Com o acordo nuclear com as potências anunciado na última terça (14), o Irã dá um salto rumo à sua reinserção no sistema econômico mundial, do qual havia sido marginalizado devido a sanções em três frentes (ONU, EUA, União Europeia) e à exclusão do sistema bancário, em 2012. O aperto asfixiou as finanças de um Estado com gastos colossais em subsídios, programas sociais e remessas a grupos e governos aliados. Com o fim das sanções, que deve ter efeito a partir de 2016, EUA e UE voltarão a permitir transações financeiras com entidades e indivíduos do Irã, crédito para exportações ao país, investimento no setor petroleiro e venda de bens e serviços à indústria automotiva. Com isso, o Irã poderá revigorar exportações de petróleo e usar investimentos para estimular uma infraestrutura de gás e petróleo que é tradicional consumidora de tecnologia europeia de ponta, mas obrigada a recorrer a equipamentos chineses de baixa qualidade por causa das sanções. Empresários ocidentais batem ponto em Teerã desde a ascensão do presidente Hasan Rowhani, em 2013. Uns fazem prospecção de investimento, inclusive em turismo, cobiçado pelas redes hoteleiras. Outros querem voltar ao país, como a montadora Peugeot. Já neste domingo (19), chegará ao país uma delegação de empresários chefiada pelo ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel. O Irã é um mercado de 77 milhões de consumidores com forte propensão ao consumo e altos índices de instrução. Mas, para analistas, será difícil gerir o boom de investimento e comércio esperado com o fim das sanções e atrair capital externo sem reações políticas inflamadas no país. Só com a liberação de ativos de cidadãos e empresas bloqueados pelas sanções, o país receberia US$ 100 bilhões -o equivalente a um quarto da sua economia. "Se o dinheiro não for bem gerenciado, o estrago pode ser maior que o das sanções", disse o presidente da Câmara de Comércio, Indústria, Minas e Agricultura de Teerã, Yahya Ale-Eshagh, à rede Nasim. Para o Brasil, a perspectiva é boa, afirmaJosé Augusto de Castro, presidente da AEB, para quem o Irã pode se tornar um dos grandes superavit comerciais do Brasil. "Com as sanções, era preciso fazer uma ginástica muito grande, procurar um banco que aceitasse o 'risco Irã'", afirma. O perfil das exportações, porém, não deve mudar: commodities, como carne, milho, soja e açúcar. As exportações brasileiras para o Irã caíram 38% entre 2010 e 2014, derrubadas pela redução de 68% (termos de quantidade) na venda de carne bovina.
Folha de S. Paulo
16/07/2015
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