Plano B Alternativa ao Banco Mundial, instituição deslancha após cúpula do Brics em Ufá, com definição de presidente e regulamento Capital de US$ 100 bilhões do Novo Banco do Brics já despeita o desejo dos setores público e privado, dentro e fora do grupo. Embora só comece a financiar os primeiros projetos a partir do ano que vem, o Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, que iniciou suas atividades ainda durante a 7 o cúpula do grupo, no início de julho, já tem pretendentes a seus fundos, avaliados em US$ 100 bilhões. Com volume de capital autorizado modesto, se comparado ao do Banco Mundial, que maneja US$ 2 trilhões, o Novo Banco tem candidatos das mais diversas áreas, tanto do setor público, como do privado, e até de países europeus. Os países-membros, porém, terão direitos exclusivos na instituição, e a Rússia, que perdeu a possibilidade de pedir crédito junto do BERD deve aproveitar a nova oportunidade, com a seleção dos beneficiários programada para se iniciar já no final do ano. "Em um momento em que as empresas russas têm acesso cortado ao capital norte-americano e europeu, o surgimento de uma fonte alternativa de investimentos deve ter um efeito benéfico na economia russa", diz o diretor do departamento econômico da Fundação Instituto de Energia e Finança, Marcel Salikhov. Algumas empresas privadas do país já manifestaram interesse no banco. Uma delas foi a holding agroindustrial moscovita Miratorg, Grupo de países emergentes passa de mutuário a credor que teve joint venture com a Sadia no enclave russo de Kaliningrado entre 2007 e 2009, quando adquiriu a parcela da brasileira. "Mas só poderemos discutir mais detalhesquandotodas as condições e o mecanismo de interação do mutuário com o banco forem conhecidos. Ainda é cedo para falar sob quais condições esse financiamento pode ser interessante", declarou um porta-voz da Miratorg à Gazeta Russa. "As empresas russas esperam receber exatamente os mesmos recursos que as companhias dos outros países do Brics", diz a economista especializada em Brics Aleksandra Morozkina. No Brasil, o setor privado também reivindica acesso aos fundos. No início do ano, por exemplo, a secretária- executiva dos Brics da CNI, Silvia Menicucci, disse à imprensa que uma das demandas dos empresários é que o banco complemente financiamentos que, atualmente, não são oferecidos pelo BNDES, como projetos de infraestrutura de empresas brasileiras fora do país ou projetos conjuntos entre o Brasil e outro país para investir em um terceiro mercado. Apesar dos rumores de que o banco nasce inicialmente voltado aos projetos públicos, seu acordo de criação, assinado em Fortaleza no ano passado, prevê "apoio a projetos públicos e privados" de "infraestrutura e desenvolvimento sustentávelno Brics e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento". Essa foi uma das preocupações levantadas na segunda edição da reunião "paralela" do Brics, realizada em Fortaleza por representantes da sociedade civil em 2014. Então, membros de ONGs, movimentos sociais e pesquisadores questionavam a utilização do banco para financiar grandes projetos infraestruturais com ganhos para governos e empresas ligadas a esses, e a possível ausência de projetos para beneficiar diretamente a população, como hospitais, escolas ou obras de saneamento básico. A nova instituição dá pistas de que poderá ter boa disposição para financiar projetos de alto risco, normalmente rejeitados por seus análogos. Em discurso na plenária da cúpula, o presidente russo Vladímir Pútin anunciou que o banco do Brics investirá em projetos conjuntos de grande porte em infraestrutura de transporte e energia, bem como o desenvolvimento industrial dos países-membros. Na presidência do grupo, o país chegou a propor um roteiro para a cooperação. "Realizamos consultas em nossos círculos de negócios e já incluímos no roteiro cerca de 50 projetos e iniciativas. Entre eles está a propostadeinstituição de uma associação no setor energético, a criação de um centro internacional de pesquisas em energia e de uma união da indústria de fundição", declarou Pútin. Além disso, no mêspassado, o ex-dirigente do Banco Central da África do Sul, Tito Mboweni, disse à TV Bloomberg que o banco, que deverá ter uma filial para a África subsaariana, tem total capacidade de socorrer a estatal de energia elétrica do país, a Eskom Holdings SOC Ltd. A companhia terá um déficit de caixa de US$ 18 bilhões até 2018 porque está construindo usinas de energia para ampliar sua capacidade. Para tanto, a Eskom implementa apagões rotativos regularmente desde o início do ano, devido às dificuldades encontradas para satisfazer a demanda, limitando o crescimento econômico. E, apesar do foco nos países do próprio grupo, o acordo de criação do banco não exclui a prestação de socorro a países que não sejam membros. Ainda em junho, divulgou-se que o vice-ministro das Finanças russo, Serguêi Stortchak, cogitou a possibilidade de o novo banco conceder crédito a projetos de desenvolvimento na Grécia. A declaração foi feita durante visita a Moscou do ministro grego da Reforma Industrial, do Meio Ambiente e da Energia, Panagiotis Lafazanis. Então, no auge da crise, o grego reafirmou o interesse do país europeu em se tomar membro não fundador do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, de acordo com sua assessoria. Outra fatia interna do grupo que mostrou interesse nos fundos foi ados jovens entre 20 e35 anos que participaram do I o Fórum da Juventude do Brics, realizado no final de julho também em Ufá. Com participantes também da Organização para Cooperação de Xangai (índia, Cazaquistão, Quirguistão, China, Paquistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão) e da Coréia do Sul, a reunião terminou com a proposta de criação de um "Banco de Idéias". "[Os projetos de inovação do 'Banco de Idéias'] serão analisados e, possivelmente, quando o Banco de Desenvolvimento do Brics avançar, poderão receber apoio", anunciou Elena Sutormina, representante no evento da Câmara Pública da Rússia, uma das agências organizadoras do fórum. "Com acesso cortado ao capital ocidental, Rússia deve ver efeito positivo com criação do banco".
Folha de S. Paulo
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