quinta-feira, 19 de abril de 2018

Disputa entre EUA e China deve ter efeitos negativos no agro brasileiro




A guerra comercial entre China e EUA poderá ter um impacto negativo no agronegócio brasileiro, especialmente no mercado de soja, principal produto exportado pelo Brasil aos chineses neste setor. Embora ainda existam incertezas quanto à aplicação de tarifas sobre o grão norte-americano, já é possível ver os reflexos desse cenário no mercado brasileiro. “Os prêmios nos portos, que estavam fortalecidos com a quebra na safra argentina, ganharam novo fôlego com o anúncio da possível taxação”, explica a analista de mercado da INTL FCStone, Ana Luiza Lodi. O Brasil exportou no ano passado 53,8 milhões de toneladas de soja à China – ou 58% das 93,4 milhões de toneladas adquiridas pelos chineses, enquanto os Estados Unidos responderam por 38% desse total. A soja do contrato com vencimento em maio está sendo negociada com prêmio de US$ 1,30 por bushel no Porto de Paranaguá, no Paraná. O valor chegou a US$ 1,50 por bushel logo depois do anúncio da retaliação chinesa. “Esses valores devem ter novos picos se forem anunciadas novidades sobre a negociação entre os países”, avalia Ana Luiza. Desde que a taxação foi anunciada, os chineses ampliaram a procura pelo produto norte-americano, aproveitando a trégua antes da possível tributação. Ao mesmo tempo, o interesse no produto brasileiro cresceu, visto que a Argentina terá uma quebra de safra expressiva, o que, ainda que a safra brasileira tenha projeção recorde, amplia a demanda pelo produto brasileiro. “Dificilmente a China vai deixar de depender completamente da soja norte-americana e a tendência é que, se as taxas entrarem em vigor, o Brasil tenha uma relação de oferta e demanda muito apertada”, avalia. A INTL FCStone estima que a safra brasileira da oleaginosa atingirá o volume recorde de 115,9 milhões de toneladas nesta temporada. O consultor de comércio internacional da Barral M Jorge Consultores Associados, Matheus Andrade, salienta que há uma perspectiva de aumento das exportações da oleaginosa para a China, mas ainda há incertezas, uma vez que a capacidade brasileira de substituir os Estados Unidos no fornecimento do grão é limitada. “Ainda não está claro para o mercado o quanto o Brasil poderia contribuir”, afirma. Em relatório divulgado ontem, o analista sênior de agronegócios do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, avaliou que, se aplicado, o aumento tarifário não duraria por muito tempo justamente pela dificuldade de encontrar volume semelhante em outros mercados que não o dos Estados Unidos. O gerente de mercado da Informa FNP, Victor Carvalho, acredita que haveria um impacto significativo nas cotações da commodity com o aumento da demanda chinesa pelo produto brasileiro se a taxação se confirmar. “Acredito que o preço da soja norte-americana deve recuar com uma maior oferta no mercado interno. Neste cenário, não descarto a possibilidade de que o Brasil venha a importar o grão dos Estados Unidos para poder atender à demanda doméstica e exportar mais o grão brasileiro”, prevê. “A China pode se prejudicar tendo que comprar soja mais cara. Mas tudo vai depender da tarifa ser de fato aplicada, uma vez que esta é uma questão política e não técnica”, pondera. Caso esse cenário projetado por ele se concretize, Carvalho avalia que subprodutos como farelo, por exemplo, poderiam ter uma valorização no mercado interno, deixando ainda mais delicada a situação de criadores de suínos e aves, que já lidam com aumento das cotações do milho e da soja no mercado interno. Nos últimos 30 dias, o indicador Cepea/Esalq aumentou 8% no Paraná, para R$ 80,57 a saca de 60 quilos. No caso da carne suína, a taxação pela China sobre produtos dos Estados Unidos já está em vigor desde o dia 2 deste mês. De acordo o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, as restrições não garantem um aumento automático das exportações brasileiras ao país. “Se por um lado o gigante asiático pode passar a comprar mais do Brasil, por outro, os Estados Unidos podem desviar alguma parte do volume embarcado para outros clientes brasileiros, como é o caso da Argentina, que acaba de abrir o mercado para o produto norte-americano.” Conforme o relatório divulgado pelo Itaú BBA, a China importou no ano passado 1,6 milhão de toneladas de carne suína, sendo que 10% desse total foi abastecido pelos Estados Unidos e 3% pelo Brasil. “Não acredito em um espaço muito relevante para o aumento de vendas nacionais, além daquela observada nos últimos três meses, já que a oferta local do produto está em expansão”, afirma o analista sênior do banco no relatório. Outro produto que pode ser afetado é o etanol, cuja taxação pela China já está em vigor. O governo local aprovou o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina para 10% até 2020. Na avaliação do Itaú BBA, essa medida, aliada à taxação, poderia abrir portas ao produto brasileiro, mas tenderia a reduzir os preços do etanol norte-americano e aumentar a sua competitividade nos portos brasileiros. DCI



 Fonte: Associação de Comércio Exterior do Brasil - AEB

Data de Publicação: 18/04/2018

Um comentário:

  1. Esse ainda continua sendo mais um conflito retórico limitado a ameaças de menor potencial. O problema maior virá quando não mais houverem quaisquer saídas para negociação.

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