quarta-feira, 13 de março de 2013
A política monetária por outros meios
Antes usada como principal arma para o controle da inflação, a Selic historicamente baixa é vista como uma grande conquista pelo atual governo e como um símbolo para 2014.
Desde que chegou em 7,25% ao ano no final de novembro do ano passado, a taxa de juros de referência não se moveu mais. Com a taxa inalterada, a estratégia utilizada para estabilizar a inflação tem sido microgerenciar focos isolados de pressão inflacionária, atuando para neutralizá-los com medidas específicas.
Por conta dessa estratégia, a economia brasileira tem sido alvo de diversas intervenções nos últimos meses. Se o preço do petróleo está alto, usa-se a política de preços da Petrobras para impedir o repasse. Se o preço da passagem vai subir, o governo federal liga para os prefeitos do Rio e São Paulo e pede que eles adiem o aumento.
A energia elétrica está cara? Por que não forçar, de forma truculenta, que as concessionárias de energia aceitem comercializar energia a um preço bem mais baixo, usando cláusulas do contrato de concessão? Algumas concessionárias não toparam renovar imediatamente a concessão? Por que não usar o Tesouro para bancar a diminuição da conta de luz imediatamente?
Se o preço dos alimentos básicos está subindo, o governo vai e cria, por decreto, o Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (Ciep), que terá o papel de formar "estoques estratégicos" e atuar de forma mais incisiva que o Conab, regulando os preços agrícolas.
Por outro lado, também anuncia que irá diminuir impostos da cesta básica, pressionando os supermercados para que repassem o corte imediatamente. Por ora, as medidas têm funcionado. Mas, como dizia Milton Friedman, "não existe almoço grátis". A Petrobras tem gerado rombos em seu caixa, prejudicando todo o seu plano de investimentos.
Os preços das passagens de ônibus não subiram, mas o Rio de Janeiro viveu um dia de caos na data comemorativa da fundação da cidade, por conta da greve dos rodoviários. No setor elétrico, o clima é de incerteza para investimentos.
A Eletrobras, de forma análoga à Petrobras, deve registrar grande dificuldade de caixa, prejudicando seu plano de investimentos, fundamental para que não falte energia no futuro. Situação similar vive a Eletropaulo, maior concessionária de São Paulo.
Por outro lado, o aumento da intervenção governamental no agronegócio pode atrapalhar um dos setores mais dinâmicos no país atualmente. Carl von Clausewitz foi um grande estrategista militar e teórico da guerra.
Sua assertiva mais conhecida - "a guerra é a continuação da política por outros meios" - mostrava que o esforço de guerra deveria estar sempre submetido às diretrizes da política de longo prazo.
O governo brasileiro parece querer implementar uma espécie de política monetária por outros meios na guerra contra a inflação. É uma estratégia arriscada e o objetivo primordial não parece ser o controle inflacionário, e sim, as eleições do ano que vem.
A inflação pode até ser mantida sob controle no curto prazo - embora próxima à banda superior -, mas as diversas distorções criadas com as intervenções podem pôr em risco a saúde da economia brasileira no longo prazo.
Rodrigo Sias é economista pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Fonte: Brasil Econômico
Por: Rodrigo Sias **
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