lucro, gerando empregos, ressuscitando a indústria ferroviária no país e, importantíssimo, pagando impostos.
Poder-se-ia transportar esses exemplos para todas as empresas estatais privatizadas que, segundo jornais das décadas de 70/80, chegavam a cerca de 500. Um absurdo, considerando que o Estado não tem competência para produzir e gerir empresas. Aliás, nem sua própria estrutura.
É claro que a privatização nem sempre é a maravilha que poderia ser, e que foi retro-mencionada. Existem erros, e muitos. Mas, o que deve ser consertado são os erros cometidos em algumas privatizações, e não suspender o processo de privatização e todos seus benefícios por isso.
Vide o caso das rodovias, que é bem emblemático. A sua privatização é um acerto. Quem prefere as estradas ruins do governo? Quem já andou nas suas estradas as conhece bem e sabe o que podem fazer a seus veículos, e os perigos que encerram, sendo uma viagem comum uma verdadeira aventura, de “chego se for possível”. No entanto, o problema verificado é a permissão para a multiplicação de pedágios, e com valores altos, muitas vezes desnecessários.
Então, o problema não é a privatização, mas a forma adotada e os interesses escusos escamoteados que as seguiram. Esses sim, têm que ser eliminados, devendo as privatizações seguir os interesses nacionais e que atendam à população, ou melhor, a ambas as partes. Quando a questão se resume a uns poucos beneficiados, em detrimento de uma sociedade inteira, isso sim deve ser combatido.
Mas, a privatização em si, é o caminho correto, deixando-se a produção para quem é do ramo, o qual, certamente, não é o governo, de nenhuma esfera.
Assim, seria bom retornarmos, não só em tempos de eleição, mas sempre, para os bons hábitos e para a divisão do trabalho, esta já preconizada por Adam Smith, considerado o pai da economia, no longínquo final do século XVIII. Tanto tempo já se passou, e parece que ainda não aprendemos. Que tal seguirmos exemplos de economias altamente desenvolvidas, com cada macaco no seu galho, e o governo tentando fazer apenas aquilo para o qual foi criado?
Fonte: Diário do Comércio (Samir Keedi)
Data de Publicação: 23/10/2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário