terça-feira, 9 de abril de 2013

Modelos de empreendedorismo entre emergentes do Brics




Vejo o tema do empreendedorismo a partir de uma perspectiva ampla. Não devemos entender, como se faz muito no Brasil, que empreender é sinônimo de abrir uma franquia ou simplesmente ter o seu próprio negócio.

Empreendedorismo é uma ação individual, com vistas à agregação de valor, que almeja quebrar a inércia de uma determinada entidade (empresa, governo ou ONG) mediante atuação essencialmente inovadora.

O empreendedorismo sempre busca gerar e aumentar excedentes, eficiência, produtividade, competitividade. Ensinar a empreender é um dos temas essenciais do nosso tempo. Para engendrar essa nova educação para o empreendedorismo, é cada vez mais estratégica a relação umbilical escola-empresa.

No âmbito dos Brics, o empreendedorismo está relacionado ao tipo de estratégia econômica que cada um desses países vem adotando nos últimos anos. Na China, isso significou especialmente empresas exportadoras e uma obsessão na conquista de mercados externos.

Na Rússia, a aposta tem sido na ideia de que a fase de economia em transição que o país atravessa levará a uma orientação para setores intensivos em tecnologia. A Rússia tem os melhores padrões educacionais e o maior contingente de cientistas como percentual da população dentre todos nos Brics.

Na Índia, a ênfase é na verticalização da especialização naqueles setores em que os indianos dispõem de vantagens competitivas, como nas indústrias de TI, farmacêuticos e têxteis. Já o empreendedorismo brasileiro está muito marcado pela presença maciça do governo na economia.

O Brasil tem uma "Substituição de Importações 2.0" e é uma das mais fechadas do mundo. Isto é um importante dilema para o Brasil. O grande empregador da economia é o governo em seus vários níveis administrativos.

Combatemos o mal presente do desemprego com a hipertrofia dos quadros estatais, com a carga tributária desproporcional às contrapartidas de serviços básicos. Com juros ainda muito altos. O Brasil precisa urgentemente mudar seu padrão de crescimento.

Os Brics poderiam liderar o mundo com iniciativas de empreendedorismo mediante a criação de ambientes amigáveis aos negócios, com regras do jogo e marcos regulatórios bem estabelecidos e transparentes. Se analisarmos os quatro países, veremos que a situação é paradoxal.

A China é o mais fechado politicamente. Índia e Brasil são democracias, mas apresentam estruturas burocráticas asfixiantes, com classes políticas pouco funcionais. A Rússia parece intimidar o empreendedorismo em razão das dificuldades na relação com autoridades governamentais que mudam seus humores na escolha de favoritos e perseguidos com muita rapidez.

Os principais desafios no Brasil são exatamente os relacionados ao ambiente de negócios, que continua muito cartorial, permeado por despachantes, atravessadores e hiper-regulações absolutamente desnecessárias à geração de prosperidade.

Além das imposições tributárias e trabalhistas marcadamente anacrônicas. O empreendedor brasileiro enfrenta também o fato de que, uma parte da sociedade, inacreditavelmente, ainda enxerga no lucro algo moralmente condenável.

Marcos Troyjo é diretor do BricLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec


Fonte:  Brasil Econômico
Por:  Marcos Troyjo **

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