sexta-feira, 15 de março de 2013

Para economistas, Brasil ainda cresce pelo consumo

A manutenção do modelo brasileiro de desenvolvimento fundamentado pelo consumo deve ter uma sobrevida, mesmo com os reflexos da crise mundial e da estagnação da produção registrada no ano passado. A avaliação foi feita pelo professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Ufrgs Flávio Fligenspan e pela pesquisadora e professora de Economia da Pucrs Cecília Hoff durante a abertura dos ciclos de debates promovidos pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) em 2013, nesta quinta-feira. Ao concordarem com a continuidade do sistema, alicerçado no tripé crédito, consumo e distribuição de renda, os palestrantes chamaram a atenção para o descompasso entre o contido aumento da massa salarial e a forte expansão das liberações de crédito. Enquanto a evolução das liberações de crédito saiu do patamar de 28% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 para 53,2% em março deste ano, a valorização salarial ficou em cerca de 30%, com um comprometimento da renda destinada ao pagamento das parcelas dos serviços da dívida (juros e amortizações) no curto prazo (até um ano) que ronda a casa dos 42% e pode atingir 73% no longo prazo (até três anos). Apesar do descolamento dos índices, conforme explica Fligenspan, o cenário pode ser revertido com a confirmação dos pagamentos e a consequente diminuição da taxa de inadimplência. Outra luz no fim do túnel é norteada pela criação de mais de 600 mil novos postos de trabalho entre janeiro de 2012 e janeiro de 2013 apenas nas seis principais regiões metropolitanas monitoradas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Existem margens de manobra para ampliar a ocupação. Antes tínhamos uma gordura muito elevada para queimar em razão da demanda reprimida por bens de consumo. Hoje isso foi reduzido, mas não parece claro que o modelo esteja esgotado, e, sim, que terá uma sobrevida por mais algum tempo”, analisa. Para Fligenspan, no entanto, algumas sinalizações de alterações já estão em vigor. Ele chama a atenção para a flexibilização das metas de inflação. “A mudança no regime de poupança, que era um tabu, foi conduzida com maestria. Sei que abandonar as metas de inflação também é um tema delicado, mas acho que seria necessário reabrir essa discussão”, defende. Além disso, o professor da Ufrgs ressalta a manutenção da taxa Selic em índices considerados baixos, “ainda que um pouco acima dos atuais 7,25%”, como forma de reduzir a relação entre o saldo da dívida pública e o PIB - próximo de 60% no início da década e que atingiu 33,4% no ano passado. “Isso seria fundamental para diminuir a margem do superávit com o objetivo de bancar o aumento do nível de investimentos. Uma Selic baixa ainda significa uma valorização dos papéis privados no mercado financeiro, o que também colabora com a ampliação dos investimentos”, afirma. Já a economista Cecília Hoff identifica três aspectos que poderiam sugerir o esgotamento do modelo. Além do comprometimento da renda, ela destaca as pressões inflacionárias em razão da queda nas taxas de juro, a estabilidade do câmbio e a retração no ritmo de liberações de crédito para consumo. Entretanto, ao avaliar dados da evolução constante dos gastos no comércio e a valorização de produtos financeiros ligados às companhias de varejo na bolsa de valores, ela descarta a hipótese. “Não me parece que estejamos abandonando esse modelo, mas algumas ações tomadas para combater o desaquecimento do consumo se tornaram desastrosas pelo viés da produção, que não conseguiu reagir aos estímulos macroeconômicos”, alega. Fonte: Jornal do Comércio - RS Por: Rafael Vigna

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