Como os números indicavam e apontávamos em nossas análises, os resultados da balança comercial em 2015 deverão gerar superávit, projetado pela AEB em US$ 8 bilhões. Sem dúvida um bom resultado, sobretudo se compararmos com o que aconteceu no ano passado (déficit de US$ 3,93 bilhões). Ocorre que o superávit de 2015 está sendo fruto de redução mais acelerada das importações do que das exportações. Isso é o que chamamos de "superávit negativo". No período de janeiro a agosto, as exportações declinaram 16,7% e as importações caíram 21,3%, enquanto a corrente de comércio (soma das duas) teve queda de 19%. A forte contração da economia doméstica é o que explica o tombo nas importações. Esse dado fica ainda mais dramático quando verificamos que, só no mês de agosto, as compras de bens de capital (máquinas e equipamentos) caíram 21,5%. A falta de investimentos seguramente decorre da redução das vendas e consequente menor nível de produção. Mas o mais grave é que o menor investimento terá como desdobramento futuro a redução da competitividade, por causa da defasagem tecnológica. No momento de contração da economia interna, a saída é aumentar as exportações para manter o nível de produção, do emprego e da renda. Mas não é o que estamos vendo, pois as exportações estão caindo, não apenas os produtos básicos, por cauda da queda das cotações das commodities, mas também os industrializados (semimanufaturados e manufaturados), mesmo com taxa cambial favorável. Isso deixa claro que as exportações não dependem só de câmbio, mas também de uma estrutura de custos competitiva e permanente, que permita ao empresário definir estratégia comercial voltada para maior inserção internacional, inclusive para se integrar às cadeias globais de valor. Volatilidade e falta de previsibilidade inibem o investimento e a ousadia comercial. Dotar o País de uma política comercial consistente e previsível é fundamental para que os empresários tenham segurança de se lançar ao mercado externo, levando nossos produtos e garantindo mais produção, emprego e renda em nosso País. Essa é a tarefa inadiável!
José Augusto de Castro, Estado de S. Paulo02/09/2015
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