quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Comércio Exterior do Brasil



O comércio exterior brasileiro, como todos sabem, tem sido uma gangorra permanente. Ao longo dos anos e décadas, nós o vemos crescer e se reduzir. Tanto em valores absolutos quanto em percentuais relativos à nossa economia e ao comércio mundial.
Considerando os últimos quase 70 anos, desde 1950, impressiona as variações que temos apresentado. Já tivemos abertura econômica, que é a relação do comércio exterior com o Produto Interno Bruto (PIB), de 26,5% em 1954, a maior da história. A partir de então houve uma queda contínua e célere até 1967. Em que atingimos nosso fundo do poço com 9,9%.
Tomando um PIB de US$ 100,00 como exemplo, isso significa que em 1954 nosso comércio exterior apresentou nas duas mãos, exportação mais importação, o valor total de US$ 26,50. Em 1967 esse valor desceu a US$ 9,90.
A partir de 1968 retomamos o crescimento, com algumas variações de subida e descida. Em 1984 atingimos um novo pico com US$ 21,60. Então nova queda contínua até US$ 11,10 em 1990, em que praticamente houve uma estagnação até 2000, final do milênio. Em 2004 novo pico, com valor de US$ 23,80. Desde então temos uma estabilização com média em torno de quase US$ 20,00. Em 2016 ficamos em US$ 17,90. Em 2017 ficou parecido.
Em relação ao comércio exterior mundial, não tivemos coisa muito diferente. Em 1951 apresentamos média de 2,3% das transações internacionais. Em 1965 participamos com apenas ínfimos 7,6% do que o mundo transacionou. Desde então, tivemos médias desde 0,8% até 1,45% em 2011. Hoje estamos em torno de 1,0%.
Assim, grosso modo, podemos cravar que nosso histórico de comércio exterior é de cerca de 20% do nosso PIB e, aproximadamente, 1,1% do mundial. Muito pouco para um país com nossas potencialidades. Considerando tudo que temos, deveríamos estar próximos à China. Que no final dos anos 1970, quando mudou seu sistema econômico e abraçou o capitalismo e o comércio exterior, era menor que o nosso, e atingiu 11% do comércio mundial. Hoje somos 10% do que eles são.
No mínimo, para sermos coerentes conosco, teríamos que ter um comex de cerca de 3%. Que é mais ou menos o que representamos para o mundo em termos de economia, população e território.
E, pior de tudo, o que explica isso nem é um mistério que deve ser estudado. É apenas a desconsideração com aquilo que é a melhor forma de desenvolvimento de um país. Qualquer um. Quando se volta ao comércio exterior, encontra-se lá fora um mercado mais de 30 vezes o nosso. Tanto considerando a população efetiva, nominal, quanto consumidora de fato.
Claro que não é tudo, mas, isso explica boa parte do nosso fracasso econômico. Ter atenção apenas com nosso mercado interno. Que é diminuto, talvez uns 15%-20% da nossa população. Não mais que isso considerando todas as condições que temos para consumo. Enorme desemprego, apenas 15% da nossa população com carteira assinada, bolsa-esmola, média salarial no país de pouco mais de R$ 2.000,00 etc.
Assim Brasil, governo, empresas, precisamos, antes tarde do que nunca, acordar para o comércio exterior. Olhá-lo com o carinho que merece, e que já fez desenvolver dezenas de países. A relação de desenvolvimento dos países com o comércio exterior é direta. Quem o pratica se desenvolve, quem não o faz fica a ver navios.
Mas, claro, não depende apenas de termos mercadorias, de serem boas e adequadas ao mercado externo, ter bom preço etc. O comércio exterior é feito de muito mais coisas do que isso.
Temos que cuidar da nossa infraestrutura e matriz de transporte, que são horríveis, das piores da Via Láctea, considerando as condições que temos e pelo nosso nível de desenvolvimento e de sermos considerados um país emergente (sic).
Também reduzirmos nossa carga tributária, que faz nossos produtos serem mais caros. Como exemplo, na média geral, nossa produção de mercadorias é 23% mais cara que a dos EUA. Incompreensível, quando sabemos que eles têm uma renda per capita de quase US$ 60,000.00 enquanto a nossa patina em torno de US$ 9,000.00.
Em especial nossos profissionais, que se percebe que pouco sabem. Pouco se estuda, pouco se lê, acreditando que conhecimento cai do céu com a chuva. Não, não cai, é preciso ler, estudar, aprender, analisar, saber como as coisas funcionam.
Para pararmos de ter que dizer que nosso comex não está preparado quanto a profissionais. Que uma minoria, bem minoria, sabe exatamente o que está fazendo, se ajusta a qualquer situação de desconforto e vai em frente. E uma maioria absoluta apenas faz, e a coisa vai até o primeiro obstáculo. Aí para tudo. E é bom que pare, pois, se for alguém com parcos conhecimentos, tiver atitude, e resolver ir em frente, arrisca-se a estragar tudo e quebrar uma empresa.
Precisamos que o Brasil, governo, empresas, profissionais entendam que o desenvolvimento primário só ocorre com o comércio exterior. Atingindo-se então um bom resultado, qualidade e barateamento dos produtos pela economia de escala, chegando a um bom PIB e renda per capita, emprego suficiente, aí sim, o mercado interno terá condições de alavancar o desenvolvimento.

Autor(a): SAMIR KEEDI
Bacharel em economia, professor da Aduaneiras e universitário de MBA, especialista em transportes e logística internacional, consultor e autor de diversos livros em comércio exterior, tradutor oficial para o Brasil do Incoterms 2000 e representante brasileiro para revisão do Incoterms 2010.

Data de publicação:28/02/2018

3 comentários:

  1. Italo Lucas
    Logística 4°semestre
    Noturno

    Inicialmente o Brasil deveria passar por uma reforma completa nos modos de transporte atualmente utilizamos estes meios de forma errada e isso impacta diretamente nossa a competitividade, e o custo final dos produtos exportados.
    O Brasil teria que passar por um processo de reformulação tributária para adquirir valores justos dos tributos cobrados , sendo que o cenário atual é totalmente o inverso cobram se tributações abusivas. Também deveria ser estudado a melhor maneira, de deixar nossa mercadoria com maior valor agregado só assim teremos maior margem de lucro . É inacreditável que nosso governo não querer inchergar que uma das melhores formas de ganhar espaço do comércio global é focando na exportação e infraestrutura logística e tendo preços mais competitivos, pois utilizando da forma correta, nosso país terá grande retornos financeiros.

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  2. Eduardo Mirabeti
    RA:8996305

    É fato que o nosso País esta mal governado com relação a tudo, concordo com o Italo Mendes quando ele cita que as exportações são muito importantes para o nosso crescimento no comércio global. Para exportarmos precisamos ter preço, para que outros países nos enxerguem como possibilidade de negócio, por que de fato o que importa para todos eles são $$$$, e com nossos impostos altos, não teremos como concorrer em preço com outros países. Por isso, temos que passar por várias reformas no nosso sistema, para que o nosso comércio cresça e consequentemente o nosso PIB suba, dando a nós uma melhor posição no mercado global.

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  3. Sábio Samir.
    Diariamente divulgassem números do nosso comércio, como se estivéssemos em pleno desenvolvimento.
    Com péssimas estradas, um sistema de logística ultrapassado. Falta de infraestrutura, que culminam em custo altíssimo incidindo na produto final.
    É necessário estudar o Comércio Exterior, é necessário discutir reformas para extinguir o Custo Brasil, e sair desse um 1% do comércio internacional.
    Um país que tem potencial para crescer não pode se contentar com números tão baixos.

    Daniella Brito
    R.A: 8347657
    4°Sem. Comércio Exterior

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