Tão grave quanto o recuo das vendas externas e do saldo da balança comercial brasileira, que neste primeiro trimestre registrou déficit de US$ 5,150 bilhões, o que não ocorria desde 2001, é a crescente perda de participação dos produtos manufaturados na pauta das exportações. De 59,1% em 2000, esta participação vem caindo ano a ano, desabando para 37,4% em 2012, revelam dados da Fundação de Comércio Exterior (Funcex).
O consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), classifica o recuo do peso das manufaturas nas vendas externas brasileiras como "reprimarização" das exportações - ou seja, a prevalência dos produtos primários ou commodities, como no passado. Ele lembra que a "reprimarização" significa exportações com menor valor agregado, remuneração mais baixa e pouco conteúdo tecnológico.
"Exportar commodities não é necessariamente ruim, como demonstram os Estados Unidos. Mas depender cada vez mais só de commodities, como no caso brasileiro, é muito perigoso. Representa menos emprego, menos impostos e impacto menor na cadeia produtiva", diagnostica Barral.
QUEDA NAS VENDAS - A gerente de exportação do grupo gaúcho de calçados Dakota, Nelci Schildt, informa que sua empresa engorda as estatísticas de menor participação das manufaturas nas vendas externas. As exportações de sapatos da Dakota para a Venezuela, seu maior mercado externo, caíram de 100 mil pares em 2011 para 60 mil pares no ano passado e para simplesmente nenhum par este ano, até agora.
A valorização do câmbio não é a única vilã da perda de mercado externo da Dakota. Nelci alinha também, entre outras causas, as caras taxas portuárias e o congestionamento do Porto de Santos, o maior do país, como um dos fatores do chamado Custo Brasil (carga tributária elevada, infraestrutura precária, alto custo do emprego, burocracia excessiva) que faz seus sapatos terem menor poder de concorrência lá fora.
Dados do MDIC comprovam a tendência de "reprimarização" das vendas externas mencionada pelo consultor Welber Barral. Dos US$ 242,6 bilhões exportados pelo país no ano passado, nada menos do que US$ 146,5 bilhões se originaram da venda de produtos básicos e semimanufaturados - ou seja, 60,3% do total. O minério de ferro respondeu por US$ 31 bilhões. As vendas de manufaturas ficaram em US$ 90,7 bilhões, entre as quais o segundo item mais comercializado, depois dos óleos combustíveis, foi aviões, com uma receita de US$ 4,7 bilhões em 2012.
Fonte: Confederação Nacional da Indústria
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