quarta-feira, 30 de março de 2011

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DO BRASIL PODE SER REBAIXADA, DIZ S&P

A diretora executiva da Standard & Poor's (S&P) do Brasil, Milena Zaniboni, afirmou ontem que a questão fiscal no Brasil é mais preocupante que a inflação e que, se o Brasil não cumprir a meta de superávit primário deste ano, de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), a agência de classificação de risco poderá "rebaixar" a perspectiva ou a nota de classificação de risco do País, atualmente denominada com grau de investimento BBB-. O superávit primário é a economia do governo para quitar seu endividamento.

"O principal ponto de preocupação da economia brasileira é a questão fiscal, a rigidez do orçamento e a dificuldade do governo para fazer um superávit primário maior. Acreditamos, porém, que o governo está comprometido em conseguir um superávit de 3% neste ano", disse ao participar de evento Brazil Economic Summit, promovido pela Bloomberg.

De acordo com Milena, para o Brasil conseguir alcançar uma nota mais elevada, o governo precisa fazer um superávit primário superior a 3%. "O Brasil está no caminho certo, mas é preciso melhorar esse patamar", disse.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu ao comentário da diretora executiva da S&P e disse que o governo cumprirá "com certeza" a meta de superávit primário deste ano. Para ele, seria um equívoco da agência de classificação de risco. "Vão ter que se explicar se rebaixarem a nota."

A coordenadora destacou que "pressões negativas" para a perspectiva neutra ou para o próprio rating soberano do Brasil podem ocorrer, caso o governo não cumpra o previsto no Orçamento deste ano em registrar uma poupança equivalente a R$ 117,89 bilhões. Do contrário, ao cumprir a meta, a nota do Brasil permaneceria estável.

"O governo brasileiro precisa aproveitar que o País está crescendo para fazer um forte esforço fiscal, já que os custos políticos e econômicos seriam menores", aconselha o presidente da Projeta Consultoria Econômica, Carlos Geraldo Langoni.

O professor das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Eduardo Stempniewski, comenta que é possível que ocorra o rebaixamento. "Provavelmente, as agências de classificação perceberam que no ano passado houve manobras contábeis para se chegar a meta do superávit primário. E por isso, elas estão atentas se o governo administra bem suas contas públicas", diz.

"O governo brasileiro não pode achar que está imune a um rebaixamento." Milena Zambini disse que, apesar da questão fiscal vir à frente, a inflação brasileira também preocupa a S&P, já que há possibilidade de ter uma alta expressiva. "Contudo, nós acreditamos que o Banco Central está comprometido em manter a inflação sob controle e não será leniente em relação a isso", afirmou. A S&P prevê que o PIB brasileiro cresça 4,5% em 2011 e em 2012. A inflação deve chegar a 6% em 2011 e a 4,8% em 2012.

Inflação

Na opinião do diretor do Banco Mundial (Bird) no Brasil, Makhtar Diop, o governo está no "caminho certo para combater a inflação", ao adotar medidas que promovam a redução da demanda, ao mesmo tempo em que faz grande esforço fiscal. Durante o evento da Bloomberg, ele comentou que essas políticas são importantes para manter os investimentos de longo prazo no Brasil. Para ele, o governo deve conseguir cortar os R$ 50 bilhões previstos pelo Orçamento da União.

Para conter a inflação, o governo tem adotado medidas para reduzir a demanda interna, que ainda está aquecida. Com essas medidas, economistas afirmam que o Brasil deve avançar menos - em torno de 4% a 4,5%. Por outro lado, os especialistas que estiveram ontem no evento da Bloomberg, afirmam que é importante que a economia não cresça acima 4% para não gerar mais pressão inflacionária.

A economista-chefe da Rosenberg e Associados, Thaís Zara, é da opinião que o Brasil não tem como no curto prazo "dar-se ao luxo de crescer muito mais de 4%". "Não damos conta de atender a demanda", disse. Ela prevê que o PIB avance entre 4% e 4,5% em 2011, e que o governo continue a agir para conter o consumo.

O ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles minimizou a situação atual do PIB brasileiro e avaliou que o crescimento do Brasil hoje é sustentável. "O que temos hoje é diferente do visto no passado", ressaltou durante o evento em São Paulo. "Os fundamentos da economia brasileira atualmente são amplos e sólidos", acrescentou.

No entanto, para ele, o principal desafio para o Brasil é resolver os problemas com a infraestrutura nacional. Por ouro lado, o ex-presidente do BC avaliou que este é um "bom desafio de se ter". "É bom poder discutir questões de longo prazo. Esse desafio não é só do governo federal, mas também de estados, municípios e do setor privado", explicou. Neste sentido, Thaís Zara comenta que melhorar a infraestrutura é um grande motor para um bom crescimento econômico.

Fonte: Diário do Comércio e Indústria
30/03/2011

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