Livre das pressões no processo de ajuste dos preços administrados e com inflação menor, o custo de produção para exportação desacelerou este ano. Segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o custo médio do total dos produtos exportados subiu 3,2% de janeiro a julho. Na mesma comparação, o indicador cresceu 9,8% no ano passado.Para os bens exportados pela indústria de transformação o custo médio de produção subiu 2,83% de janeiro a julho deste ano contra iguais meses do ano passado. Na mesma comparação o custo de produção subiu 9,8% de janeiro a julho de 2016. Em 2015 havia avançado 6,34%.A relação entre o índice médio de preços e o de custo de produção na indústria de tranformação passou de 0,69 para 0,74 de janeiro a julho do ano passado para igual período deste ano. A melhora nessa relação resulta não somente da elevação do preço de exportação - por conta de produtos mais afetados pelo ciclo de commodities e da pequena recuperação do mercado internacional -, mas também da desaceleração na alta do custo de produção da indústria de transformação. Analistas ressaltam, porém, que a melhora desse indicador foi neutralizada pela valorização do câmbio.A desaceleração do custo de produção alcançou também outros grandes setores. No de não industriais, no qual predomina a produção agrícola, o custo de produção médio aumentou 2,47% no acumulado até julho. Em igual período do ano passado o indicador cresceu 9,28%. Na indústria extrativa o custo subiu 6,34% este ano - depois de ter subido 9,24% no ano passado.A evolução dos preços médios também deu grande contribuição para o quadro, destaca André Mitidieri, economista da Funcex. Na indústria de transformação os preços médios de exportação avançaram 10,4% até julho, depois de queda de 11,6% em igual período de 2016. Entre os não industriais houve alta de 4,5% e queda de 8,1%, respectivamente. Na indústria extrativa, os preços saltaram 51,8% até julho deste ano. Em igual período de 2016 o recuo foi de 25,98%.Mitidieri lembra que, para a redução de custos, contribuíram principalmente salários, com menor pressão por conta do desemprego ainda alto, e a inflação menor, o que deixa os preços dos insumos mais contidos.Para ele, a tendência de melhor relação preço/custo das exportações deve ser mantida até o fim do ano, com maiores ou menores variações. "O preço dos metálicos não deve continuar aumentando no mesmo ritmo dos primeiros meses deste ano, mas mesmo assim a margem [na relação preço/custo] deve terminar o ano melhor do que a do ano passado." O problema é que essa vantagem, diz, vem sendo neutralizada pela valorização do real frente ao dólar, o que jogou a rentabilidade das exportações para baixo.Na indústria de transformação, esse indicador recuou 6,32% enquanto no setor não industrial a queda foi 10,78% Somente a indústria extrativa, por conta da magnitude da elevação de preços, teve índice de rentabilidade com alta de 25,36%.Com inflação menor, a pressão sobre o custo de produção do exportador recua, mas infelizmente a valorização do câmbio tem neutralizado essa vantagem, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).O receio, diz ele, é que algum aumento de carga tributária necessário para resolver a questão fiscal acelere o custo de produção para a exportação. "Se a reoneração da folha tivesse prosperado, diz Castro, parte dessa vantagem teria sido perdida", lembra ele. Por outro lado, a restrição ao benefício do Reintegra, cuja alíquota será mantida em 2% no ano que vem, sem a elevação esperada para 3%, deve deixar de dar um alívio maior para esse indicador em 2018.A exportação, diz Castro, continua, de qualquer forma, sendo um caminho para ocupar a capacidade ociosa por conta do fraco desempenho do mercado doméstico. "E há já, agora, um ambiente de melhora no humor das empresas, embora isso seja quase imperceptível ainda."Mesmo que neutralizado pela variação da taxa de câmbio, a desaceleração do custo de produção para exportação ajuda nessa "sensação", afirma Castro. Também vão nessa direção a redução da Selic e a aprovação da reforma trabalhista.Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o setor externo poderia ter contribuído muito mais para a economia brasileira se houvesse melhora da competitividade pelo câmbio e pelos custos.O ano de 2017 só não é pior nesse sentido, diz Cagnin, porque há uma melhora na evolução do custo e uma evolução positiva dos preços, embora o câmbio não seja favorável. "Isso dificulta estratégias mais agressivas de conquista de mercado, com redução de margens, que poderiam ser fundamentais", avalia. "Os sinais da economia doméstica são tão fracos, apontando mais para estabilidade do que para recuperação. Para esse processo ganhar velocidade, maior substância e se consolidar, precisaria de contribuição maior do mercado externo."
Fonte: Valor Econômico
Data de publicação: 11/09/2017
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