segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Suavizando mortes

As autoridades costumam minimizar os males, na verdade para mostrar falsa eficiência da administração pública, e explicam que fazem isso para evitar exageros que possam preocupar a população. O número anual de mortes no trânsito é bem típico. Em 2012, os números oficiais seriam cerca de 44 mil -120 corpos por dia, a cada dia. Isso já é uma matança superior a qualquer guerra civil em andamento no mundo, longe da Síria ou desses países africanos em que as guerras tribais e religiosas nunca cessam. Mas, infelizmente, o número brasileiro real está bem acima disso. Por Alexandre Garcia Nós, jornalistas, em geral contribuímos para "evitar exageros que possam preocupar a população". Quando fazemos o balanço das vítimas de um feriadão, como no de Ano-Novo, ficamos apenas com os números fornecidos pela Polícia Rodoviária Federal, ou seja, os mortos nas BRs. No entanto, as estradas federais representam apenas 76 mil quilômetros das rodovias brasileiras. As rodovias estaduais somam 222 mil quilômetros e as municipais têm 1,261 mil quilômetros. Quer dizer, a pressa da notícia faz com que divulguemos o número mais fácil, o das BRs, porque os outros números chegam atrasados. Nos Estados, saem nos meios de informação os números das estradas estaduais; nos municípios, a mídia local relata os desastres nas rodovias municipais. Mas um balanço nacional fica impossível, porque são 5.564 municípios e 28 unidades da federação, cada qual com seus números parciais. A Polícia Rodoviária Federal informou que no feriadão de Natal, de 21 a 25 de dezembro, houve 222 mortos. Obviamente em estradas federais. As BRs perfazem 5% do total das estradas brasileiras. Supor que 222 sejam apenas 5% dos mortos reais seria exagerar, seria supor que o total de mortos, na realidade, esteve em torno de 4.000 no feriadão de Natal. Mas, por outro lado, maior exagero seria tomar o número das BRs como total brasileiro. Certa vez eu comentei, no Denatran, que a estatística de mortos é falha porque deixa fora as estradas vicinais, as municipais e as estaduais, além dos mortos urbanos, e os que morrem nos hospitais até 90 dias após o acidente. Concordaram comigo, alegando que é difícil ter o número exato. Então como se tem, via Ministério da Saúde, um número aparentemente real dos homicídios? Um cálculo do especialista, professor da PUC/RS, Mauri Panitz, falava em 80 mil há uns cinco anos. Hoje, há mais veículos e mais acidentes. Se a gente juntar todas as mortes violentas, no trânsito e fora dele, pode ser que tenhamos no mínimo 300 corpos por dia. Reconhecer essa tragédia, e não suavizá-Ia, é um passo necessário para salvar vidas. Fonte: Revista CNT Por: Alexandre Garcia **

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