segunda-feira, 15 de julho de 2013
Varejo: o raro momento de estagnação
Mesmo considerando o período mais agudo de contágio da economia pela crise mundial em 2008/2009, não há exemplo nos últimos dez anos de uma sucessão de tantos meses em que o varejo no país permaneceu em uma condição de tão baixo crescimento como na primeira metade do corrente ano.
Se são consideradas as médias trimestrais da evolução das vendas reais com ajuste sazonal, o "varejo restrito" (que não considera veículos e autopeças e material de construção) teve o seguinte desempenho nos meses de janeiro a maio de 2013: 0,1%, -0,1%, 0%, 0% e 0,2%.
Esses resultados permitem avaliar como estagnação do crescimento a situação presente do varejo brasileiro. Os últimos dados do IBGE revelam ainda uma evolução nula das vendas reais em maio com relação ao mês anterior para o "varejo restrito" e recuo de 0,8% para o "varejo ampliado" (que leva em conta veículos e autopeças e material de construção), abortando a perspectiva favorável que o mês de abril trouxera com índices relativamente a março de, respectivamente, 0,6% e 1,4%.
Ou seja, o setor não vinha bem, piorou em maio e é provável que piore ainda mais com a queda de vendas decorrente das manifestações que se sucederam nas maiores cidades do país durante o mês de junho.
Há um resultado positivo em meio a esse quadro geral nada animador: o setor que mais vinha contribuindo para o fraco desempenho global do varejo, vale dizer, hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, voltou a ter aumento real de vendas (1,9%) interrompendo três meses seguidos de declínio (-1,4%, -2,1% e -0,3% em fevereiro, março e abril).
Isto pode estar sinalizando o fim de uma reestruturação do orçamento familiar imposta pela fortíssima elevação dos preços de alimentos (que chegou a 15% em bases anuais) ocorrida entre os meses finais do ano passado e o início desse ano.
Na recente evolução de seu ciclo de consumo, as camadas de menor renda que se agregaram ao mercado consumidor assumiram compromissos fixos a curto prazo com encargos de financiamento e com a aquisição de serviços (a exemplo, dentre outros, de plano de saúde e TV a cabo).
Para essas camadas, no entanto, o peso de alimentos no orçamento se mantém ainda elevado. Pois bem, o maior custo de alimentos levou a um doloroso ajuste na compra de bens, envolvendo o próprio setor de alimentos e bebidas além de outros setores como tecidos, vestuário e calçados, artigos farmacêuticos e de perfumaria, equipamentos de informática e comunicação e livros, jornais e papelaria.
As vendas de móveis e eletrodomésticos também sofreram com esse processo, porém de forma amortecida pelo incentivo fiscal concedido pelo governo (redução do IPI) na compra de certos bens duráveis.
Se de fato já passou o pior momento do impacto inflacionário sobre o orçamento das famílias - sobretudo as de menor renda - e o aumento de preços de alimentos desacelerou, há pelo menos uma razão para que a evolução do varejo seja melhor no segundo semestre.
No entanto, não devem ser deixadas de lado as tendências dos demais condicionantes do consumo que não parecem autorizar um exagerado otimismo para o resto do ano: o aumento do emprego e do rendimento médio da população perdem ritmo a cada mês, o crédito progride a passos muito lentos e a confiança do consumidor regride firmemente.
Júlio Gomes de Almeida é professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda
Fonte: Brasil Econômico
Por: Júlio Gomes de Almeida **
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