quarta-feira, 13 de março de 2013

Repensando as prioridades brasileiras

Pela primeira vez em meses o governo brasileiro deu mostras concretas de estar preocupado com o patamar da inflação no país. Sob essa perspectiva, o governo parece começar a jogar a toalha em relação à aposta de que o nível elevado da inflação nos últimos meses era transitório e que o ritmo da alta dos preços iria ceder. Essa perspectiva por parte do governo deu suporte às ações de política monetária no sentido de manter a taxa de juros em patamar elevado. De qualquer forma, o governo, aparentemente, retomou o combate à inflação como uma de suas prioridades. O próprio Banco Central já sinalizou que, na ausência de uma reversão no quadro da inflação, terá que elevar a meta da taxa básica de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). É mais do que evidente que o governo não deseja elevar os juros e tem apostado suas fichas na esperança da queda da inflação. Do ponto de vista prático, a atividade econômica brasileira ainda segue claudicando. O bom resultado da produção industrial brasileira no começo do ano não desfaz a percepção de que a economia ainda segue em ritmo lento. O baixo crescimento do PIB brasileiro em 2012 ainda reflete sobre as expectativas deste ano a, apesar do crescimento econômico ter melhorado na margem no último trimestre do ano passado, o patamar ainda é baixo e incompatível com um crescimento da ordem de 4% neste ano. Elevar a meta da taxa de juros nos próximos meses pode gerar uma nova desaceleração na economia brasileira, comprometendo o crescimento de 2013. Essa não é a meta do governo, mas o mesmo não tem muita saída além de proceder dessa forma para combater a inflação. Um efeito colateral danoso nesse processo refere-se ao fato de que, com a alta da Selic, o diferencial entre os juros praticados domesticamente e em outros países voltará a se ampliar. A implicação direta disso é que, com a alta da taxa de juros brasileira, haverá novos estímulos a ingressos de recursos externos direcionados para a renda fixa brasileira. Caso isso ocorra, é possível que a cotação do dólar venha a cair novamente, afetando ainda mais a competitividade da produção doméstica em relação ao resto do mundo. Em outras palavras, caso isso ocorra, o setor produtor de bens comercializáveis com o exterior brasileiro (em particular, a indústria, sofrerá ainda mais). O contexto dos elementos aqui traçados revela que as perspectivas para a economia brasileira nesse cenário não são nada favoráveis. Há uma alternativa melhor a esse cenário, que reside em uma forte contração dos gastos públicos. A queda nos gastos do governo abriria espaço em termos de demanda agregada para ser ocupada pelo setor privado. Sob essa perspectiva, a política fiscal poderia auxiliar a política monetária, uma vez que a redução dos gastos do governo diminuiria as pressões sobre a inflação. Ao mesmo tempo, não sendo necessário um movimento mais intenso de alta de juros para conter a inflação, o fenômeno de aumento de diferencial de juros domésticos e externos não seria tão marcante, o que não provocaria pressões mais intensas do lado do câmbio. De qualquer forma, não parece que essa é a via que o governo adotará. Rogério Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Fonte: Brasil Econômico Por: Rogério Mori **

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