O segundo semestre começou de forma "bastante preocupante" para a indústria, com a "intensificação da contração" do setor, afirmou o gerente-executivo de política econômica da CNI, Flavio Castelo Branco. Segundo ele, o país vive um "mergulho recessivo extremamente forte", que atinge as manufaturas brasileiras. A pesquisa "Indicadores Industriais" de julho, divulgada pela entidade, reforça o quadro, com queda em todos os índices. Com exceção do faturamento real, que ficou relativamente estável ao cair 0,2%, todos os outros indicadores registraram retrações significativas. A utilização da capacidade instalada, por exemplo, caiu 0,9 ponto percentual na virada do primeiro para o segundo semestre e chegou a 78,6%, o pior nível da série histórica, inicia da em janeiro de 2003. Os outros índices de atividade também recuaram. As horas trabalhadas diminuíram 2,3% em julho ante junho e o emprego caiu 0,8%.Em todos os casos, o indicador é dessazonalizado. A pesquisa também aponta que a massa salarial real caiu 2,5% entre junho e julho deste ano, enquanto o rendimento médio real diminuiu 1,6%. O ambiente recessivo leva a um desempenho negativo expressivo para o setor, com fortes quedas em todos os indicadores. A menor queda é para o rendimento real, que recuou 1,2% na comparação entre julho de 2015 e 2014. Os indicadores de produção tiveram quedas mais fortes-10,9% para as horas trabalhadas e 6,3% no nível de emprego. Esse descompasso entre as menores quedas no rendimento médio real e a produção leva a "um aumento dos custos do setor", disse Castelo Branco. A janela de saída para esse quadro, avalia o economista, pode ser o câmbio. "O câmbio vai melhorar a competitividade da indústria, mas isso demora um tempo, porque o comércio internacional tem contratos de mais longo prazo, não é imediato. No curto prazo, a elasticidade é baixa, mas expectativa é de melhoria gradativa das exportações brasileiras e melhor competição com produtos importados", afirmou. O economista da CNI, no entanto, faz ressalvas. Esse movimento, segundo ele, é heterogêneo e variará entre setores e empresas. Além disso, "o câmbio não é varinha mágica do mago Merlin para resolver problemas da economia brasileira. Outras economias que competem conosco também tem tido desvalorização", lembrou, citando o caso da China. Uma reação nos investimentos pode também ajudar a indústria a se recuperarem 2016, mas para tanto é necessária uma melhora no ambiente econômico, que neste momento é pessimista, disse Castelo Branco. Nesse sentido, a proposta de Orçamento para 2016, apresentada segunda-feira, não ajudou, já que trouxe previsão de déficit primário para o próximo ano. "Havia expectativa grande que o ajuste fiscal fosse realizado e completado nos primeiros meses do ano. Ele demorou mais e agora fomos surpreendidos com situação fiscal mais grave que se supunha antes, com perspectiva de déficit fiscal não só em 2015 mas para 2016, o que significaria dificuldade muito grande da economia brasileira para reverter quadro de baixa confiança", afirmou Castelo Branco. Para ele, a solução para o reequilíbrio das contas públicas não passa pelo aumento de novos tributas, nem mesmo de forma temporária, como pediu o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "Claramente o, que você tem é de adequar o tamanho dos gastos públicos à restrição orçamentária. Se as empresas e as famílias têm que adequar padrão de gasto à restrição orçamentária, o setor público também tem que fazer", disse.
Valor Econômico02/09/2015
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