quinta-feira, 2 de maio de 2013

Indústria prevê demanda forte por máquinas mais modernas



As máquinas que trabalharão no campo brasileiro nos próximos anos serão ainda maiores, mais confortáveis e sofisticadas e terão de poluir menos, para atenderem a novas normas ambientais que entrarão em vigor em 2017. Mesmo que se trate de uma tendência global de desenvolvimento, guiada por grandes multinacionais, essa modernização tende a se acelerar no país nos próximos anos, em razão das boas perspectivas para o agronegócio e da promessa de ganhos de eficiência nas lavouras e lucros para as indústrias.

As vendas internas anuais de máquinas agrícolas têm potencial para sair dos atuais R$ 4,5 bilhões para R$ 9 bilhões nos próximos dez anos, segundo estimativa de Milton Rego, diretor da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Conforme Rego, as perspectivas levam em conta as necessidades de renovação da frota de pequenos e grandes agricultores. Atualmente, a idade média das colheitadeiras em atividade no Brasil é de dez anos, enquanto a de tratores chega a 14 anos. De acordo com as indústrias, é recomendável a atualização das colheitadeiras a cada seis anos e a dos tratores entre oito e dez anos. As máquinas mais modernas são encontradas com maior facilidade nos Estados de Mato Grosso e do Paraná, onde a mecanização das lavouras é, em média, mais avançada.

Para Rego, a lentidão no processo de renovação de maquinário é mais flagrante entre produtores cujo porte não se enquadra no Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e também os maiores que não têm fôlego o suficiente para acessar o crédito disponível. E, em um país onde a mão de obra é cada vez mais escassa e as perdas mecânicas médias nas colheitas chegam a 4%, de acordo com a Embrapa, qualquer equipamento novo que promete reduzir esse percentual para 0,5%, como muitos dos atuais lançamentos, demanda sempre haverá, inclusive no caso desses clientes.

Embora as novas tecnologias normalmente saiam dos fornos das empresas nos EUA e na Europa, os investimentos nesta frente estão em alta no Brasil. De acordo com a Anfavea, os investimentos totais das indústrias associadas à entidade, incluindo melhorias na fábrica, inovação e novos produtos, saíram de US$ 31 milhões, em 1980, para US$ 368 milhões em 2011 (o número de 2012 não foi fechado). A americana AGCO, por exemplo, informa que investiu no país, em média, US$ 40 milhões anuais entre 2009 e 2012, e que o montante deve dobrar neste ano.

A CNH, braço de máquinas da Fiat Industrial, criou um novo departamento de pesquisa em Curitiba (PR) destinado exclusivamente a atividades na América Latina e com foco no desenvolvimento de equipamentos voltados a culturas como café, laranja e eucalipto, entre outras. Novas colhedoras de café, "seletivas", estão em fase avançada de desenvolvimento. Em 2012, a empresa lançou um sistema para recolher resíduos da cana em forma de fardo para levar à usina, tudo em uma mesma operação. Um equipamento para o corte de árvores em pequenos pedaços, para processamento posterior, também está sendo trabalhado, mas esse só chegará ao mercado em, no mínimo, três anos. E outras novidades estão em fase de pesquisas.

Já a John Deere, também americana, pretende inaugurar no Brasil seu primeiro centro de inovação na América Latina, que absorverá parte dos investimentos que a empresa faz em pesquisa e desenvolvimento, que globalmente chegam a US$ 3 milhões por dia. O objetivo é gerar cada vez mais demandas e tecnologias no Hemisfério Sul. Mas, se há mercado, o retorno é garantido.
Uma máquina completa, de alto padrão, supera R$ 500 mil, mas seus diferenciais em relação à frota mais antiga já são abissais, sobretudo para os trabalhadores de fato formados para operá-los. Aos computadores de bordo atuais serão incorporados programas que permitirão, inclusive, maior integração entre máquinas e implementos em uma "inteligência" única, agilizando a assistência técnica, até à distância, e ampliando as produtividades, especialmente na agricultura de precisão.

Segundo Paul Snaweart, engenheiro responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento de produtos agrícolas da CNH na América Latina, nos últimos 20 anos a potência máxima das colheitadeiras triplicou, de 200 cavalos para 600. A de tratores subiu de 150 para perto de 400 cavalos. "A potência é um bom indicador de produtividade", afirma Snaweart. Segundo ele, nos últimos dez anos, o aumento médio anual de produtividade dos produtos da marca New Holland foi de 10%. "Hoje os produtos que lançamos no Brasil são os mesmos nos EUA e Europa", diz.

Isso sem contar o conforto oferecido por um trator com cabine com ar-condicionado e CD player, por exemplo, que também tem efeitos positivos sobre a performance dos operadores, como pontua Jak Torretta, diretor de produtos da AGCO América do Sul. Segundo ele, há dez anos apenas 20% dos tratores eram equipados com esse tipo de cabine. Atualmente, essa fatia já se aproxima de 50% e a tendência é de crescimento.

Outra demanda para a indústria no Brasil será melhorar a tecnologia para reduzir emissões, que encarecem os custos de produção entre 4% e 5%, segundo Snaweart, da CNH. Esse avanço, entretanto, certamente será repassado para o consumidor final. O tema está sendo negociado entre governo brasileiro e fabricantes, mas a norma prevê que a partir de 2017 os equipamentos deverão obedecer a um determinado nível de emissão. Mas não é só isso. Todas as demais melhorias tendem a encarecer as máquinas agrícolas.

Daí porque a renda dos agricultores será fundamental para sustentá-las, mesmo com as linhas de crédito do governo federal. No passado, cerca de 95% das vendas internas desses produtos eram amparadas pelo Moderfrota, linha de crédito com recursos do BNDES. O programa foi "esvaziado" pelo avanço do PSI (também operado pelo banco de fomento) a partir de 2009. O PSI tem juros menores - 3% ao ano neste primeiro semestre e 3,5% no segundo - e vem impulsionando o segmento.

Fonte: Valor Econômico - SP

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